Depois de paraquedistas terem vaiado Gomes Cravinho, foi a vez da revolta crescer nas redes sociais

Militares revoltaram-se contra o impedimento de entoar o cântico “Ó Pátria Mãe” e de usar a boina verde. O ministro da Defesa disse que ontem foi “um dia de celebração, de agradecimento”.

Terra ou país onde se nasceu, eis o significado de pátria mãe. No entanto, várias centenas de veteranos do ultramar, ex-comandos e ex-paraquedistas protestaram ontem por terem sido impedidos de cantar “Ó Pátria Mãe”, no desfile da cerimónia do Dia do Exército, em Aveiro.

“Ó Pátria Mãe / Por ti dou a vida / Há sempre alguém / Que não te quer perdida” teria sido a primeira quadra da letra que os militares cantariam se não estivesse em vigor esta regra. 

“Estou aqui pelos meus irmãos que foram impedidos de cantar o ‘Ó Pátria mãe’, desfilar à paraquedista, marchar à paraquedista (…) isto é o poder político, alguém de esquerda disse que é um grito racista e então todos pagaram por tabela”, contou um soldado ex-paraquedista à TVI24.

“O Exército, infelizmente, não respeita os paraquedistas nem as operações especiais como os fuzileiros e comandos. Os nossos cânticos e as nossas marchas hão de se manter sempre”, afirmou, à sua vez, em declarações à RTP, um dos ex-paraquedistas presentes na manifestação.

Para além disto, os profissionais em causa não puderam utilizar as boinas verdes. Por estes motivos, decidiram vaiar o Ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, proferindo frases e expressões como “Palhaço”, “és um vendido”, “vai para casa” e “deixa os homens cantar”.

“A nossa boina verde custou a ganhar. Nós fizemos missões em nome de Portugal e este senhor general não merece estar no lugar em que está. Isto é um insulto para os paraquedistas que perderam a vida em nome de Portugal”, disse um outro soldado paraquedista ao canal de Queluz de Baixo.

Forte contestação nas redes sociais “Não consigo entender o motivo para proibir as tropas especiais de entoarem os seus cânticos guerreiros, com marchas militares impressionantes, e donos de uma convicção militar de exceção. Não se percebe a doutrina nem a exigência agora imposta”, explicou o antigo inspetor da Polícia Judiciária, Francisco Moita Flores, numa publicação veiculada no Facebook ao final da tarde de domingo.

Na mesma rede social, é possível ler outras manifestações de revolta e desagrado. “Pela defesa da nossa História e dos nossos símbolos, que em nada desprestigiam o Exército Português. Contra uma padronização exagerada e, na nossa opinião, absurda das forças que, com as suas próprias características, dignificam o Exército e as Forças Armadas Portuguesas”, redigiu a página “Paraquedistas”, que se autodefine como “um espaço de discussão entre o pessoal ativo, inativo ou simplesmente interessado nas tropas paraquedistas”.

“Nunca me passou pela cabeça ver os meus camaradas, os meus irmãos paraquedistas, fuzileiros, comandos e de operaçôes especiais inibidos de ostentarem pela voz ou uniforme a condição que tanto sofrimento, abnegação e coragem lhes custou para conseguirem. Vem um homenzinho, um maneirinho dono de uma janotice idiota, investido de poder político, e vai daí inventa”, lamentou Eduardo Manuel Barros Loureiro, membro da Assembleia de Freguesia da Madalena, em Vila Nova de Gaia, eleito pelo “Nós, Cidadãos!”.

O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, pediu respeito pelas tradições militares, frisando que “não são negociáveis”. “Hoje o socialismo colocou Portugal de luto pelo ataque que fez a todos os nossos militares, onde durante a parada militar as nossas tropas paraquedistas foram impedidas de cantar o seu hino de guerra por este Governo socialista e pelas suas imposições do politicamente correto”, declarou em Portimão, na sessão de encerramento da escola de quadros da Juventude Popular.

Gomes Cravinho avançou apenas que foi “um dia de celebração, de agradecimento. Este foi um ano extraordinário, muito difícil para as Forças Armadas e o Exército”, não respondendo diretamente às questões dos jornalistas.