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“Não é uma rejeição de Israel, é uma rejeição da política israelita que perpetua uma ocupação ilegal”, dizem fundadores da Ben & Jerry's

“Não é uma rejeição de Israel, é uma rejeição da política israelita que perpetua uma ocupação ilegal”, dizem fundadores da Ben & Jerry's
EMMANUEL DUNAND

A Ben & Jerry’s tomou a decisão de deixar de vender os seus produtos nos territórios palestinos ocupados por Israel, o que levou Naftali Bennett, primeiro-ministro israelita, a afirmar que “gelados há muitos, país só há um”. Os fundadores judeus da empresa norte-americana defendem, num artigo de opinião, que “encerrar as vendas de gelados em territórios ocupados é uma das decisões mais importantes que a empresa tomou nos seus 43 anos de história”

A famosa marca norte-americana de gelados Ben & Jerry’s, detida pela empresa Unilever, deixou o estado de Israel à beira de um ataque de nervos, depois de ter anunciado que, a partir de janeiro de 2023, deixará de comercializar os seus produtos em territórios palestinos ocupados, por ser “incompatível com os seus valores” — embora os vá continuar a vender dentro do território israelita, dentro das fronteiras estabelecidas em 1967.

Isso levou a que Naftali Bennett, primeiro-ministro israelita, tenha vindo a público dizer que “gelados há muitos, país só há um”. Além disso, acusou a Ben & Jerry’s de “denominar-se como anti-Israel”, de se “render ao terrorismo e ao antissemitismo”, considerando a decisão da empresa “moralmente errada” e um “erro comercial”.

Num artigo de opinião publicado esta quarta-feira no New York Times, os dois homens que fundaram a marca de gelados em 1978 - sob o lema “paz, amor e gelado” - apoiam a tomada de posição, embora já não sejam detentores da empresa.

“Nós somos os fundadores da ‘Ben & Jerry’s’. Somos também judeus orgulhosos. É parte de quem somos e de como nos identificamos ao longo de toda a nossa vida”, começam por frisar Bennett Cohen e Jerry Greenfield. E esclarecem: “O facto de apoiarmos a decisão da empresa não é uma contradição nem é antissemita”. Mais do que isso, acreditam, “este ato pode e deve ser visto como um avanço dos conceitos de justiça e direitos humanos, valores fundamentais presentes no judaísmo”.

“À medida que a nossa empresa começou a expandir-se internacionalmente, Israel foi um dos nossos primeiros mercados no exterior”, referem os criadores da marca de gelados. “Éramos então e continuamos a ser apoiantes do Estado de Israel”, afirmam.

No entanto, dizem, “é possível apoiar Israel e opor-se a algumas das suas políticas, assim como nos opomos a políticas do governo dos Estados Unidos”.

Ou seja, por outras palavras, as de Bennett Cohen e Jerry Greenfield: “Apoiamos inequivocamente a decisão da empresa encerrar negócios nos territórios ocupados [por Israel], que a maioria da comunidade internacional, incluindo a ONU, considerou ilegal”.

Apesar de já não serem proprietários, têm “orgulho na ação [da Ben & Jerry’s]” e asseguram que “está do lado certo da História”. Os autores do artigo defendem que “encerrar as vendas de gelados em territórios ocupados é uma das decisões mais importantes que a empresa tomou nos seus 43 anos de história” e enaltecem a “coragem” para o fazer.

“A Ben & Jerry’s deu o passo para alinhar os seus negócios com os seus princípios progressistas”, escrevem, acrescentando: “Não é uma rejeição de Israel, é uma rejeição da política israelita que perpetua uma ocupação ilegal”.

Os fundadores da marca de gelados lembram ainda que a Ben & Jerry’s sempre defendeu a paz, como quando em 1991 se opôs à Guerra do Golfo.

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