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Rússia enfrenta os efeitos da sua estratégia de fortalecimento

Uma política fiscal e monetária prudente isolou a economia russa dos choques externos e fortaleceu as finanças públicas, mas também paralisou o crescimento.
  • Vladimir Putin
16 Setembro 2021, 17h40

A austeridade fiscal e uma meta de inflação credível levaram a Rússia a conseguiu isolar a sua economia dos choques externos nos últimos anos. Moscovo introduziu a chamada estratégia de fortalecimento, após o duplo impacto da queda dos preços do petróleo e das sanções ocidentais pela invasão da Crimeia – que, como indica um estudo da Crédito y Caición, causaram uma desvalorização de 55% do rublo em relação ao dólar entre 2014 e 2015.

Graças a esta política macroeconómica prudente tanto fiscal como monetária, o país reconstruiu as suas reservas internacionais e reduziu a sua dívida externa, “dando lugar a umas finanças públicas sólidas. No entanto, também regista um crescimento económico estagnado e uma diminuição dos rendimentos reais. Em 2020, a população russa a viver abaixo do limitar de pobreza cresceu para mais de 12%”.

A dependência de matérias-primas, um perfil demográfico em declínio, um elevado grau de controlo estatal sobre a economia e um clima de investimento débil pesam sobre as taxas de crescimento da Rússia. De acordo com o mais recente relatório da Crédito y Caución, “para aumentar o nível dos seus rendimentos, a Rússia teria de implementar reformas sólidas no sentido de um ambiente de negócios mais dinâmico e capaz de aumentar o investimento estrangeiro direto, dez pontos atrás dos países da Europa de Leste”.

Para amortecer o efeito pró-cíclico dos preços do petróleo sobre a economia russa, desde 2017 a administração russa “opera sob regras fiscais que limitam as despesas federais às estimativas de receita. As vendas de petróleo e de gás são calculadas com base no preço de referência do petróleo e com uma taxa de câmbio projetada entre o rublo e o dólar. Quando o preço do petróleo ultrapassa o valor de referência, como acontece atualmente, o excesso de receita é transferido para o Fundo de Riqueza Nacional e aplicado em ativos externos”.

Do mesmo modo ao estilo dos vazos comunicantes, se o preço do petróleo cair abaixo do ponto de referência, a administração retira dinheiro do Fundo, dando estabilidade ao sistema. “Nesse contexto, as finanças do governo central da Rússia podem ser consideradas muito saudáveis”: a dívida pública era de 18% do PIB em 2020, embora o défice fiscal se tenha deteriorado para 3,8% em 2020 devido à recessão económica pós-pandemia. “No entanto, espera-se que a Rússia regresse progressivamente à austeridade fiscal”.

O segundo pilar da estratégia económica russa “é a atuação credível e independente do banco central da Rússia” para manter a inflação em torno dos 4%. Durante 2020, o banco baixou a taxa de juros oficial várias vezes para estimular a economia. No entanto, a Rússia enfrenta um aumento da inflação, que ultrapassou os 6%, com um aumento dos preços dos alimentos de 9% no comparativo anual, segundo adianta o mesmo relatório. Desde março de 2021, a Rússia começou a inverter o seu ciclo de relaxamento monetário devido ao aumento das pressões inflacionárias.

A conclusão é que a Rússia soube balancear a economia e responder à dupla dificuldade da queda dos preços do petróleo nos mercados internacionais e das sanções ocidentais. Neste contexto, e numa fase em que o mundo está em fase de pleno combate à pandemia, a economia russa dá mostras de estar preparada para se situar no pelotão da frente da recuperação.

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