De Timor a um Interrail, como Zé Pedro se fez rock’n’roll

Para Diogo Varela Silva, não é este o espírito certo para se partir para um filme. Ainda assim, foi inevitável: mergulhar nos arquivos, nas memórias daqueles que eram mais próximos de Zé Pedro, o eterno guitarrista de Xutos e Pontapés, para nessa viagem em que encontrou um documentário fazer o luto pelo amigo que em criança, na casa da sua avó, Celeste Rodrigues, começou por tratar por tio.

Era com ele vivo. Este filme nasce de uma premissa normalmente errada para se fazer um filme, eu sei, que é uma vontade de homenagear um amigo. Geralmente nunca é bom ou não devia ser esse o ponto de arranque para se fazer um filme…Não sei… Acho que condiciona muitas coisas. Tive o cuidado de tentar que não ficasse uma coisa muito lamechas porque ao fim e ao cabo estou a fazer um filme sobre alguém que me é muito querido e que deixa saudade.

Ficou a noite toda, a noite toda a olhar. O filme vai agora a Timor, o Zé Pedro volta agora a Timor. Acho que dos sítios todos por onde o filme já passou este era o que ele mais gostava.Adoravam. O irmão já nasceu lá, portanto a presença em Timor era muito forte. E as recordações que têm de viverem ali, de estarem ali na praia. Ele contava-me as histórias, adorava Timor — e foi aliás bastante ativo na luta por um Timor livre.

Há duas coisas que resgatámos, que digitalizei para o filme, coisas que estavam perdidas e que a maior parte da família não conhecia, coisas que estavam em Super 8…… e as imagens no casamento de uma tia com ele ainda muito miúdo. Essas imagens estavam perdidas porque já ninguém vê Super 8. Alguns tinham visto e eu sabia que existiam e fomos à procura, tipo «está em casa de quem?».

Ele era teimoso, mas nele até isso era giro. E se não fossem a determinação e a teimosia dele se calhar os Xutos nunca tinham sido os Xutos e a vida dele não tinha sido o que foi.O mais difícil aqui nem eram as coisas do Zé Pedro, porque dessas sabia mais ou menos o que havia e o que queria.

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