Talibã pedem para intervir na Assembleia Geral da ONU

por Andreia Martins - RTP
O atual representante do Afeganistão na ONU, Ghulam Isaczai, foi nomeado antes da chegada dos talibã ao poder. Fotografia de arquivo de uma intervenção de Isaczai no Conselho de Segurança, em agosto de 2021. Andrew Kelly - Reuters

Os novos responsáveis pelo Governo no Afeganistão consideram que o atual embaixador do país nas Nações Unidas já não representa o poder atual e pedem a substituição por um novo representante, nomeado pelos talibã.

Um comité da ONU deverá decidir sobre este pedido, mas é improvável que a decisão venha ainda a tempo da 76ª Assembleia Geral, que decorre em Nova Iorque até à próxima segunda-feira. Prevê-se que Ghulam Isaczai, representante do país nomeado pelo antigo Governo, discurse no último dia da reunião de alto nível.

Mas os talibã, que assumiram o controlo do Afeganistão no mês passado, decidiram nomear Suhail Shaheen como embaixador do Afeganistão na ONU, que tinha sido até agora o porta-voz do grupo no Qatar.

De acordo com o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, o secretário-geral António Guterres recebeu a 15 de setembro um pedido de Isaczai, Embaixador afegão credenciado na ONU, para participar na sessão anual, em conjunto com a delegação que representa.

Cinco dias depois, a 20 de setembro, o secretário-geral recebeu uma outra comunicação, por parte do Emirado Islâmico do Afeganistão, assinado por Amir Khan Muttaqi - o novo ministro afegão dos Negócios Estrangeiros - a solicitar a participação na reunião mundial de líderes com uma nova representação, liderada por Suhail Shaheen.

Na carta, Muttaqi salienta que o Presidente Ashraf Ghani foi afastado do poder a 15 de agosto e que nenhum país do mundo o continua a reconhecer como a autoridade no país, pelo que Isaczai, por ele nomeado, também não pode representar o Afeganistão.

Nos casos de desacordo e disputas quanto aos assentos dos países da ONU, há um comité de nove membros da Assembleia Geral que se reúne para tomar uma decisão. O comité é constituído por Rússia, China, Estados Unidos, Suécia, África do Sul, Serra Leoa, Chile, Butão e Bahamas. Não se sabe se o grupo irá reunir antes de segunda-feira, dia em que o Ghulam Isaczai, nomeado pelo antigo Governo afegão, deverá discursar.

Desde que os talibã tomaram o poder no Afeganistão, em agosto, nenhum país reconheceu formalmente o novo Governo, pelo que a aceitação do novo Embaixador na ONU seria um importante primeiro passo para a aceitação internacional.

No entanto, da última vez em que os talibã lideraram no Afeganistão, entre 1996 e 2001, o Embaixador nomeado pelo Governo que havia sido derrubado pelo grupo extremista permaneceu como representante do país nas Nações Unidas.

No arranque da atual sessão da Assembleia Geral, na terça-feira, o Qatar apelou aos líderes mundiais para que não fechem as portas aos talibã. “Um boicote só irá conduzir à polarização, mas o diálogo poderá trazer resultados positivos”, afirmou o Emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani.

O Qatar tem sido um elo de ligação do Afeganistão ao resto do mundo, tendo sediado as conversações entre os talibã e os Estados Unidos em 2020, que culminaram este ano com a retirada de tropas do país asiático ao fim de 20 anos de presença militar.

Desde que os talibã chegaram ao poder, em agosto, vários países transferiram a respetiva representação diplomática no Afeganistão de Cabul para Doha. De igual forma, o pequeno país no Golfo Pérsico tem ajudado cidadãos estrangeiros e afegãos a abandonar o país desde que os talibã assumiram o poder.

(com agências)
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