Ano de 2021 foi “o mais anti-semita da última década”

Relatório de duas organizações judaicas fazem aviso no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Na ONU, Guterres lamenta aumento da “forma mais antiga de ódio e preconceito” no mundo.

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Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto assinalado em Skopje, Macedónia do Norte GEORGI LICOVSKI/EPA

O aumento de ataques contra judeus em todo o mundo fez de 2021 “o ano mais anti-semita da última década”, com mais de dez incidentes em média por dia, disseram a Organização Sionista Mundial e a Agência Judaica. “Mas ao mesmo tempo, foi um ano em que nenhum judeu foi assassinado por motivos anti-semitas em nenhum lugar do mundo.”

O relatório foi divulgado no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, quando se assinala o aniversário (de 77 anos) da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polónia ocupada pelos nazis, pelo Exército Vermelho.

O relatório das duas organizações, ambas com sede em Israel, diz que os principais ataques foram de vandalismo, destruição e profanação de monumentos, e ainda a propaganda anti-semita divulgada através das redes sociais. Houve ainda ataques a pessoas com violência física e verbal, que representaram menos de um terço dos incidentes em 2021, segundo o relatório, que se congratula com o facto de não ter havido mortes por anti-semitismo.

O relatório nota também o uso, por manifestantes contra as medidas de confinamento para prevenir a covid-19, de símbolos do Holocausto como a estrela amarela que os nazis obrigaram os judeus a usar, muitas vezes acompanhada da palavra “não vacinado” – uma “trivialização do Holocausto”.

Muitos países europeus levantaram os confinamentos, o que fez com que o anti-semitismo que, no ano anterior, se concentrou sobretudo online, “voltasse à ao espaço público de novo”.

Também se espalharam teorias da conspiração que culpam os judeus por espalhar a pandemia para controlar o mundo, para ganho económico, ou outras razões, lamenta o relatório.

As duas organizações dizem ainda que o conflito de Maio entre Israel e o Hamas foi outros dos factores por trás de ataques online a judeus na Europa e na América do Norte.

A Europa é o continente em que mais se registam actos anti-semitas, com cerca de 50% dos casos.

Num inquérito divulgado pela Universidade Hebraica de Jerusalém sobre as percepções do anti-semitismo na Europa, uma maioria de israelitas (53%) espera que os judeus enfrentem ainda mais hostilidade na Europa no futuro. Os inquiridos apontaram ainda França (39%) e Polónia (33%) como os países mais problemáticos para os judeus na Europa, e a Alemanha num distante terceiro lugar (15%).

Marcando o dia em Nova Iorque, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lamentou o aumento do anti-semitismo, “a forma mais antiga de ódio e preconceito”, no mundo. Homenageou os 6 milhões de judeus que morreram no Holocausto e lembrou ainda as vítimas sinti e roma e “as outras inúmeras vítimas de um horror sem precedentes de crueldade calculada”.

“O Holocausto definiu as Nações Unidas”, disse. O próprio nome da organização “foi cunhado para descrever a aliança que lutava contra o regime nazi e aliados”. A ONU, disse ainda Guterres,​ deve “estar sempre na linha da frente da luta contra o anti-semitismo e todas as outras formas de intolerância religiosa e de racismo”.

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