Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos de novo alvo de mísseis houthis

por Inês Moreira Santos - RTP
O porta-voz militar houthi, Yahya Sarea, a fazer uma declaração televisiva sobre os ataques a cidades sauditas e dos Emirados Árabes Unidos. Yahya Arhab - EPA

Os Emirados Árabes Unidos intercetaram, esta segunda-feira, dois mísseis balísticos que tinham Abu Dhabi e a Arábia Saudita como alvo, segundo a agência de notícias estatal. É a segunda vez, no espaço de uma semana, que os rebeldes houthis do Iémen atacam a região, tendo já ameaçado intensificar os ataques.

Esta segunda-feira de manhã, a WAM informou através do Twitter que tinham caído fragmentos de mísseis em Abu Dhabi, sem causar vítimas ou danos.


"As defesas aéreas dos Emirados Árabes Unidos intercetaram e destruíram dois mísseis balísticos lançados pelo grupo terrorista houthi" às primeiras horas da manhã, anunciou o Ministério da Defesa de Abu Dhabi

Embora inicialmente ninguém tenha reivindicado a responsabilidade pelo ataque, este ocorreu uma semana após os rebeldes houthi terem assumido um ataque à capital dos Emirados que causou três mortos e seis feridos.

"Os restos dos mísseis balísticos intercetados caíram em áreas separadas ao redor de Abu Dhabi", declarou o Ministério da Defesa dos Emirados Árabes Unidos num comunicado transmitido pela agência de notícias estatal WAM, acrescentando que "está pronto para lidar com quaisquer ameaças e tomar as medidas necessárias para proteger o Estado".

Vídeos partilhados nas redes sociais mostram o céu sobre Abu Dhabi iluminado antes do amanhecer desta segunda-feira, com pontos de luz que indicam ser mísseis balísticos, segundo a Associated Press.

O disparo dos mísseis interrompeu o tráfego no Aeroporto Internacional de Abu Dhabi por pelo menos uma hora.

Horas antes, no domingo à noite, a Arábia Saudita informou que tinha caído, no sul do território, um míssil balístico houthi, provocando dois feridos e danificando oficinas e veículos numa zona industrial.

Em resposta, a coligação militar à qual pertencem os EAU e o reino da Arábia Saudita anunciou que destruiu uma "plataforma de lançamento de mísseis balísticos na região de Al Jawf", no norte do Iémen.
Rebeldes houthis ameaçam intensificar ataques
Entretanto, os rebeldes iemenitas reivindicaram o ataque e confirmaram ter como alvo a base aérea de Dhafra, em Abu Dhabi, assim como locais “vitais e importantes” na região do Dubai. As autoridades dos EAU não relataram qualquer ataque ao Dubai, mas Yahya Saree, porta-voz militar do exército houthi afirmou, num comunicado, que o ataque desta segunda-feira “atingiu os objetivos com alta precisão”.

Os rebeldes iemenitas houthi, apoiados pelo Irão, ameaçaram ainda intensificar os ataques contra os Emirados Árabes Unidos.

"Estamos prontos para intensificar as nossas operações (...) e responder à escalada com escalada", disse Yahya Saree, numa declaração televisiva.

Os Emirados Árabes Unidos pertencem a uma coligação militar, liderada pela Arábia Saudita que apoia o governo do Iémen na guerra contra os rebeldes houthis há sete anos - um conflito que já matou dezenas de milhares de pessoas, obrigou à deslocação de outros milhões e originou o que as Nações Unidas descrevem como o pior conflito e consequente crise humanitária do mundo.

Os novos ataques contra os Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita ocorrem após um bombardeamento atribuído à coligação contra uma prisão controlada pelos rebeldes no norte do Iémen, na sexta-feira passada, na qual morreram pelo menos 70 pessoas.

O crescente número de ataques de rebeldes houthis contra os Emirados, um país rico na Península Arábica e com reputação de ser um oásis pacífico no Médio Oriente, abre um novo capítulo nesta guerra que deflagrou em 2014.
EAU alvo do Irão

Depois do ataque da semana passada, que envolveu mísseis balísticos, drones e mísseis de cruzeiro, o desta segunda-feira “parece menor”. De acordo com os analistas do Jerusalem Post, esta tentativa de atacar Abu Dhabi mostra que “os houthis acreditam que têm o direito de expandir a guerra para os Emirados Árabes Unidos”, uma vez que este país é “um importante centro de comércio e turismo internacional”.

Os rebeldes houthis, segundo os especialistas, pretendem mostrar que “podem interromper o tráfego aéreo nos Emirados Árabes Unidos e interromper a normalidade”.

“Como os Emirados Árabes Unidos se esforçaram para fazer parte de um grupo estabilizador de países, agora estão a ser alvo do Irão”, explicam.

Já o analista principal do MENA, Torbjorn Soltvedt, considera que há um “dilema difícil que se põe agora às autoridades dos Emirados”.

“Estão cada vez mais ameaçados pelos houthis, mas ao mesmo tempo tivemos uma campanha militar bastante extensa no Iémen e, em vez de reduzir as ameaças de mísseis aos Estados do GCC, o que vimos é um aumento das ameaças”, disse Soltvedt à Al Jazeera.

E se os Emirados Árabes Unidos decidirem atacar os houthis de forma mais agressiva, explicou ainda, isso vai “aumentar ainda mais as tensões e desencadear uma espiral”.

“Terá de ser algo que vá além da postura militar puramente defensiva. Terá de envolver diplomacia, esforços para aumentar a resiliência da infraestrutura civil e energética crítica no país”, acrescentou Soltvedt.

A 17 de janeiro, os rebeldes iemenitas reivindicaram a responsabilidade por um ataque com drones e mísseis a uma infraestrutura petrolífera e ao aeroporto de Abu Dhabi, tendo morrido três pessoas. Posteriormente, ameaçaram lançar novos ataques contra os Emirados, apelando aos civis e às empresas estrangeiras que evitassem "lugares vitais" no país.

Em mais de sete anos de guerra, todas as partes envolvidas no conflito no Iémen foram acusadas de "crimes de guerra" pela ONU.

A coligação, à qual são atribuídos vários "erros" nos seus ataques, reconheceu os "equívocos" e acusou os rebeldes de usarem os civis como escudos humanos. Segundo a ONU, o conflito deixou já 377 mil mortos e levou uma população de 30 milhões de pessoas à beira da fome.
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