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Duarte Gomes

Duarte Gomes

Ex-árbitro de futebol

Sopro de vida na vida (por Duarte Gomes)

Duarte Gomes

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Este tem sido um ano angustiante no que diz respeito a notícias tristes relacionadas com partidas inesperadas, injustas e prematuras.

Não faltam exemplos recentes de gente conhecida - atores, desportistas ou políticos - que nos deixaram subitamente, de um dia para outro, perante a nossa estupefação. Perante um intenso sabor a dor e injustiça.

Por regra, os números oficiais de mortes são mais ou menos iguais todos os anos, mas quando acontecem a alguém que conhecemos e admiramos, quando nos são mais próximas, criam a ilusão de que são mais frequentes, mais reais.

É como se o universo conspirasse para pregar-nos uma partida, só para nos recordar que não mandamos nada aqui. Que quem manda é ele.

A verdade é que, só em Portugal, morrem cerca de 33 mil pessoas/ano vítimas de doenças cardiovasculares.

São mais de 90 vidas por dia.

Só o enfarte do miocárdio mata 12 portugueses em cada 24 horas. São 12 pessoas tão iguais a si ou a mim, com trabalho, família e planos, que se levantam todos as manhãs sem saber que não chegarão à próxima.

Esta reflexão pode parecer deprimente ou pessimista, mas garanto-vos que a intenção não é essa. Pelo contrário.

Regra geral, só valorizamos o que temos quando deixamos de ter.

É assim com quase tudo, mas só o fim da vida, só a morte é verdadeiramente irreversível. Só a morte não tem solução.

É por isso que todas estas notícias, de gente que parece partir cedo demais, devem servir como um "wake-up call" para todos nós. Uma espécie de chamada para vivermos mais e melhor.

A ambição é importante. O trabalho é fundamental. Vencer é entusiasmante. Construir, ficar à frente, chegar primeiro é humano, mas nada disso faz sentido se não estivermos cá. Nada disso importa se não houver saúde para usufruir, amigos para testemunhar ou família para partilhar.

Pensem nisso de cada vez que se desgastarem com infantilidades, assuntos menores ou questões de pormenor. Acreditem, não vale a pena.

A vida só faz sentido se for bem vivida. Isso implica percorrer esse caminho, orientando a nossa conduta para a felicidade, bem-estar, altruísmo e bondade.

Na vida não ganha quem vence, mas quem sabe vencer. Quem vence a convencer pela ética, pelo respeito, pela seriedade. Pela dimensão humana. Pelo quilate moral.

Esta verdade "lapalissada" serve para mim, para si e para todos nós. Serve para todas as pessoas, de todos os países, de todas as idades, em todas as áreas de atividade.

Boas férias para quem, como eu, ainda está ao sol. Divirtam-se responsavelmente e usufruam da companhia de quem é mais importante.

Para quem está a trabalhar... não confundam o meio com o fim. A ideia é a realização pessoal, o resto é só a forma de lá chegar.