O título deste artigo resume o que foi esta campanha autárquica. Novidades técnicas de comunicação política, zero. Grandes candidatos surpreendentes, zero. Debates fraquíssimos, campaigners mal preparados, uma caldeirada medíocre que não augura nada de bom para os dados sobre a abstenção do próximo domingo.

As dinâmicas e as máquinas eleitorais partidárias carburaram mal e os portugueses que deviam estar motivados com a possibilidade de decidir sobre as suas terras estão tão mobilizados como uma pachorrenta lesma que apenas pretende fugir ao ruído.

O habitual cartão amarelo que é tradicionalmente mostrado aos governos em eleições autárquicas, e que já mudou ciclos como em 2001, é hoje uma ameaça de possível cartão vermelho ao líder da oposição, que se irá agarrar às mais pequenas terras para cantar vitória e permanecer como uma lapa na cadeira da São Caetano.

Na percepção das pessoas, como o indicam estudos de opinião, está escrito que o PS ganhará dia 26 e Rui Rio – e a marca PSD nunca valeu tão pouco e esteve tão fraca como nos seus tristes dias de liderança – nunca será primeiro-ministro, e quanto mais tempo por ali estiver, mais tempo o partido continuará numa saga infinita em quarto minguante.

Na sua cidade, o Porto, Rui Moreira vencerá por esmagamento; em Lisboa, o candidato que, quando se apresentou, recolheu hossanas da imprensa e foi considerado por comentadores da esquerda e da direita como séria ameaça a Fernando Medina, conseguiu, em pouco tempo, desbaratar esse capital e perder-se como o general de García Márquez no seu labirinto de desconhecimento da cidade, equipa incompetente e ignorante, e tibieza na relação com os directórios partidários que compunham a coligação.

Na capital, se as coisas correrem mal, como aponta a última sondagem que dá o PSD e CDS juntos com menor resultado do que há quatro anos, a culpa é única e exclusivamente de Carlos Moedas que, nas suas desconfianças pessoais, não ouviu quem o aconselhou a falar com outras pessoas e seguiu na miséria de amadores (excluo disto o Manuel Soares Oliveira que é um grande publicitário que estimo muito) e aprendizes de comunicação que acham que por falarem para 30 incautos no Clubhouse percebem alguma coisa disto.

Lamento, pois, o Carlos Moedas que conheço – tinha competência e boas intenções para muito mais do que mostrou.

A tragédia do PSD é o seguro de vida de António Costa, que assiste com gozo ao desmembrar de um centro-direita que se vai estilhaçando com a afirmação do Chega e IL, enquanto o CDS morre mais um pouco todos os dias. Enquanto o Bloco não conta muito para o totobola autárquico, falta ver como resiste o PCP, que dos partidos comunistas da Europa Ocidental , pujantes no passado, ainda é o único que sobrevive sem se diluir em outros movimentos de esquerda.

Agora, não vejo um grande terramoto no domingo em termos de ciclo político de domínio do PS. Enquanto António Costa não decidir sair para um cargo internacional, o ónus da instabilidade vai andar pelo PSD, e os tubarões do partido já sentem o cheiro a sangue.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.