Regime de Daniel Ortega manda prender líderes empresariais

Os dois principais dirigentes do organismo que representa os empresários nicaraguenses foram detidos sob várias acusações de conspiração para derrubar o Governo.

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Michael Healy chegando ao Ministério Público Reuters/STRINGER

Depois de perseguir os opositores políticos, o regime da Nicarágua voltou-se contra os empresários do país. As duas principais figuras do Conselho Superior da Iniciativa Privada (Cosep) foram detidas na quinta-feira, acusadas de desvio de dinheiro e de traição ao país.

Na quinta-feira de manhã, o presidente do Cosep, Michael Healy, foi detido com violência pela polícia na sua residência em Manágua, diz o El País. Cerca de duas horas depois, o vice-presidente da instituição, Álvaro Vargas, também era preso.

Esta sexta-feira, o Ministério Público, controlado pelo Governo de Daniel Ortega, deu ordem para que os dois líderes empresariais ficassem em prisão preventiva durante pelo menos 90 dias. A polícia acusa-os de estar por trás de “actos que menosprezam a independência, soberania e autodeterminação” da Nicarágua, “incitar a ingerência estrangeira em assuntos internos” e de “pedir intervenções militares”, de acordo com a agência Europa Press.

Em Junho, o antecessor de Healy à frente do Cosep, José Adán Aguerri, também já tinha sido detido. O empresário foi preso durante a onda de detenções de vários dirigentes conotados com a oposição a Ortega, que tem afastado praticamente todos os pré-candidatos com alguma hipótese de o derrotar nas eleições presidenciais de Novembro.

Aguerri havia deixado o Cosep em Setembro do ano passado para se juntar à Aliança Cívica, um grupo que congrega vários opositores do regime nicaraguense, explica o El País.

Ao contrário de Aguerri, Healy tinha assumido uma postura menos contestatária da forte deriva autoritária de Ortega, mas nem assim escapou à purga que o líder nicaraguense está a realizar a todos os níveis há já vários meses.

A detenção das duas figuras mais importantes da confederação empresarial expõe o divórcio entre as indústrias nacionais e o regime de Ortega, que até 2018 eram importantes aliadas do Governo.

Foi nesse ano que os tiques autoritários de Daniel Ortega, acompanhado da sua mulher e “número dois” do regime, Rosario Murillo, se acentuaram. A onda de protestos estudantis de 2018 foi reprimida com extrema violência pelas autoridades e Ortega atribuiu a instabilidade social à ingerência externa, particularmente dos Estados Unidos, no país – um receio que hoje se transformou numa autêntica obsessão para o Presidente nicaraguense.

A partir daí, Ortega passou a usar as forças de segurança para perseguir qualquer dirigente político ou social que manifestasse algum sinal de oposição. Foram detidos vários políticos que planeavam candidatar-se às eleições presidenciais, e até antigas figuras destacadas do movimento sandinista, consideradas traidoras por Ortega.

A repressão política na Nicarágua tem deixado em alerta a comunidade internacional e há o risco de o resultado das eleições de 7 de Novembro poderem não vir a ser reconhecidos, abrindo uma crise de legitimidade política com potencial explosivo.

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