“A Flor da Felicidade” não é um filme sobre a pandemia, nem sequer se trata de uma produção posterior à descoberta do Covid-19. Foi, aliás, um dos momentos fortes do Festival de Cannes de 2019, tendo valido a Emily Beecham o prémio de melhor actriz . Em qualquer caso, é um facto que as suas ressonâncias simbólicas são intemporais, no limite envolvendo as relações entre ciência, política e sociedade civil.
Estamos perante um curioso cruzamento de drama e fábula de ficção científica.
Realizado pela cineasta austríaca Jessica Hausner, “A Flor da Felicidade” é uma bela confirmação da singularidade do seu trajecto. Vale a pena recordar que a sua filmografia inclui títulos tão diversos como o drama intimista “Lourdes” e essa magnífica evocação romântica do escritor Heinrich von Kleist que é “Amor Louco” .
Além do mais, como se prova, é possível criar um ambiente de prospecção do futuro, digno das heranças mais nobres da ficção científica, sem ceder à facilidade de multiplicar efeitos especiais mais ou menos redundantes e ruidosos.