A oposição venezuelana congratulou-se no sábado com a extradição para os Estados Unidos da América (EUA) do empresário colombiano Alex Saab, testa-de-ferro do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, por considerar que é um passo para a justiça e verdade.
"A extradição de Alex Saab para os EUA é um passo fundamental para a justiça e a verdade perante o saque, a corrupção e a rede de crime organizado que hoje sustem e alimenta o regime de Nicolás Maduro no poder", escreveu o opositor Júlio Borges na sua conta da plataforma social Twitter.
Numa outra mensagem, Borges, que faz parte do partido Primeiro Justiça, explicou que "a extradição de Saab é também um apelo àqueles que apoiam e são cúmplices de Maduro".
"Não importa quanto tempo demore, a justiça chega. Pode ser hoje ou amanhã, mas sempre chega", acrescentou.
Na mesma rede social, Júlio Borges disse que "não faz sentido continuar a apoiar um ditador", e espera que "este processo de justiça sirva para que todos compreendam que as garantias de uma transição existem e que é melhor avançar do que afundar-se com um ditador sem futuro".
Por outro lado, Carlos Paparoni, também do partido Primeiro Justiça, descreve Alex Saab como "o maior ladrão da história" venezuelana.
Segundo Carlos Veccio, representante do líder opositor Juan Guaidó nos EUA, usou a mesma rede social para afirmar que "não há intocáveis".
"Mais cedo ou mais tarde todos os que saquearam a Venezuela e cometeram crimes contra a humanidade vão cair. A justiça sempre chega. Após um longo e complexo processo Alex Saab, o maior mafioso de Maduro, de Cília Flores [mulher do Presidente da República] e do seu entorno, foi extraditado para os EUA. Bíceps flexionados", escreveu no Twitter.
Por outro lado, Carlos Veccio manifesta solidariedade com o jornalista venezuelano Roberto Deniz e seus familiares, porque "a ditadura de Maduro continua a persegui-lo, por desvendar a trama internacional de corrupção do testa-de-ferro Alex Saab, que tem saqueado a Venezuela", sublinhando que "informar não é um delito".
Para a opositora Delsa Solorzano, "a justiça sempre chega".
► Governo suspende diálogo com oposição
O Governo venezuelano suspendeu as negociações com a oposição que decorriam no México com a mediação da Noruega, após a extradição, sábado, do empresário colombiano Alex Saab. Caracas disse ser "um sequestro".
"Em virtude desta ação extremamente grave, a nossa delegação anuncia que suspende a sua participação na mesa de negociações e diálogo. Consequentemente, não estaremos presentes na ronda que deveria começar amanhã [hoje] no México, como expressão profunda do nosso protesto perante a agressão contra a pessoa de Alex Saab", anunciou o presidente do parlamento, Jorge Rodríguez.
O anúncio foi feito através de um comunicado, lido por Jorge Rodríguez no Palácio Federal Legislativo, em que acusa os Estados Unidos da América (EUA) de agredir a Venezuela e disse que a vida de Alex Saab está em risco.
"Esta ação ilegal e desumana constitui um novo ato de agressão dos EUA contra a Venezuela, dado que Alex Saab foi incorporado como membro de pleno direito no processo de diálogo e negociação. A Venezuela alerta o mundo que a vida de Alex Saab está em perigo nas mãos de um sistema judicial instrumentalizado para atacar a Venezuela", afirmou Jorge Rodríguez.
Por outro lado, informou que o Governo venezuelano "defenderá" Alex Saab "com todos os recursos legais e diplomáticos disponíveis" da "ilegal" extradição para os EUA.
"Isto é uma agressão contra toda a ordenança jurídica internacional e a investidura diplomática de Alex Saab", frisou Rodríguez.
► Oposição quer chegar a acordo para solucionar crise
A oposição venezuelana disse hoje querer trabalhar para chegar a um acordo para solucionar a crise na Venezuela, apesar de o Governo ter suspendido as negociações, em protesto pela extradição de Alex Saab.
"O nosso compromisso com a justiça e com o avanço de um acordo que proporcione soluções urgentes para os venezuelanos permanece intacto e não descansaremos enquanto não o conseguirmos. Cada minuto que se adia conta-se em vidas. Os venezuelanos são, e devem ser, a única prioridade", escreveu o líder opositor Juan Guaidó na sua conta do Twitter.
Na mesma rede social, Juan Guaidó afirmou que "as soluções de que a Venezuela necessita são urgentes" e que "nenhum interesse deve antepor-se à emergência".
"Reafirmo o meu compromisso de continuar a insistir na necessidade de alcançar um acordo abrangente que resolva a crise, que nos permita alcançar justiça e recuperar-nos como país", escreveu o político.
Noutra mensagem, Juan Guaidó acusou o regime de utilizar "um sistema de justiça sequestrado como ferramenta de tortura e perseguição" a vários venezuelanos.
► Estados Unidos agradecem colaboração de Cabo Verde
Os Estados Unidos agradeceram a Cabo Verde a extradição para aquele país de Alex Saab, considerado um testa-de-ferro do Presidente da Venezuela, informando que o empresário colombiano será presente a um juiz em Miami, na segunda-feira.
"O Departamento de Justiça dos EUA expressa a sua gratidão ao Governo de Cabo Verde pela sua assistência e perseverança neste caso complexo, e a sua admiração pelo profissionalismo do sistema judicial cabo-verdiano", disse a porta-voz Nicole Navas à agência Efe.
Está previsto que Saab compareça "na segunda-feira, 18 de outubro, às 13:00 [18:00 em Lisboa], perante o juiz John J. O'Sullivan, do tribunal federal dos Estados Unidos para o distrito do Sul da Florida", acrescentou a porta-voz, em declarações à Efe.
► Alex Saab estava detido desde junho de 2020
O empresário Alex Saab, considerado pelos EUA testa-de-ferro do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deixou sábado a ilha do Sal, em cumprimento do pedido de extradição das autoridades norte-americanas, confirmou à Lusa fonte da defesa.
Um avião ao serviço do Departamento de Justiça norte-americano partiu durante a tarde da ilha do Sal, onde Alex Saab estava detido desde junho de 2020, com destino aos EUA de acordo com fontes da aviação civil.
A Lusa contactou o Ministério da Justiça de Cabo Verde sobre este assunto, que remeteu qualquer explicação para mais tarde.
Nos últimos dias, a defesa de Alex Saab viu o Tribunal Constitucional de Cabo Verde recusar vários pedidos e recursos na sequência da rejeição, em setembro, do recurso principal à decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que tinha autorizado a extradição.
Alex Saab, 49 anos, foi detido pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas em 12 de junho de 2020, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, numa viagem para o Irão em representação da Venezuela, com passaporte diplomático, enquanto enviado especial do Governo venezuelano.
A sua detenção colocou Cabo Verde no centro de uma disputa entre o regime do Presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, que alega as suas funções diplomáticas aquando da detenção, e a Presidência norte-americana, bem como irregularidades no mandado de captura internacional e no processo de detenção.
Washington pediu a sua extradição, acusando-o de branquear 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.