Os novos responsáveis pelo Governo no Afeganistão consideram que o atual embaixador do país nas Nações Unidas já não representa o poder atual e pedem a substituição por um novo representante, nomeado pelos talibã.
Mas os talibã, que assumiram o controlo do Afeganistão no mês passado, decidiram nomear Suhail Shaheen como embaixador do Afeganistão na ONU, que tinha sido até agora o porta-voz do grupo no Qatar.
De acordo com o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, o secretário-geral António Guterres recebeu a 15 de setembro um pedido de Isaczai, Embaixador afegão credenciado na ONU, para participar na sessão anual, em conjunto com a delegação que representa.
Cinco dias depois, a 20 de setembro, o secretário-geral recebeu uma outra comunicação, por parte do Emirado Islâmico do Afeganistão, assinado por Amir Khan Muttaqi - o novo ministro afegão dos Negócios Estrangeiros - a solicitar a participação na reunião mundial de líderes com uma nova representação, liderada por Suhail Shaheen.
Na carta, Muttaqi salienta que o Presidente Ashraf Ghani foi afastado do poder a 15 de agosto e que nenhum país do mundo o continua a reconhecer como a autoridade no país, pelo que Isaczai, por ele nomeado, também não pode representar o Afeganistão.
Nos casos de desacordo e disputas quanto aos assentos dos países da ONU, há um comité de nove membros da Assembleia Geral que se reúne para tomar uma decisão. O comité é constituído por Rússia, China, Estados Unidos, Suécia, África do Sul, Serra Leoa, Chile, Butão e Bahamas. Não se sabe se o grupo irá reunir antes de segunda-feira, dia em que o Ghulam Isaczai, nomeado pelo antigo Governo afegão, deverá discursar.
No entanto, da última vez em que os talibã lideraram no Afeganistão, entre 1996 e 2001, o Embaixador nomeado pelo Governo que havia sido derrubado pelo grupo extremista permaneceu como representante do país nas Nações Unidas.
No arranque da atual sessão da Assembleia Geral, na terça-feira, o Qatar apelou aos líderes mundiais para que não fechem as portas aos talibã. “Um boicote só irá conduzir à polarização, mas o diálogo poderá trazer resultados positivos”, afirmou o Emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani.
O Qatar tem sido um elo de ligação do Afeganistão ao resto do mundo, tendo sediado as conversações entre os talibã e os Estados Unidos em 2020, que culminaram este ano com a retirada de tropas do país asiático ao fim de 20 anos de presença militar.
Desde que os talibã chegaram ao poder, em agosto, vários países transferiram a respetiva representação diplomática no Afeganistão de Cabul para Doha. De igual forma, o pequeno país no Golfo Pérsico tem ajudado cidadãos estrangeiros e afegãos a abandonar o país desde que os talibã assumiram o poder.
(com agências)