Operação Marquês

Padre da família Espírito Santo disse que Salgado tinha solução para lesados do BES

Segundo o padre, que disse conhecer o arguido "há mais de 20 anos", Ricardo Salgado "sempre foi uma pessoa com regras", de "grande confiança" e cujo "porte firme" reconheceu admirar.

Padre da família Espírito Santo disse que Salgado tinha solução para lesados do BES
Luis Barra

O padre da família de Ricardo Salgado declarou esta sexta-feira em tribunal que o antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES) lhe disse que tinha uma solução para os lesados e que essa situação foi o que mais o fez sofrer.

"Sempre foi dizendo que aquilo que mais o fazia sofrer neste processo eram os lesados, porque disse que tinha solução e não lhe deram tempo", afirmou Avelino Pereira Alves, que foi ouvido como testemunha na sétima sessão do julgamento do ex-banqueiro no Juízo Central Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça.

Segundo o padre, que disse conhecer o arguido "há mais de 20 anos" e que todos os domingos se encontravam na missa, além de ter partilhado almoços e jantares em casa do antigo líder do BES, Ricardo Salgado "sempre foi uma pessoa com regras", de "grande confiança" e cujo "porte firme" reconheceu admirar.

"Um homem íntegro, com valores e regras humanas e sociais bem definidas", descreveu Avelino Pereira Alves, enfatizando a relação de amizade entre ambos: "Convivi com ele nestes momentos mais difíceis porque os amigos não devem fugir nestas ocasiões. Nestas adversidades ele tentou explicar o assunto, mas eu não quis saber. A nossa amizade está acima dessas controvérsias".

Entretanto, no exterior do tribunal decorria uma manifestação de lesados do BES, com o som de buzinas e protestos a fazer-se ouvir também na sala de audiência.

Durante a manhã foram ainda ouvidos por videoconferência as testemunhas Alain Rukavina, advogado e liquidatário da ES International, e Ricardo Gaspar Carvalho, administrador e sócio da sociedade Shu Tian.

Já a audição de Jean-Luc Schneider, ex-administrador da ESFIL e colaborador do GES responsável pela operacionalização de transferências da conta bancária da ES Enterprises na Banque Privée Espírito Santo, ficou sujeita ao envio de uma carta rogatória para a Suíça, tendo ficado prevista a audição por videoconferência na próxima sessão do julgamento, marcada para 25 de novembro.

Advogado de Ricardo Salgado diz que ex-banqueiro "não decidiu ter Alzheimer"

O advogado de Ricardo Salgado criticou esta sexta-feira a decisão do coletivo de juízes de não suspender o julgamento do ex-banqueiro, depois de ter sido apresentado um atestado médico que certificava o diagnóstico de Doença de Alzheimer do arguido.

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Em declarações à entrada do Juízo Central Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça, Francisco Proença de Carvalho pediu "respeito" pela condição do antigo presidente do Grupo Espírito Santo, de 77 anos, e contestou a posição do tribunal, que entendeu que não havia uma limitação da capacidade de defesa do arguido.

"A doença de Alzheimer não é uma opção de um arguido, não é uma opção de uma pessoa. Não é o arguido que decide ter Alzheimer, não foi o doutor Ricardo Salgado que decidiu ter esta doença, não foi o doutor Ricardo Salgado que decidiu autolimitar o seu direito de defesa, a sua possibilidade de prestar declarações, é a doença de Alzheimer que, infelizmente, afeta milhares de pessoas em Portugal", afirmou.

O tribunal que está a julgar Ricardo Salgado recusou suspender o julgamento, como tinha sido pedido pela defesa do antigo banqueiro.

Na semana passada, os advogados apresentaram um requerimento ao qual juntaram um relatório do médico neurologista de Salgado, que atestava que o arguido sofre de doença de Alzheimer, que está a ser medicado e que apresenta um agravamento das limitações cognitivas e motoras.

Os advogados dizem que o antigo presidente do BES não pode exercer, de forma plena, o direito a prestar declarações, colocando em causa a capacidade de se autodefender em tribunal.

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