Pandemia deixou portugueses mais sozinhos, mas também mais confiantes no Governo

O mais recente relatório da OCDE procura dar uma visão holística de como a pandemia afectou o bem-estar das pessoas. Em termos globais, há sinais claro de um aumento da solidão e exclusão da sociedade, bem como do número daqueles que sentiram crescer a ansiedade.

Foto
A percentagem de pessoas que disse sentir-se quase sempre ou sempre sozinha aumentou de 12% para 19% em Portugal, em média com a OCDE Adriano Miranda

A pandemia da covid-19 deixou os portugueses a sentirem-se mais sozinhos e mais excluídos da sociedade, mas também muito mais confiantes no Governo. Os dados constam do mais recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre a covid-19 e o bem-estar (Covid-19 and well-beingLife in the Pandemic), divulgado esta quinta-feira. Nos parâmetros em que foi possível comparar o país com os restantes membros da OCDE, percebe-se que a tendência nacional acompanha a colectiva, com pequenas oscilações, para o bem e para o mal, no momento da comparação.

O documento analisou um conjunto de parâmetros entre Março de 2020 e Junho de 2021 para traçar “uma visão holística de como a vida das pessoas foi afectada, como impactou diferentes grupos da população e o que está a acontecer aos recursos (naturais, económicos, humanos e sociais) que ajudam a manter o bem-estar ao longo do tempo”, lê-se na apresentação. 

Como nem todos os membros apresentam dados para todos os parâmetros, há situações em que a comparação da média da OCDE com um país específico não é possível, como acontece, por exemplo, no caso de Portugal para os dados relacionados com a saúde mental

O relatório só tem dados de 15 dos 38 países da OCDE, mas para esse conjunto, a percentagem de pessoas em risco de depressão manteve-se nos 27%, nos anos de 2020 e 2021, tendo aumentado de 25% para 26% quando se olha para aquelas que sofriam de ansiedade. 

Mas há outros dados, na área directamente relacionada com a qualidade de vida, que indicam que o período da pandemia trouxe complicações acrescidas aos portugueses. A percentagem de pessoas que indicou ter uma satisfação muito baixa com a sua qualidade de vida aumentou, em Portugal, de 16% para 19%, entre 2019 e 2020, mantendo o país num patamar pior do que a média da OCDE (35 países analisados), em que essa subida foi de apenas de 11% para 12%.

O país tem um desempenho um bocadinho melhor quando se olha para as relações comunitárias. Por cá, entre 2019 e 2020, a percentagem de pessoas que se sentiu excluída da sociedade subiu de 11% para 18%, mas na média dos 22 países da OCDE com dados sobre este campo, a subida foi de 19% para 27%.

Já quando questionados sobre se sentiam sozinhos, a maior parte do tempo ou sempre, nas duas últimas semanas, 19% dos portugueses disseram que sim, em Fevereiro-Março de 2021, aquando apenas 12% o tinham feito em Abril-Junho de 2020. Na média dos 22 países da OCDE que responderam, a subida foi de 14% para 19%.

Rendimento disponível para a habitação

A pandemia não parece ter tido um efeito tão notório em áreas como o rendimento disponível para a habitação (aumentou um 1% em Portugal de 2019 para 2020 e 2% na OCDE) ou nos jovens, entre os 15 e os 29 que não estudavam, trabalhavam ou tinham formação: a percentagem manteve-se estável nos 11%, no nosso país e subiu de 13% para 14% na média de 30 países da OCDE.

O país esteve em linha com os parceiros da OCDE no excesso da mortalidade, avaliado no período entre Março de 2020 e Maio de 2021 (16% para ambos), mas deu um salto enorme nos níveis de confiança no Governo, comparando os anos de 2019 e 2020. A subida foi de 44% para 61% em Portugal, quando na média da OCDE passou apenas de 45% para 49%. Mas António Costa não tem apenas razões para ficar satisfeito com os dados deste relatório, já que ele também demonstra que a dívida governamental, que já era, em percentagem, bastante acima da média dos restantes países da OCDE, aumentou ainda mais esse fosso - de 2019 para 2020 subiu de 123% para 139% do produto interno bruto (PIB), quando a média na OCDE foi uma subida de 81% para 95%.

Nos restantes parâmetros que contêm dados específicos sobre Portugal, percebe-se o país está muito perto da média da OCDE quando se olha para a taxa de subutilização do trabalho (e que inclui o desemprego mas também pessoas que não possuem emprego pleno), com um aumento de 13% para 16%, no país, na comparação de 2019 para 2020, enquanto a subida foi de 12% para 18% na OCDE. No que diz respeito à dívida com a habitação, enquanto parte do orçamento familiar, ela manteve-se estável por cá, em 112% e desceu ligeiramente na OCDE, de 119% para 118%. 

O relatório apresenta ainda um conjunto de informações sobre alterações relacionadas com a saúde reportada pelos cidadãos da OCDE, desde o início da pandemia e até aos meses de Outubro-Novembro de 2020. Segundo os dados agora revelados houve mais pessoas a ganhar peso (31%) do que a perdê-lo, e também mais a fazer menos exercício (25%) do que aquelas que aproveitaram este período para aumentar a sua actividade física (22%). 

Os dados também indicam que houve mais pessoas a aumentar o consumo de álcool (12%) do que a diminui-lo (7%). Já no que diz respeito ao tabaco, houve um equilíbrio: 3% das pessoas referiram que deixaram de fumar neste período, mas uma percentagem idêntica começou a fazê-lo.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários