Quando nos despedimos, não sabia que nunca mais veria meu avô. Tinha visitado ele em sua casa, no final de fevereiro. Assim que os casos de Covid-19 começaram a se alastrar, passamos a nos falar por telefone - com mais frequência na segunda metade de abril, quando ele passou a manifestar alguns sintomas da doença.
Chegou consciente, mas, dada a gravidade, os médicos optaram por sedá-lo e entubá-lo. Ele jamais acordaria. Morreu no começo da manhã da terça-feira seguinte. O próximo passo era a funerária, em cuja sala só um membro da família podia entrar por vez. Enquanto meu tio era atendido, aproveitei para ligar para familiares, amigos e cuidadoras; ouvir algumas vozes embargadas e outras de consolo. Na sala de espera, um cartaz explicava o que já sabíamos: não haveria velórios para vítimas de Covid-19, e as outras despedidas deveriam durar uma hora, no máximo.
Dessa forma, fui até a saída do necrotério e, como não custava nada perguntar, pedi para ver o corpo. O funcionário da Prefeitura me advertiu de imediato: isso é contra todas as normas estabelecidas, o risco é enorme, o corpo não passa por preparação nenhuma, sai do hospital já coberto por duas mortalhas. A prefeitura exige a colocação de uma terceira, antes de o caixão ser lacrado. Ninguém vê o corpo.
Mas a bondade, o carisma que arrebatava até completos desconhecidos, escondia um aspecto, digamos, interessante da personalidade do seu Cyro.Contador aposentado, ele nutria um certo fascínio pela morte. Certo dia, ele me contou como, ainda moleque, na Catanduva dos anos 40 de sua adolescência, se escondeu na sala de um necrotério pra acompanhar uma autópsia.
Uma vez no crematório da Vila Alpina, o motorista entregava a documentação para alguém do administrativo, quando minha tia perguntou se não poderia ver o caixão, pelo menos uma vez. O motorista me indicou um senhor de camisa polo azul turquesa, alguns metros adiante, atrás de quem eu corri brevemente e gritei. Pedi a autorização, que foi concedida.
É enquanto acontece com outra pessoa tudo bem segue o egoísmo,mas quando acontece perto dói.
Meus sentimentos e com certeza ele está num plano melhor 🙏
😢
Só mais um CPF... Só não pode 'morrer' CNPJ
O presidente falaria 'E daí?'
Brasil Últimas Notícias, Brasil Manchetes
Similar News:Você também pode ler notícias semelhantes a esta que coletamos de outras fontes de notícias.
Fonte: RevistaISTOE - 🏆 16. / 63 Consulte Mais informação »
Fonte: VEJA - 🏆 5. / 92 Consulte Mais informação »
Fonte: VEJA - 🏆 5. / 92 Consulte Mais informação »
Fonte: g1 - 🏆 7. / 86 Consulte Mais informação »
Fonte: VEJA - 🏆 5. / 92 Consulte Mais informação »