Tubarão-tigre. Um aliado no combate às alterações climáticas

por Carla Quirino - RTP
(DR) Twitter / OCEARCH/BiopixelTV Oceans Foudation

Os efeitos das mudanças climáticas podem ser acelerados devido ao declínio de predadores do fundo do mar, como os tubarões. O desequilíbrio do ecossistema entre o tubarão, manatim e ervas marinhas nada contribui para a preservação da biodiversidade e diminuição do carbono.

Um prado de ervas marinhas armazena duas vezes mais dióxido de carbono que a mesma área de floresta terrestre.

Destes pastos subaquáticos dependem muitas espécies, entre elas, os herbívoros manatins. Estes mamíferos, também conhecidos por peixe-boi, por sua vez atraem os grandes predadores, particularmente os tubarões- tigre.

Os tubarões mantêm a população de muitos herbiveros marinhos sob controlo evitando um consumo desalmado os prados subaquáticos.
Declínio
Na zona ocidental da Austrália, estão identificadas pelo menos 28 espécies de tubarões que nadam na Shark Bay (Baía dos Tubarões).

Estima-se que na costa de Queensland estes gigantes de 4.5 metros tenham diminuído em cerca de 70 por cento, sobretudo devido à pesca excessiva.

Com o declínio dos predadores, a população de manatins está a crescer, colocando em risco os pastos do fundo do mar.

O pastoreio intensivo dos herbívoros corresponde a uma diminuição de ervas marinhas, logo há menos capacidade de captação do carbono.

É aqui que tudo se interliga.
Peixe-boi alimenta-se de ervas marinhas | (DR)Twitter / WWF Oceans

Nas Caraíbas e na Indonésia, já se observaram habitats de ervas marinhas ameaçados.

Por não haver o predador que controlava a população das tartarugas marinhas, que tal como o manatim também são herbívoras, as pastagens quase se perderam a 100 por cento.

Os manatins comem cerca de 40 quilogramas por dia e por isso, se o número de indivíduos for muito alto, podem tornar-se destrutivos dos pastos, eliminando as espécies de ervas marinhas que ajudam a manter o ecossistema unido.

Esta redução drástica de ervas e algas dificulta a recuperação do ecossistema, que por sua vez, já está muito fragilizado devido a eventos climáticos extremos causados por mudanças climáticas, como as ondas de calor.
Tartaruga e as ervas marinhas | (DR)Twitter / TropWATER, James Cook University

Uma equipa de investigadores liderada por Rob Nowicki, da Florida International University, estudaram áreas no fundo do mar com fraca cobertura de ervas marinhas, semelhantes às pastagens danificadas pelo pastoreio excessivo e compreenderam a dificuldade na renovação das ervas.

"Aprendemos que, quando não é controlada, a pastagem dos manatins pode destruir rapidamente grandes áreas de ervas marinhas quando realizam a escavação em busca das ervas", sublinhou Nowicki, citado na BBC.

Além de manter o número de peixe-boi equilibrado e tornar os ecossistemas de ervas marinhas mais resistentes, os tubarões-tigre também desempenham outro papel crucial na manutenção da saúde do habitat. Eles agem como fertilizantes dos pastos subaquáticos quando defecam ou morrem, ficando as carcaças no fundo do oceano.
Aumentar o número de tubarões
A indústria pesqueira é a grande oponente.
Reduzir a pesca ilegal e insustentável tem sido uma batalha difícil, assim como a diversidade de leis de proteção animal entre os países tem sido um entrave à conservação das espécies.

"A gestão sustentável, coordenada e baseada no ecossistema da pesca é uma ferramenta importante para conservar esses predadores e seu papel ecológico. A opinião pública pode pressionar o sector exigindo que a pesca se torne ou permaneça sustentável", realça Nowicki.
(DR) Twitter / Blue Carbon Lab

A abundância de tubarões tem um efeito cascata sobre os muitos ecossistemas marinhos que dependem de ervas marinhas abundantes e saudáveis de uma forma ou de outra. Ao equilibrar de jogo ecológico, os tubarões vão fortalecer esses ecossistemas contra a ameaça das mudança climáticas, para que possam viver e absorver carbono todos os dias.

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