Os líderes dos partidos com assento parlamentar, à exceção de Rio e Ventura, voltaram na manhã desta quinta-feira a juntar-se, desta vez para o debate nas rádios. Depois a campanha para as eleições legislativas será retomada a todo o gás e, para alguns, a bordo do comboio.
O debate ao minuto:
João Cotrim Figueiredo começou o debate a falar sobre a quantidade de ministérios. “O número de ministérios ou secretarias de Estado não é indicação da importância dos temas. Nos Governos de António Costa, o facto de terem sido Governos particularmente anafados, em especial nesta sua última emanação a partir de 2019, é já um sinal de pouco foco e sentido de urgência”
Sobre a maioria absoluta pedida pelo Partido Socialista (PS), o líder da Iniciativa Liberal insistiu que Costa não está a ser claro com os portugueses. Questionado sobre o número de Ministérios, disse que nunca pensou muito nisso.
Também Inês de Sousa Real, do PAN, defendeu uma reformulação dos ministérios, “dando prioridade à emergência climática”. O PAN quer criar novos ministérios, juntar as Alterações Climáticas à pasta da Economia e criar o Ministério do Ambiente, Biodiversidade e Proteção Animal. “Mais do que estarmos a falar do desdobramento dos ministérios, têm que ser eficazes“, disse.
Rui Tavares arrancou no debate a lamentar a ausência de Rui Rio, líder do PSD, e André Ventura, líder do Chega, tal como fez Inês de Sousa Real. A propósito de ministérios, o candidato do Livre defende a audição dos ministros e secretários de Estado antes de tomarem posse, um sistema “à europeia”. A audição permitiria “conhecer as intenções dos ministros e secretários de Estado”.
Depois de ter chegado atrasado ao debate, António Costa começou por ser questionado sobre a hipótese de ter um Governo “à Guterres”, ou seja, minoritário e que negoceia diploma a diploma. É “alternativa à maioria absoluta”, admitiu Costa.
Em representação do PCP, João Oliveira disse que as pessoas têm pedido convergência aos comunistas. Questionado sobre uma possível participação num Governo, o deputado respondeu que dependeria de “muita coisa”, especialmente “das políticas do Governo”. O PCP não descartou a hipótese de integrar Governo: “A força da CDU conta sempre para travar aquilo que é negativo”.
Por seu turno, a candidata do Bloco de Esquerda lembrou que, em 2019, o partido propôs um contrato para o país que permitisse continuar o trabalho que começou em 2015. Catarina Martins entrou a atacar António Costa: “Para que quer a maioria absoluta? Para manter na legislação laboral as mesmas normas, para continuar a recusar que haja valorização das carreiras no SNS que nos permita fixar profissionais, continuar a negar uma parte dos pensionistas o fim do duplo corte nas pensões.
Francisco Rodrigues dos Santos aproveitou o arranque para enumerar as prioridades dos centristas. Questionado sobre a necessidade de um reforço que o partido defende para a Defesa, o líder do CDS não respondeu. “Governos podem ser eficientes se fossem mais curtos“, apontou, acrescentando que no Executivo de Costa os Ministérios da Agricultura, da Justiça e da Administração Interna ficaram esquecidos.
“Área da Defesa Nacional é um tema muito caro ao CDS”, vincou Rodrigues dos Santos, defendendo que cabe à direita apoiar as forças militares e de segurança.
António Costa insistiu na maioria absoluta: “Ouvindo todos os partidos, percebe-se porque é preciso uma maioria absoluta”. “São uma maioria de desgoverno, não são uma maioria de Governo”, afirmou. O papel do Presidente da República (PR) chegou ao debate.
João Cotrim de Figueiredo quer que o Presidente da República seja mais exigente com o Governo. De acordo com Francisco Rodrigues dos Santos, “parece que (António Costa) vai sentar o PR no Conselho de Ministros”, como “uma espécie de padrinho”.
Sobre a necessidade de um acordo escrito, o PCP afirmou que “o papel passado é uma questão de encenação”. João Oliveira sublinhou que, em 2015, as medidas negociadas foram muito além do que estava no papel.
Inês de Sousa Real disse que os portugueses não queriam uma crise política em cima de uma crise socio-económica. A líder do PAN considera que os partidos atiraram “a toalha ao chão” ao não viabilizarem o Orçamento do Estado para 2022.
O Livre quer “evitar uma maioria de direita”. E isso só se consegue, de acordo com Rui Tavares, com um voto num partido de esquerda. “Maneira mais certa de evitar uma maioria de direita é votar à esquerda”, disse. Sobre o papel do Presidente da República, o candidato afirmou que Marcelo facilitou a vida a Costa ao não exigir um acordo escrito, que “daria sempre uma legislatura encurtada”. Rui Tavares criticou ainda a maioria absoluta, pedida pelo socialistas, por considerar que “compromete a pluralidade” do Parlamento.
