Rússia reitera que não quer derrubar o Governo ucraniano

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Contrariando as declarações de Vladimir Putin quando invadiu a Ucrânia em fevereiro, o porta-voz do Kremlin afirmou que Moscovo "não pretende que a operação especial mude o Governo" ucraniano. Referindo que o presidente russo já tinha deixado esta questão clara, Dmitry Peskov negou que um dos objetivos fosse libertar os ucranianos do "fascismo".

O porta-voz do Kremlin afirmou, esta terça-feira, que Moscovo não planeia fazer cair o Governo de Volodymyr Zelensky e instalar um executivo da sua confiança.

No início da guerra, este era um dos objetivos declarados de Putin, que afirmava que queria libertar os ucranianos de um regime fascista.

Citado pela Sky News, Dmitry Peskov disse que a Rússia "não pretende que a operação especial mude o Governo na Ucrânia". Segundo o porta-voz do Governo russo, o próprio presidente já tinha falado sobre o tema.

Em fevereiro, quando a Ucrânia foi invadida pelas forças russas, receava-se que a vida do presidente ucraniano estivesse em perigo, com as ameças russas de derrubar o Governo, embora este se tenha mantido em Kiev.

Mas esta terça-feira Peskov recuou nessas declarações e garantiu que Putin "já falou sobre isso".

Nas primeiras semanas do conflito, a Rússia enumerou uma série de objetivos para levar a cabo a invasão ao território ucraniano, incluindo ajudar os falantes de russo na região leste de Donbass e lutar contra o chamado "enclave anti-russo".


O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, já tinha dito no início da invasão que a mudança de regime na Ucrânia não era o objetivo, embora posteriormente tenha feito declarações em sentido contrário.

"Definitivamente ajudaremos o povo ucraniano a libertar-se do regime que é absolutamente antipovo e anti-história", disse Lavrov em julho passado.
Queda de Putin pode ser pior
A mudança de regime em Kiev era um dos objetivos invocados por Vladimir Putin para invadir a Ucrânia a 24 de fevereiro. Mas agora as declarações de Peskov representam um recuo e uma admissão tácita de que o Kemlin admite não ter condições nesta fase do conflito para cumprir esse desígnio.

A insatisfação parece estar a aumentar na Rússia com a questão do conflito na Ucrânia e alguns especialistas consideram que Moscovo pode perder para Kiev.

De acordo com Owen Matthews, o presidente russo não será capaz de sobreviver politicamente a uma "catástrofe militar no terreno". Contudo, acredita que a alternativa a Putin é "mais assustadora" do que o atual líder.

"O que não queremos, o que é ainda mais perigoso do que a situação atual, ainda mais perigoso do que Putin, é uma situação de revolução dentro da Rússia onde Putin cai", disse à Sky News.

Segundo o mesmo, a oposição do presidente russo inclui "nacionalistas que são realmente muito mais agressivos do que o próprio Putin". Para Matthews, Putin começou a guerra porque estava a dar muitos passos em frente na diplomacia e achou, na altura, que derrubar o Governo ucraniano seria uma pequena "caminhada", mas não se preparou para um guerra prolongada.
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