[weglot_switcher]

Portugal tem características únicas que o colocam no radar dos investidores franceses

A relação de França com a economia portuguesa tem-se aprofundado, tanto no investimento como no comércio, apesar do impacto negativo da pandemia. Para a Aicep, fomentar um ambiente de negócios atrativo é fundamental.
23 Outubro 2021, 12h00

França tem um papel de relevo na economia portuguesa, porque é tradicionalmente um dos maiores investidores e porque tem reforçado a sua posição como parceiro comercial. Ao Jornal Económico (JE), o presidente da Aicep Portugal Global – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, Luís Castro Henriques, diz que Portugal beneficia de condições únicas para atrair o investimento francês, como o talento, “o ambiente de negócios amigável e as boas infraestruturas, designadamente tecnológicas”.

 

Como tem evoluído o investimento francês em Portugal?
França é, tradicionalmente, um dos maiores investidores estrangeiros em Portugal. De acordo com os dados publicados pelo Banco de Portugal, no período 2016-2020, o investimento direto líquido de França em Portugal apresentou uma variação média positiva de 646% (1.953 milhões de euros em 2020, o que significa um aumento para mais do dobro do valor atingido no ano anterior).
O primeiro semestre de 2021, quando comparado com o mesmo período do ano anterior, registou uma recuperação, em ambos os fluxos. Em termos de stock, o investimento direto de França em Portugal [IDE] ascendeu a 11.868 milhões de euros no final do ano de 2020, representando 7,9% do total de IDE captado por Portugal e posicionando a França no TOP 5 dos investidores estrangeiros. No mesmo ano, a França representava 2,6% do total de investimento direto de Portugal no exterior [IDPE], com um total de 1.349 milhões de euros.
Até ao final de junho de 2021, o stock de IDE representava 8,3% do total, totalizando mais de 12,8 mil milhões de euros, enquanto o stock de IDPE já ultrapassava aos 1,4 mil milhões de euros e representava quase 3% do total de IDPE, no mesmo período.
É importante salientar o facto de o investimento francês em Portugal ser altamente diversificado e estar, atualmente, muito centrado nas empresas de sectores como as tecnologias de informação, agroalimentar e, de forma crescente, os serviços – restauração, imobiliário, serviços empresariais, passando pelas start-ups que optam por Portugal como destino de instalação e que neste momento são mais de 30.

 

E como têm evoluído as exportações portuguesas para França?
França é um dos principais parceiros comerciais de Portugal. Em 2014, subiu à segunda posição no ranking dos principais clientes de bens, lugar que manteve nos últimos cinco anos.
Também nos últimos cinco anos, as exportações portuguesas de bens para França registaram um crescimento médio de 3,7%. Em 2020, o impacto da pandemia fez-se sentir, registando-se uma quebra de 6%, face ao ano anterior, numa altura em que o relacionamento económico bilateral estava em crescimento e de forma sustentada.
No entanto, as empresas portuguesas e a economia estão a reagir e destacaria o facto de as exportações portuguesas para França terem, entre janeiro e agosto deste ano, superado já os valores de 2019, tendo passado de 5.148 milhões de euros para 5.462 milhões de euros, isto é, mais 6,1%. Entre os grandes mercados de exportação portugueses é uma evolução excelente, só suplantada pela Espanha (mais 10,6%). Estamos a falar de valores importantes, ou seja, mais 314 milhões de euros em 2021 em relação a 2019, ao mesmo tempo que subiram 802 milhões de euros entre 2020 e 2021. É a segunda maior contribuição para o aumento global das exportações portuguesas. Todos estes elementos, consolidam a França como um grande cliente de Portugal.
O interesse crescente pelo mercado francês também está bem refletido na evolução do número de empresas portuguesas que exportam para França. Em 2020 exportaram 5.381 empresas, o que significou um crescimento de cerca de 6% face ao ano anterior.
Fatores como a proximidade geográfica e cultural entre os dois países, a acessibilidade – tanto rodoviária como aérea -, assim como o reconhecimento de Portugal entre os agentes económicos franceses como país que “fabrica bem” e que “produz qualidade” são uma prova da solidez dos laços existentes entre as empresas dos dois países.
França continua a ser o país com quem Portugal tem a balança comercial de bens e serviços mais favorável, tendo registado um saldo positivo de 4.584 milhões de euros em 2020.

 

Qual a importância das empresas francesas ou participadas por entidades francesas no desenvolvimento da economia portuguesa?
Portugal tem características únicas que têm colocado o país no radar dos investidores franceses.
A qualidade do talento (qualificações técnicas e conhecimento de línguas estrangeiras), o ambiente de negócios amigável e as boas infraestruturas do país, designadamente tecnológicas, bem como as medidas de promoção da atividade económica e de apoio ao investimento estrangeiro, levadas a cabo nos últimos anos, têm originado um crescente interesse de empresas e grupos franceses, grandes e pequenos, e de diversas áreas, nomeadamente o aeronáutico, energia, transportes e comunicações, tecnologias de informação, digital, componentes para a indústria automóvel, agroalimentar, distribuição, entre outros.
Estima-se que estejam instaladas em Portugal cerca de 750 empresas com capitais franceses.
Além dos aspetos já referidos, vale a pena referir a relevância crescente dos investimentos protagonizados por empresas francesas lideradas/fundadas por portugueses ou por lusodescendentes.

 

A economia portuguesa tem um ambiente competitivo de negócios para atrair capital estrangeiro a nível industrial e de serviços?
O fomento de um ambiente de negócios atrativo é essencial para estimular novos investimentos, incluindo investimento direto estrangeiro, de modo a aumentar a competitividade e o crescimento da economia portuguesa.
Portugal tem vindo a fazer globalmente um esforço que se tem traduzido na melhoria do ambiente de negócios para as empresas.
Por exemplo, mesmo no ano da pandemia de 2020, Portugal entrou no top 10 dos países mais atrativos para IDE, de acordo com o EY Attractiveness Survey Portugal 2021, que anualmente avalia a perceção dos investidores estrangeiros relativamente à atratividade do país enquanto destino de investimento estrangeiro. Já no ranking “Ease of Doing Business”, do Banco Mundial, Portugal está classificado em 39º lugar entre 190 economias na facilidade de fazer negócios, mantendo o mesmo lugar que tinha em 2019 [estava em 34º, em 2018].

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.