A relação de Portugal com a pandemia tem sido uma ilustração perfeita do país que somos.

Em março, perante a surpresa e a impreparação, fomos fantásticos a improvisar. Ainda não havia uma posição governamental, mas os portugueses decidiram por si próprios o que se deveria fazer. Retiraram as crianças da escola, cancelaram reuniões e festas, foram para teletrabalho e prepararam o confinamento. As empresas reorganizaram processos e o país continuou a funcionar, dentro das limitações.

O confinamento foi rigoroso e aconteceu o tal “milagre” português, porque nos sentimos todos iguais e no mesmo barco. Nessa altura, foi tomada uma medida que me orgulhou enquanto português: foi garantido o apoio de saúde a qualquer imigrante, mesmo que ilegal, e facilitada a permanência no país.

Globalmente, fomos melhores do que a média, o que gerou um terreno fértil para populismos no Parlamento, em São Bento e em Belém.

Só que o dito “milagre” apenas aconteceu porque estávamos no terreno em que somos fortes – o curto prazo. Passado quase um ano, a debilidade estrutural do país veio ao de cima. A precariedade do emprego gerou mais desigualdades e exclusão, não se defenderam os mais desfavorecidos, não foram criados os recursos suficientes na saúde para responder a uma crise que desta vez era previsível e a comunicação tem sido medíocre.

Como é habitual, a política sobrepõe-se ao pragmatismo e ao interesse dos cidadãos. Os portugueses já não se sentem todos iguais e desconfiam dos seus líderes.

O longo prazo, que exige estratégia, planeamento, método, racionalidade, equidade e uma linguagem clara, já nos colocou no lugar do costume – muito pior do que a média. O país mostrou a sua pobreza, bem como as suas limitações sociais, políticas e institucionais.