O sol já perdeu a guita, mas em terras do Minho ainda racha as pedras. Ao final da tarde, operários juntam-se no café da Bela, no centro de Joane, para refrescar a goela, enquanto picam tiras de bucho ou de fígado de cebolada. O sino toca, anunciando uma morte. O cangalheiro entra e fixa num placard a foto de mais alguém que partiu. Manuel Couto, 62 anos, acompanha com olhar ziguezagueante o ritmo de quem entra e sai.
A mãe de Manuel – uma entre tantas tecedeiras da zona, que acreditava que um futuro melhor apenas se encontrava no Além – fazia, a bem ou a mal, com que o pequeno cumprisse as suas obrigações religiosas. Com mais dois irmãos, este tinha feito da casa paroquial uma quinta da família. Os três vinham da família Piairo, gente pobre dos arredores de Guimarães. O pai, tamanqueiro, e a mãe, tecedeira, não tinham visto melhor caminho para os filhos do que o seminário, e eles souberam aproveitar.
A meio da década de 70, o 25 de Abril trazia a liberdade. Apesar das diferenças de opinião, disso poucos duvidavam. Entre os resistentes às mudanças, as gentes do Minho – incendiadas pelo célebre cónego Melo, ligado ao MDLP, um grupo bombista de extrema-direita – pintavam a manta. Por vezes, de sangue. Manuel tinha outras ideias. Formara uma associação que agregava jovens de ar sério e conspirativo.
Custódio vivia a sua grande primeira experiência espiritual, tremiam-lhe as pernas e a voz. O sacerdote abriu então a portinhola e exigiu que entrasse e se ajoelhasse entre as suas pernas. As mãos movediças percorriam o corpo do menino: «Com o tempo, fui-me apercebendo que aquilo não era normal e dava-lhe palmadas nas mãos sempre que avançava. Não deixava que me tocasse».
Assaltado por temores, por uma sensação iminente de catástrofe, Duarte mal conseguia pregar olho. Não se atrevia a mexer-se. Prendia a respiração para que ninguém desse por ele: «Só recebíamos visitas dos familiares de 15 em 15 dias. Saí logo na primeira vez que os meus pais me foram ver. Nunca lhes expliquei a verdadeira razão. Disse apenas que percebera que não tinha vocação».Vinte e nove de agosto.
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