“Cavalleria Rusticana”: um drama siciliano em Lisboa

Para Pietro Mascagni, a primeira ópera foi a definitiva, aquela graças à qual ficaria para sempre no panteão dos grandes compositores deste género musical. Apesar de ter escrito quinze óperas, foi de facto a primeira de todas que verdadeiramente se destacou. Chamada "Cavalleria Rusticana", surge em 1890, com estreia no Teatro Constanzi de Roma. Mas o seu espaço é a meridional Sicília. A plateia não estava cheia, porém, estava lá quem contava: um dos críticos mais importantes do país e a Rainha Margarida de Saboia, grande melómana. A imediata adesão do público e o aplauso final garantiriam ao então jovem Mascagni um lugar na História.

É esta a ópera — estreada no São Carlos em novembro de 1891 — que esta quinta-feira (dia 23) sobe ao palco da Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, numa apresentação única agendada para as 21h, com a orquestra e o coro do movimento Ópera na Academia e na Cidade, dirigidos pelo maestro José Ferreira Lobo. Maria Ermolaeva, Pedro Rodrigues, Ana Santos, Pedro Telles e Gisela Sachse integram o elenco, com encenação de Alfonso Romero, cenografia de Miguel Massip, figurinos de Berta Cardoso e luzes de Roberto Punzi.

"Cavalleria Rusticana" possui uma história fora do comum: em 1888, o editor musical Edoardo Sonzogno promoveu um concurso para jovens compositores italianos que nunca tivessem estreado uma ópera. Mascagni soube deste certame apenas dois meses antes da entrega, mas isso não o fez desistir. Contactou o seu amigo e poeta Giovanni Targioni-Tozzetti para se encarregar do libreto, e este escolheu basear-se numa peça popular da autoria de Giovanni Verga. O libretista ia enviando os fragmentos prontos do libreto a Mascagni, para este compor a música. E a obra pôde ser entregue no último dia, no meio de outras 73 concorrentes. Três foram à final, e a ópera num ato de Mascagni acabou vencedora.

Uma aldeia siciliana é o local onde decorre a ação de "Cavalleria Rusticana", numa manhã de Páscoa, em que Turiddu regressa do serviço militar e descobre que Lola, a sua noiva, se casou com o abastado Alfio. Para lhe provocar ciúmes, Turiddu atrai Santuzza. Como em qualquer boa ópera italiana a coisa não podia correr bem: os ciúmes dão resultado e, de facto Turiddu e Lola envolvem-se, mas Santuzza vinga-se revelando a infidelidade a Alfio. Este desafia Turiddu para um duelo.

E mais não contamos.