Catarina Martins lembrou que, em 2015, as medidas que constavam no acordo entre as esquerdas foram alcançadas e que a Geringonça conseguiu ir mais além. O que não aconteceu em 2019, referiu a líder bloquista, lembrando o diploma dos cuidadores informais. Em relação ao papel do PR, disse: “Corretamente, o Presidente da República ficou fora da campanha eleitoral”.
António Costa respondeu aos partidos de esquerda: criticou as palavras de João Oliveira, afastando a ideia de bloco de central, e lembrou que o BE já estava, “em plena crise pandémica”, fora da solução de Governo.
Energia nuclear
O Livre também não escapou nas críticas do secretário-geral socialista, ao referir que o partido admite estudar o recurso à energia nuclear. Rui Tavares indignou-se perante as declarações de Costa.
“O Livre diz que se deve seguir o desenvolvimento de novas tecnologias nucleares ou outras tecnologias como microreatores, sendo que aí somos mais receosos e cautelosos”, afirmou Rui Tavares.
O candidato disse que não entende qual é a linha vermelha de Costa. “A linha vermelha dele é com o seu próprio Governo. Porque se é contra, tem que demitir o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior”.
Por sua vez, o líder socialista disse que o Livre admite considerar a solução para responder à descarbonização e às energias renováveis.
Lei de emergência sanitária
Quanto à lei de emergência sanitária, Costa disse: “É possível aperfeiçoar a legislação, entre a lei de emergência da saúde pública e a lei de bases da proteção civil para não ser necessária uma revisão constitucional”.
João Oliveira recusou revisões da Constituição e alterações a leis fundamentais para viabilizar uma lei de saúde pública. O BE considera também que não são necessárias alterações à Constituição.
A líder do PAN, Inês de Sousa Real, defendeu que a “ausência de uma lei sanitária pode trazer alguns prejuízos”. “Não tínhamos mecanismos para reagir à crise” pandémica, lembrou a porta-voz, acrescentando que o PAN apoia uma revisão constitucional.
Cotrim de Figueiredo opõem-se à lei de emergência sanitária, mesmo admitindo que não conhece a proposta. “Não houve uma medida eficaz que tenha ficado por tomar”, disse.
O líder da Iniciativa Liberal voltou atrás no debate para responder a uma declaração de Rui Tavares, acusando-o de “arrogância”. “Já não há saco”, atirou, argumentando que o candidato do Livre disse que um dia haverá uma maioria de direita tão legítima como as de esquerda
“Haverá um dia uma maioria de direita tão legítima como as de esquerda. Porquê? Há votos de portugueses que valem menos do que outros? Francamente já não há saco para a arrogância da esquerda. Ninguém pode dizer num debate, com cara séria, que há maiorias mais legítimas do que outras”, afirmou.
Sobre lei de emergência sanitária o líder do CDS disse que não nega “uma ciência que desconhece à partida.” No entanto, está contra qualquer mecanismo que condicione as liberdades e garantias dos cidadãos. Francisco Rodrigues dos Santos falou ainda da energia nuclear e picou a esquerda: “não se conseguem entender”. “A verdade é que ninguém quer casar com António Costa”.
Educação
Já sobre a Educação, o CDS quer apoiar financeiramente os professores deslocados. Trouxe também ao debate a saúde mental:
“É importante, no quadro da saúde mental, reforçarmos os psicólogos, tanto no SNS como fora dele. Criar sistemas de monitorização e controlo dentro das salas de aula. É preciso que haja uma integração, para que quem precisa de ajuda seja acompanhado de forma especializada“, afirmou Rodrigues dos Santos.
O Bloco de Esquerda começou a intervenção a criticar o líder do CDS por ter utilizado uma frase de Jair Bolsonaro. Sobre os professores, Catarina Martins admitiu que ao longo dos anos, as carreiras dos professores têm vindo a ser desvalorizados.
“Precisamos de olhar para as escolas e decidir que vamos investir”, acrescentando que Portugal gasta “menos de 10% do PIB nas áreas de conhecimento”.
A líder bloquista considera necessário um rejuvenescimento do corpo docente: “Terá um custo, mas custo maior é ter os alunos sem professores”.
“Ao longo dos anos, as carreiras dos professores foram sendo desvalorizadas. Têm carreiras e salários que nos devem envergonhar. Precisamos de olhar para as escolas e decidir que vamos investir”, sublinha, acrescentando que Portugal gasta “menos de 10% do PIB nas áreas de conhecimento”.
