Vasco Serpa: Não basta fazer “um trabalho avulso para um evento”

Sétimo classificado nos Jogos Olímpicos de Atlanta na classe laser, na vela, o responsável pelo projecto SailCascais considera que falta “um pouco mais de estratégia para o desporto português”.

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Os SB20 em Cascais Bow Media

Competiu lado a lado com alguns dos nomes grandes da vela mundial, como o inglês Ben Ainsle, o brasileiro Robert Scheidt, o argentino Santiago Lange ou o italiano Francesco Bruni, mas, apesar de um 7.º lugar nos Jogos Olímpicos de Atlanta na classe laser, em 1996, e um 4.º lugar no Mundial realizado no ano seguinte, Vasco Serpa seguiu um rumo diferente desses velejadores de “uma geração bastante boa”, optando por escolher a via do “mundo financeiro” em detrimento de uma profissionalização na vela.

Embora tenha sido uma opção pessoal numa altura em “tudo estava a começar” e era ainda “mais difícil” apostar na profissionalização como velejador do que na actualidade – “A vela não é o futebol e é preciso perceber o contexto onde estamos” -, Vasco Serpa reconhece que “talvez falte um pouco mais de estratégia para o desporto português”.

A dois meses dos Jogos Olímpicos de Tóquio, o velejador lamenta que “as pessoas só acordem para o desporto na altura” destes grandes eventos, o que “faz com que, nos anos intermédios, não haja os apoios que poderiam haver”: “Agora vamos todos para Tóquio, fazemos muitas fotografias, muitas publicidades e programas de televisão com toda a gente, mas, provavelmente, depois de Tóquio, se não há medalhas - há sempre uma necessidade de medalhas -, surge a conversa de repensar o desporto e que isto não é maneira de participar.”

Segundo o atleta olímpico português, talvez falte “sermos um pouquinho mais realistas e pensarmos a médio e longo prazo, fazendo um trabalho de fundo, e não um trabalho avulso para um evento que há de quatro em quatro anos. Tem que ser um trabalho contínuo, da base para cima que nunca pode parar. Quem pára fica para trás.”.

Sobre as possibilidades da vela portuguesa em Tóquio, Vasco Serpa lembra que “temos os irmãos [Diogo e Pedro] Costa, que fizeram um excelente trabalho e foram vice-campeões do mundo. Quem viu a última regata, viu que podiam ser campeões. Se tiverem condições, são candidatos a medalhas.”

Após vários anos ligados ao mundo financeiro, Vasco Serpa regressou a Portugal há cerca de três anos, retomando uma ligação mais directa à vela com a SailCascais, um projecto que, conta em conversa com o PÚBLICO, nasceu quando estava no Clube Naval de Cascais e pensou “que a única coisa que a baía [de Cascais] precisava era de barcos”. “Temos vento, sol, temos tudo. É um local privilegiado para andar a vela. Cascais está para o mundo da vela como North Shore, no Havai, está para o surf.”

Assim, o que a SailCascais fez foi comprar “uma série de barcos iguais” da classe SP20 e constituir “uma empresa que na sua génese dá aulas a adultos”, sendo que os mesmos “barcos que são usados nas aulas podem ser alugados para regatas, o que fortaleceu a frota local, e para eventos corporate e team building”. “Como temos oito barcos iguais, também podemos fazer os nossos eventos. A faceta da economia de partilha permite que se democratize o desporto”, explica Vasco Serpa.

O velejador português, que juntamente com o Clube Naval de Cascais vai estar no final de Agosto na organização do Campeonato do Mundo de SB20, explica que esta classe de barco, projectados pelo engenheiro naval português Tony Castro, já estava implementada em Portugal, mas “para as condições que há em Cascais, é muito interessante”: “É rápido, estável e divertido. Permite que seja velejado por diferentes idades e níveis, ideal para formação. Democratiza bastante o nível. Com vento, proporciona um prazer enorme em velejar.”

Sobre o que será possível assistir na baía de Cascais, Vasco Serpa diz que vão estar presentes alguns dos melhores velejadores portugueses, como a Carolina João, “o Gustavo Lima, que foi campeão do mundo de laser, Nuno Barreto, Diogo Cayolla, Hugo Rocha”, e que, com cerca de 80 barcos em prova, “vai ser um Mundial muito competitivo” e “interessante de se seguir em Cascais”.

Ouça a entrevista completa aqui.

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