Um novo estudo preliminar que ainda aguarda revisão pelos pares, realizado por investigadores suecos, concluiu que cerca de metade das pessoas que ficaram infetadas com o novo coronavírus durante a primeira vaga da pandemia, no início de 2020, podem ter danos prolongados e até mesmo permanentes no olfato, sendo que a alteração ou perda deste sentido começou a ser um sintoma relatado pelos doentes a partir de abril desse ano. Um ano depois, este sintoma já era um dos mais comuns.
Investigadores do Instituto Karolinska, em Estocolmo, realizaram testes a uma centena de profissionais de saúde na Suécia, que eram testados regularmente e tinham sido infetados com Covid-19 durante a primeira vaga e as suas primeiras conclusões referem que, 18 meses após a recuperação da doença, apenas 4% das pessoas perderam completamente o olfato, mas um terço dos voluntários revelou uma capacidade reduzida de detetar odores e quase metade relatou sinais de distorção do olfato.
Contudo, a equipa, que analisou, também, um grupo de voluntários que testaram negativo para anticorpos contra a Covid-19, deu conta de que um quinto destes participantes revelou deficiências semelhantes no olfato. Apesar de ser um valor muito mais baixo, estes resultados em pessoas que, supostamente, não testaram positivo ao vírus significam que os distúrbios no olfato já eram geralmente comuns antes da pandemia de Covid-19. Os investigadores perceberam ainda que a maioria das pessoas que tinham tido a infeção e revelado menor capacidade olfativa não tinha perceção disso.
Apesar de os cientistas tendem acreditarem que a perda de olfato e de paladar acontecem menos com a recente variante Ómicron – um dos maiores casos estudados envolveu 111 pessoas num restaurante em Oslo, Noruega, que se reuniram para uma festa de Natal e que concluiu isso mesmo – Johan Lundström, que liderou o novo estudo, afirma ainda não existirem dados suficientes que provem que esta variante é menos prejudicial para o sistema olfativo.
De acordo com o investigador, uma perda de olfato grave e duradoura pode aumentar a propensão de se vir a ter depressão e até a alterar a sua dieta para pior, adicionando “mais açúcar e gordura” ou tendo um “desejo maior em ingerir fritos devido à sua textura, tudo para sentirem o prazer de comer”, explica, citado pelo The Guardian. Existe, contudo, forma de treinar o sistema olfativo para se reduzir as suas deficiências, mesmo que não se consiga obter o mesmo nível de antes da infeção por Covid-19.
Há quem recupere rapidamente o olfato depois de ultrapassar a doença, mas também existe quem nunca mais volte a “ser o mesmo”. Um estudo publicado em janeiro de 2021 no Journal of Internal Medicine analisou a prevalência da perda do olfato e a sua recuperação em mais de 2500 doentes, desde os mais ligeiros aos mais graves, em 18 hospitais europeus, e concluiu que a perda deste sentido prevalece mais nos doentes ligeiros.