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Livro: “O Atlas”

Misturando autobiografia e ficção, fantasia e reportagem, William T. Vollmann aborda nestas histórias a pobreza, a violência e a perda mas, também, celebra a beleza da paisagem.
18 Setembro 2021, 10h15

 

“Na fachada branca da loja de peças sobresselentes estava pintado um camelo, um copo de leite, uma ventoinha amarela, um carburador azul, uma bateria vermelha e amarela e um pneu preto e azul, todos eles a explodir de movimento como os mísseis dos desenhos animados.”

Publicado originalmente em 1996, “O Atlas”, de William T. Vollmann, testemunha um ciclo de mais de dez anos de incursões do autor pelo globo terrestre como jornalista e viajante, escritor e amante.

Deste conjunto de contos e ficções biográficas, através das quais se atravessam as mais diversas paisagens – das zonas interditas de São Francisco às extremidades árcticas do Canadá, da selva de Burma até à Sarajevo dos tempos de guerra, de Mogadíscio, capital da Somália, até Nova Iorque –, sobressai o retrato de uma época de crise.

Misturando autobiografia e ficção, fantasia e reportagem, estas são histórias que abordam a pobreza, a violência e a perda mas, também, que celebram a beleza da paisagem.

Contra todas as expectativas, na sua condição de estrangeiro permanente, Vollmann descobre nesse panorama de colapso político e existencial, vestígios de beleza e redenção. Sendo muito mais do que simplesmente um livro de viagens, “O Atlas” pessoal de Vollmann mapeia, do centro até aos confins, um território e um tempo bifurcados entre mobilização e permanência, nostalgia e progresso.

Nas páginas desta obra, talvez uma das mais pessoais e comoventes do autor, pulsam vidas anónimas que nos recordam a todo o momento da nossa missão num mundo devastado: a sobrevivência no limbo da mais nua, plena e singular, experiência humana.

William T. Vollmann (1959, Los Angeles, EUA) é um romancista, jornalista, correspondente de guerra e ensaísta norte-americano. Vencedor do National Book Award em 2005 com o romance histórico “Central Europa” (publicado em Portugal, em 2017, pela editora 7 Nós) Vollmann é o autor de inúmeras obras de ficção e não-ficção, como a monumental investigação das raízes morais da violência “Rising Up, Rising Down” ou a “Série dos Sete Sonhos” sobre a colonização da América do Norte, nas quais explora os temas mais extremos e os territórios mais remotos do mundo físico e espiritual contemporâneo.

Esta é uma edição a celebrar, publicada conjuntamente pela Snob e 7 Nós, duas das mais interessantes editoras independentes que temos visto surgir nos últimos anos. A tradução é de Manuel João Neto e Júlio do Carmo Gomes.

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