Política

Afastados das listas das legislativas, críticos da direção do Bloco abandonam reunião contra “voto ilegal” que “rasga democracia interna”

Afastados das listas das legislativas, críticos da direção do Bloco abandonam reunião contra “voto ilegal” que “rasga democracia interna”
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Mesa Nacional do partido está reunida este domingo para votar programa eleitoral e listas de deputados ao Parlamento. Sensibilidade alternativa abandona encontro, “perante a intolerável e antidemocrática violação dos estatutos” a propósito da escolha da cabeça de lista à Assembleia da República pelo distrito de Santarém. Em 80, saíram 22 bloquistas da sala

Os críticos internos da atual direção do Bloco de Esquerda decidiram abandonar o encontro da Mesa Nacional deste domingo em protesto. Em causa está a escolha da cabeça de lista que o Bloco vai apresentar à Assembleia da República pelo círculo de Santarém, lugar considerado elegível.

No fim de semana passado, as listas foram votadas em plenários distritais. Mas a última palavra cabe sempre à Mesa Nacional, reunida este domingo, onde a ‘Convergência’, sensibilidade interna nascida depois das legislativas de 2019, conquistou peso em 2021, ocupando 17 lugares na Mesa (cerca de um quinto do total), embora numa posição minoritária face à moção da direção (54 lugares).

Queixando-se de estarem a ser atirados para lugares subalternos nas listas da direção para as legislativas que aí vêm, os críticos da liderança de Catarina Martins apresentaram listas próprias em alguns distritos, conseguindo duas vitórias: Portalegre e Santarém, este último mais relevante, por se tratar de um distrito onde o Bloco tem conseguido eleger um deputado (a exceção mais recente foi 2011).

A distrital de Santarém votou maioritariamente o nome de Ana Sofia Ligeiro, que faz parte da ‘Convergência’. Porém, como o Expresso adiantou este sábado, a intenção da direção do Bloco de Esquerda é manter o corpo parlamentar, salvo algumas exceções (como a de Jorge Costa e Maria Manuel Rola, que se vão dedicar à construção partidária).

E este domingo, durante a reunião que ainda decorre, a direção apresentou mesmo a própria lista, com o nome de Fabíola Cardoso, eleita em 2019 e que, com a dissolução da AR, fez apenas meia legislatura, em primeiro lugar. A 'Convergência' (eleita com a moção E durante a Convenção deste ano) abandonou a sala, bem como a moção N (outra sensibilidade minoritária do partido, com 5 mandatos). Ao todo, 22 bloquistas deixaram a sala antes mesmo de ser votado o programa eleitoral.

A ‘Convergência’ considera que a opção da direção não respeita a vontade das bases. Mais: abandona a reunião “perante a intolerável e antidemocrática violação dos estatutos”. “Para nós é uma votação ilegal. Não tomaremos parte” dela, diz ao Expresso Ana Sofia Ligeiro, a cabeça de lista eleita pela distrital de Santarém.

No entender da 'Convergência', os estatutos são claros: a decisão é da Mesa Nacional mas “sob proposta das Assembleias Distritais' (artigo 10.º), órgãos a quem cabe 'propor a composição das listas de candidatura' do BE a cargos públicos (artigo 12.º)”, como se lê no comunicado enviado às redações. À Mesa Nacional não é “conferida legitimidade para propor para ratificação listas diferentes às previamente aprovadas nos órgãos distritais e regionais”, dizem os críticos.

No comunicado, lê-se ainda que “as/os membros eleitas/os pela Moção E recusam participar numa proposta viciada de ilegalidade e exigiram a retirada da lista B por Santarém, versada na proposta a sufrágio na Mesa Nacional”.

As críticas de “asfixia democrática” não são novas e ganharam espaço durante a Convenção de maio deste ano. Agora, a 'Convergência' diz que “votar numa proposta desta natureza é ser conivente com o incumprimento estatutário e é rasgar a democracia interna”. E, apontando às legislativas de janeiro, frisa que “nenhuma candidatura pode ser agregadora e mobilizadora se parte do incumprimento da vontade expressa dos seus aderentes”.

Ao Expresso deste sábado, Ana Sofia Ligeiro já tinha antecipado o que se veio a verificar agora afirmando o ‘choque’ da ‘Convergência’. “O veiculado pela direção, e que nos chocou pela crueza da abordagem, é que o corpo parlamentar deve responder à maioria. É um argumento pouco válido. O objetivo de qualquer deputado será responder ao país, e à região que o elegeu, com o programa para que foi eleito e com a estratégia emanada pelo partido.”

Para as 17h30 está marcada uma conferência de imprensa em que Catarina Martins, coordenadora do partido, vai apresentar as principais conclusões do encontro.

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