Economia

Há mil milhões de euros para garantir créditos de empresas sob moratória, mas há custos e limites

Há mil milhões de euros para garantir créditos de empresas sob moratória, mas há custos e limites
José Fernandes

Linha Retomar foi criada para limitar o impacto do fim das moratórias das empresas nos sectores mais vulneráveis

Há mil milhões de euros para garantir créditos de empresas sob moratória, mas há custos e limites

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A menos de uma semana de terminarem as moratórias, o Banco do Fomento apresentou as condições para as empresas dos sectores mais vulneráveis poderem ganhar uma garantia estatal parcial sobre os seus empréstimos à banca.

Há mil milhões de euros disponíveis para estas garantias numa linha de apoio à recuperação económica designada de "Retomar", que se destinará a proteger os financiamentos obtidos por empresas dos sectores mais fortemente afetados pela pandemia – no final de julho, segundo dados do Banco de Portugal, os bancos tinham empréstimos de 8,4 mil milhões de euros a empresas dos sectores mais vulneráveis à covid-19 sob moratórias.

O objetivo destas garantias é poderem ser utilizadas pelas empresas com três fins: a reestruturação do crédito em moratória, com aumento da maturidade e período de carência; o refinanciamento parcial do crédito sob moratória; empréstimos adicionais para satisfação de liquidez. Essa é a indicação deixada no documento de divulgação da linha.

Bancos precisam de aprovar operação

São apenas as empresas consideradas viáveis pelos bancos, em que haja mexidas nas condições das suas dívidas, aquelas que poderão beneficiar desta garantia. Só poderão beneficiar se houver “parecer expresso favorável à realização da operação de reestruturação, de refinanciamento ou de crédito adicional para cobrir necessidades de liquidez, conforme o caso, pela função de gestão interna de risco da instituição de crédito”. Ou seja, sem aval do banco, nada feito, como o Expresso já tinha noticiado.

Aliás, a concretização de toda a emissão da garantia cabe depois ao banco, já que é ele que assegura a ligação às sociedades de garantia mútua. Seja qual for a dimensão, têm é de cumprir os critérios que têm sido exigidos até aqui para os apoios estatais (não estarem em dívida perante o Estado, não terem sede em paraísos fiscais, etc.).

“O montante a ser reestruturado ou refinanciado por beneficiário deve ser o valor total dos empréstimos ou das operações de crédito em moratória, exceto por indicação explícita do beneficiário, e o montante máximo de garantia não deverá exceder os 10 milhões de euros”, é um dos limites explicados pelo Banco Português do Fomento (BPF) no comunicado enviado na sexta-feira, 24 de setembro, às redações. O objetivo será cobrir até ao máximo de 25% da garantia. Mas nem todas poderão aí chegar aos 10 milhões.

De acordo com as condições existentes, o “valor de garantia a atribuir por beneficiário apenas poderá ultrapassar o limiar de 1 milhão de euros quando os créditos (loans) que determinem a ultrapassagem desse limiar estejam cobertos por garantias hipotecárias que representem um LTV (loan-to-value) inferior ou igual a 80%”. LTV é o indicador que compara a avaliação ao montante do empréstimo.

Carência até 24 meses, spreads até 1,85%

As garantias têm um prazo máximo de até 8 anos - ou de até 10 anos, se forem micro ou pequenas empresas.

O período de carência pode ir de seis a 24 meses desde a contratação da garantia estatal. A nível de custos, quando há uma reestruturação ou um refinanciamento, o juro contratado não pode ser superior ao da operação original; quando há liquidez adicional, haverá sempre um spread que varia entre 1,25% (empréstimos até um ano) e 1,85% (empréstimos acima de três anos) a acrescer ao juro (variável ou fixo).

Há ainda lugar ao pagamento, por parte das empresas beneficiárias, de uma comissão de garantia, que aumenta ao longo dos anos e consoante a dimensão.

Quem pode aderir

As atividades elegíveis para esta garantia passam por indústrias transformadoras, comércio por grosso e retalho (louças, têxteis, ourivesaria), transportes, alojamento, restauração, atividades de informação e comunicação, educação e cultura, entre outras.

Em julho, havia 21,8 mil milhões de euros empréstimos a empresas em moratória bancária, dos quais 8,4 milhões de sectores considerados vulneráveis (e nas mãos de 23,7 mil empresas). O congelamento termina no fim deste mês, pelo que o pagamento das prestações inicia-se no mês seguinte (ainda que nem todas as empresas tenham prestações a pagar mensalmente, mas sim noutras periodicidades). O acesso à linha de garantia está disponível até ao fim do ano.c

Terminando as moratórias 30 de setembro, é nesse mesmo dia que o Banco do Fomento vai realizar um webinar público para “apresentar e esclarecer sobre as características e condições de acesso a este novo instrumento financeiro”. O Jornal Económico noticiou que havia problemas em relação à constituição desta linha, porque a banca considera tão restritiva que a torna ineficaz.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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