Por seu turno, o líder da Iniciativa Liberal admitiu que o país não está preparado para avançar com medida de empréstimos para os estudos para já, uma medida defendida pelo partido. Admitiu ainda que Portugal fez grandes avanços, nas últimas décadas, na área da Educação. Relativamente à saúde mental dos estudantes, a IL considera “que é um drama que tem de ser tratado”.
O Livre falou sobre as creches e sobre a atratividade da carreira de professor: “É possível e desejável integrar as creches numa rede de escola pública, temos de dignificar a profissão de professor, é preciso remunerar mais e fazer da profissão uma profissão desejável e entusiasmante, e criar um fundo de apoio ao estudante de ensino superior para ajudar nas bolsas e refeitórios”, sugere Rui Tavares.
O PAN, já no final, referiu que a Cultura tem ficado de fora dos debates. Sobre a Educação, disse que é necessário uma mudança de paradigma, defendeu a progressividade na carreira aos professores e uma compensação de acordo com a deslocação para as escolas longe dos locais de residência.
Por último, António Costa reconheceu que a “Educação é absolutamente central, a par da cultura e ciência”.
“Na educação deve alterar-se o modelo de contratação de professores. O investimento na cultura é crítico. Em 2026, temos uma meta de alocar 2,2% do PIB à ciência”, disse.
Sim ou não?
Os líderes partidários foram desafiados a posicionarem-se acerca de três temas – referendo à eutanásia, dia de reflexão e revisão do acordo ortográfico com “sim ou não”.
Referendo à Eutanásia
Todos os partidos disseram “não” a um referendo à eutanásia. Os partidos a favor da morte medicamente assistida consideram que não é matéria para referendo.
Dia de reflexão
O PAN disse “sim” ao dia de reflexão. O PCP considera que o dia “não existe”, assim como o BE. O PS não vê razões para mudar. CDS e Livre dizem não.
Revisão do acordo ortográfico
O PAN, IL, CDS e PCP responderam afirmativamente. O Livre considera que pode ser melhorado, mas não é prioridade. O BE lembrou que o próprio acordo admite revisão constante e Costa concordou.
Agenda dos candidatos
Sem muito tempo para pausas, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, segue logo para Évora, onde tem agendada uma ação de contacto com a população pelas 12:45 e, já durante a tarde, uma visita às obras de construção do novo hospital e ao reservatório do Espinheiro.
Depois de Évora, António Costa segue para Reguengos de Monsaraz, onde visita a cooperativa agrícola, e termina o dia com um comício em Santarém.
O presidente do PSD, que não vai estar em Lisboa para participar no debate, inicia em Bragança o quinto dia de campanha com uma ação de contacto com a população e comércio local, seguindo depois para uma ação semelhante em Vila Real, já da parte da tarde, onde participa também numa sessão temática sobre economia e finanças.
Na quarta-feira, Rui Rio justificou a decisão de falhar o debate, explicando que opta antes por passar por todos os distritos de Portugal Continental nesta campanha, mas disse estar disponível para participar à distância ou ser substituído por outro dirigente do PSD.
A caravana bloquista desce de Lisboa até ao sul do país e, às 16:20, a coordenadora do BE, Catarina Martins, tem viagem de comboio marcada com origem em Alcantarilha, Silves, e destino em Portimão, onde termina o dia com um comício.
João Oliveira, que substitui Jerónimo de Sousa na campanha da CDU, também vai andar sobre carris, mas numa zona diferente.
O dirigente comunista faz a viagem na linha do Oeste, entre o Bombarral e as Caldas da Rainha, e depois participa numa sessão pública sob o mote “Defender o ambiente. Mais justiça social”.
Já Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, escolheu a linha do Alentejo e segue de Lisboa para Beja, numa viagem dedicada ao tema da ferrovia.
Mantendo os transportes na agenda, continua depois no Aeroporto de Beja, com movimentos de cidadãos locais.
Depois do debate nas rádios, o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, segue diretamente para Leiria, onde começa mais um dia de campanha junto da população.
Da parte da tarde, tem prevista outra ação de contacto com os cidadãos em Coimbra e termina com uma visita às Festas da Fogaça, em Santa Maria da Feira.
Da parte da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo estará por Lisboa, com uma ação sobre “menos impostos, mais salários” e vai dedicar-se também à saúde, com uma reunião com a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, e a educação com uma visita à Escola Profissional da Pontinha. Ao final da tarde, tem ainda uma arruada em Telheiras.
André Ventura, do Chega, mantém o esquema habitual: uma arruada à tarde, desta vez em Mirandela, e um jantar-comício em Chaves.
Também a norte, mas não tanto, Rui Tavares, cabeça de lista do Livre pelo círculo eleitoral de Lisboa, encontra-se com representantes de estudantes da área da Saúde na Faculdade de Medicina do Porto.