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Opinião
Mauro Xavier

Mauro Xavier

Diretor-Geral – Microsoft Europa Ocidental e sócio 25.768 do Benfica

21 dias de um maestro feito Presidente

Mauro Xavier

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Rui Costa deu a primeira entrevista como Presidente do Benfica. O homem que aprendemos a admirar como atleta mostrou que sim, também é presidenciável. Seguro, sereno, sem beliscar por um momento a empatia e humanidade que lhe conhecemos, mostrou firmeza, frontalidade, capacidade de liderança. Foi o Rui Costa que sempre conhecemos – e mais do que o Rui Costa que até aqui conhecíamos.

Do lado do melhor que a entrevista teve, está desde logo o sentido de responsabilidade demonstrado num momento muito delicado da história do clube. Ter colocado a estabilidade do Benfica acima de qualquer coisa, protegendo os interesses da instituição, antes de qualquer lealdade pessoal. Na verdade, tudo se passou tão serenamente que até nos esquecemos de que isto poderia ter, facilmente, sido o caos. Chama-se maturidade e é mérito desta direção.

Em segundo lugar, o sucesso do empréstimo obrigacionista. Apanhada com essa corrida em andamento, esta liderança mostrou ter credibilidade e a confiança do mercado, e uma solidez financeira que se traduz no sucesso da operação.

Em terceiro, a decisão de convocar eleições e a lucidez de, como disse, não querer ser “o príncipe herdeiro”. Se desejar chegar a rei, há-de sê-lo por aclamação dos benfiquistas, pelo seu trabalho à frente do clube nos próximos meses e não por herança e nem sequer pelo seu passado.

E, por fim, a transparência. Não só nas palavras, onde ela é frequentemente verbo de encher, mas nas ações, que é onde conta. O Benfica vai mesmo avançar com uma auditoria externa à vida recente do clube e há abertura para rever os estatutos logo que possível. Mais: quando já lhe apontavam o dedo por, alegadamente, se ter “distanciado” de Vieira (vivemos numa época em que apontar o dedo se tornou, aliás, desporto global e, ao que parece, num gesto estimável), assumiu a amizade mas, como deixou claro, “ninguém está acima do Benfica”.

E para os paladinos da ética que se apressaram a pôr cá fora notícias de uma empresa de Rui Costa e dos filhos que supostamente teria lucrado com o Benfica, respondeu com a clareza e dignidade dos grandes. Se há alguém que não pode ser acusado de ter ganho dinheiro com o Benfica, é Rui Costa. E quem quis levar este jogo para a lama é que vai sair salpicado.

O que faltou: falar da Assembleia Geral extraordinária pedida desde Abril por um grupo de sócios, sucessivamente protelada e que já levou até à demissão de um Presidente da Mesa. O jornalista não perguntou, mas Rui Costa também não abordou a questão. E ficámos sem saber o que pensa este Presidente: se apoia ou não a realização dessa reunião magna.

O mesmo relativamente à criação de um regulamento eleitoral transparente. José Alberto Carvalho não abordou o tema e o Presidente também não o trouxe para a conversa. É favorável à ideia? Não é? Fica a dúvida.

E agora? Agora falta aquilo a que esta entrevista não poderia responder. Falta entrar na Liga dos Campeões. Falta fechar o plantel, sobretudo quanto às saídas e um ou outro ajuste quanto às entradas. E falta arrancar a temporada, no futebol e em todas as modalidades. Falta ver, na prática, que frutos dão estes 21 dias de trabalho necessariamente difícil de um homem que reconheceu ter pela frente a temporada mais exigente da sua carreira.

Muito em breve, poderemos voltar a apoiar a nossa equipa ao vivo e essa é uma notícia feliz que anima estes dias e este início de época. Pelo que vimos ontem, sentimo-nos representados por este Presidente e é com ele que vamos, já dia 4, para a batalha.