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Biden defende demissão do governador de Nova Iorque após acusações de assédio sexual

Andrew Cuomo foi acusado de assédio sexual a várias mulheres, a maioria funcionárias e ex-funcionárias, entre 2013 e 2020.

Biden defende demissão do governador de Nova Iorque após acusações de assédio sexual
Jonathan Ernst

O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, defendeu esta terça-feira a demissão do governador de Nova Iorque, depois de ter sido acusado de assédio sexual a várias mulheres, a maioria funcionárias e ex-funcionárias, entre 2013 e 2020.

"Penso que deveria renunciar [ao cargo]", afirmou Biden durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, em Washington.

Andrew Cuomo nega acusações

Andrew Cuomo, que pertence ao partido Democrata, negou as acusações de que é alvo, insistindo que "os factos são muito diferentes do que aquilo que foi retratado".

"Antes de tudo, quero que saibam (...) que nunca toquei em ninguém de forma inapropriada ou fiz avanços sexuais inapropriados", reagiu o governador democrata de 63 anos. Durante a sua intervenção, não evocou a possibilidade de demissão, que parece excluir, enquanto diversos colaboradores apelaram para que abandone as funções.

"Tenho 63 anos. Vivi toda a minha vida de forma pública. Esse não sou eu, nunca fui eu", acrescentou Cuomo, que desde março, quando foram divulgadas as primeiras acusações, as tem negado repetidamente.

Popular durante a pandemia de covid-19, o governador de Nova Iorque enfrenta agora o seu maior desafio de sobrevivência política, após o inquérito independente também o acusar de instituir uma cultura de medo no interior da sua administração.

"O inquérito independente concluiu que o governador Andrew Cuomo assediou sexualmente várias mulheres e, ao fazê-lo, violou a lei federal e a do estado", afirmou em conferência de imprensa a procuradora do estado de Nova Iorque, Letitia James, acrescentando que entre as vítimas se incluem "antigas e atuais" funcionárias do estado.

RELATÓRIO: "PERTURBADOR, HUMILHANTE INCÓMODO E INAPROPRIADO"

O relatório de 169 páginas, concluído após cinco meses de investigação com "entrevistas a 179 pessoas e a obtenção de 74.000 provas", inclui 11 denunciantes cujas alegações são descritas com grande detalhe, com todas a considerarem "perturbador, humilhante incómodo e inapropriado" o comportamento do visado.

Numa referência à eventual demissão de Cuomo, a procuradora considerou que "a decisão pertence ao governador do estado de Nova Iorque.

O relatório fala por si próprio". No entanto, Letitia James precisou que o caso é "de natureza civil e não tem consequências a nível criminal".

"Beijos e abraços não desejados", comentários "inapropriados", gestos importunos, são alguns dos atos atribuídos ao governador eleito pelo Partido Democrata, nas atuais funções desde 2010.

APELOS À DEMISSÃO

Os apelos à sua demissão surgiram rapidamente, incluindo pela voz do chefe dos democratas na câmara baixa do estado de Nova Iorque, Carl Heastie, que já tinha criticado o governador em torno deste caso.

"Existem 11 queixosas e cujas alegações são expostas de forma muito detalhada no relatório. Nove delas são ou foram contratadas pelo estado de Nova Iorque ou por uma entidade relacionada com o estado", explicou Joon Kim, um dos dois responsáveis pelo inquérito, que se exprimiu ao lado de Letitia James.
Segundo as conclusões do inquérito, o governador e os membros da sua equipa também "adotaram medidas de represálias dirigidas a pelo menos uma funcionária por ter testemunhado".

"A equipa executiva do governador promoveu um ambiente de trabalho tóxico que tornou possível o assédio e um ambiente de trabalho hostil", acrescenta o gabinete da procuradora do estado.

"Era uma cultura onde não se podia dizer não ao governador", resumiu Joon Kim.

Andrew Cuomo depôs longamente perante os investigadores em 17 de julho.

ANDREW CUOMO

Político com larga experiência, destacou-se durante a pandemia de covid-19, com muitos a reconhecerem a sua competência e habilidade para gerir a situação quando Nova Iorque e a sua região se tornaram o epicentro da crise, na primavera de 2020.

Alguns tentaram mesmo convencer Cuomo, filho de governador e ex-ministro do governo de Bill Clinton e amigo de Joe Biden, a concorrer à Casa Branca.

No entanto, um ano mais tarde a sua posição fragilizou-se após as primeiras acusações de assédio sexual.

ACUSAÇÕES DE ASSÉDIO SEXUAL

Uma ex-conselheira económica, Lindsey Boylan, afirmou que o governador a beijou na boca de forma não solicitada, e lhe sugeriu que jogasse consigo ao "strip poker", quando trabalhava com ele entre 2015 e 2018. Uma outra ex-colaboradora, Charlotte Bennett, afirmou que na primavera de 2020 o governador lhe fez perguntas incómodas a sua vida sexual, incluindo sobre o facto de ter sido previamente vítima de assédio sexual, colocando-a numa situação "desconfortável".

Alguns dias depois, Anna Ruch, 33 anos, que nunca trabalhou com Cuomo, afirmou ao diário New York Times que ele a "chocou" ao pretender abraçá-la contra sua vontade durante um casamento em 2019.

Cuomo também assegurou esta terça-feira que o seu advogado já respondeu a todas as acusações num documento que disse estar disponível na sua página digital para que o público o consulte, e sustentou que "os factos são muito diferentes do que foi relatado".

Em concreto, referiu-se à acusação de Charlotte Bennett, ao assegurar que manteve esse género de conversas com a jovem funcionária por ser ter sentido "muito identificado" com a sua situação, pelo facto de um dos seus familiares ter sido vítima de um ataque sexual quando era adolescente.

"Pensei que tinha aprendido muito sobre esse assunto pela minha experiência familiar, e julgava que podia ajudá-la a atravessar esse momento difícil", explicou.

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