A empresa Meta, ex-Facebook Company, detetou dezenas de contas falsas criadas em redes sociais pelos serviços secretos bielorrussos para incentivar uma crise migratória na fronteira do país com a Polónia e agravar tensões dentro da União Europeia.
“Estas personas fictícias publicavam críticas à Polónia, em inglês, polaco e curdo, incluindo fotografias e vídeos de guardas polacos a alegadamente violarem os direitos dos migrantes, e comparando o tratamento dado na Polónia aos migrantes com o de outros países”, refere o relatório.
Foram ainda removidas 31 contas de Facebook, quatro dos Grupos e quatro do Instagram, que seriam originárias da Polónia e que visavam dissuadir eventuais migrantes de sequer iniciar a viagem.
Os perfis removidos também falavam “das políticas polacas severas anti-imigração e atividade anti-imigrante neo-nazi na Polónia”, acrescenta o texto.
A investigação integra-se num esforço alargado e mais agressivo por parte do Facebook no encerramento de contas coordenadas de usuários reais que utilizam a plataforma para atividades prejudiciais de terceiros, incluindo influenciar eleições nalguns países.
A empresa tem estado a ser pressionada por advogados, empregados e reguladores para evitar o abuso dos seus serviços.
Novas regras
Os três países europeus que fazem fronteira com a Bielorrússia, Polónia,
Lituânia e Letónia, defendem as suas estratégias de empurrar os
migrantes sem previamente lhes conceder a oportunidade de pedir asilo à
luz do Direito Internacional. Apesar de alguns
migrantes terem embarcado em voos de repatriamento, o Ministério da
Administração Interna lituano afirmou que cerca de 10.000 migrantes
permanecem na Bielorrússia na esperança de entrarem na União Europeia.
“Até serem devolvidos aos seus países e origem através de voos a partir
de Minsk, permanece o risco de serem desviados para a Lituânia”, referiu
o Ministério.
Esta quarta-feira, 1 de
dezembro, entraram em vigor na Polónia e na Lituânia diversas medidas
para dificultar ainda mais a travessia da fronteira, vindo da
Bielorrússia.
A Polónia impôs nova
legislação a restringir a liberdade de movimentos perto de um troço de
três quilómetros junto à fronteira, após o terminus às 23h59 de 30 de
novembro de um decreto que impunha o estado de emergência.
Na
Lituânia, o Governo pediu ao Parlamento o prolongamento até 9 de
janeiro do estado de emergência em vigor e autorização de buscas a
“veículos suspeitos” na sua fronteira com a Polónia, a rota privilegiada
dos migrantes para seguirem viagem para a Alemanha.
A Letónia tem estado a reforçar com arame farpado a sua fonteira com a Bielorrússia.
Em
Bruxelas, a Comissão Europeia estuda o abrandamento das regras sobre
asilo para acelerar o processamento dos pedidos e as deportações, assim
como as leis sobre detenção.
Entalados
O KGB da Bielorrússia não comentou o relatório relativo às contas que lhe foram atribuídas.
O governo bielorrusso, liderado pelo presidente Alexander Lukashenko, tem sido acusado pela União Europeia de criar uma crise migratória na sua fronteira leste em retaliação e vingança por sanções impostas pela EU a Minsk, ao encorajar milhares de pessoas do Médio Oriente e de África a tentar entrar no território europeu através da Polónia e da Lituânia. O regime estará alegadamente a usar falsos pacotes de viagens incluindo acesso simplificado à Alemanha para atrair a Minsk milhares de migrantes, sobretudo no Iraque e na Síria. Uma vez na Bielorrússia, as pessoas serão encaminhadas até à fronteira polaca pelos serviços secretos e militares do país. A estratégia terá ainda o beneplácito de Moscovo.
O presidente bielorrusso recusa as acusações e contrapõe que é Bruxelas quem está a provocar a crise ao impedir a entrada dos migrantes.
Grupos de defesa de Direitos Humanos denunciaram a morte de 13 pessoas na zona fronteiriça e as condições deploráveis m pleno inverno a que estão a ser submetidos os migrantes, entalados entre os guardas bielorrussos que não os deixam regressar ao país e os guardas polacos que os impedem de prosseguir viagem.