Antonina Barbosa, Falua: a enóloga que não aprecia os holofotes

Directora de enologia da Falua, formada em bioquímica, prefere os bastidores, defende o “estudo, muito estudo”. “Sou fã da ideia de que para se fazer as coisas simples e com pouca intervenção tem que se saber muito”.

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Daniel Rocha

Na enologia, como noutra qualquer profissão, há gente que gosta muito de aparecer e gente que, podendo, prefere ficar na adega ou na vinha e mandar os vinhos que faz para avaliação dos críticos e depois, se necessário, trocar algumas impressões por telefone. Directora de enologia da Falua a partir de 2019 (apesar de conhecer muito bem a casa desde 2008 com João Portugal Ramos), Antonina Barbosa cai na segunda categoria. Tem como objetivo fazer vinhos, concentrar-se na viticultura (“é aqui que estão os desafios”) e passar despercebida.

No meio profissional é bem conhecida pela sua competência, mas muito poucos enófilos conseguirão associar o seu nome a uma marca de vinho. E quando perguntamos se esse comportamento é uma imagem de marca que faz questão de manter, responde assim: “Não, não criei uma regra para isso, mas o que sinto – e senti isso agora nos últimos tempos com o lançamento das primeiras colheitas nesta nova fase da Falua – é que certas iniciativas desfocam-me. E eu quero estar totalmente focada no que já fazemos e no que vamos criar no curto, médio e longo prazo. Não aprecio as luzes dos holofotes. Sinto mesmo a necessidade de dedicar o meu tempo a um projecto que tem operações em geografias opostas – o Tejo e os Verdes.”

Formada em bioquímica, o destino de Antonina Barbosa parecia estar destinado aos estudos dos compostos aromáticos dos vinhos (e não só) na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto. Mas, por via de convite de João Portugal Ramos (“o enólogo com mais carisma que conheço”), arriscou a via da enologia.

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Se não possuía conhecimentos técnicos na indústria, tinha a mais-valia de perceber muito bem os processos químicos do vinho, uma área que continua a fasciná-la e que se percebe nalguns dos vinhos recentes.

Peguemos, por exemplo, no Conde Vimioso Reserva branco 2017. Pré-macerações e macerações longas já são uma prática regular, mas esticar uma maceração do mosto durante oito dias antes do arranque da fermentação já não é assim tão usual. Resultado: temos, neste caso, um branco feito de Arinto com grande complexidade de aromas e sabores, guloso, desafiante e, acima de tudo, com um potencial de evolução fantástico.

O domínio da química dá uma ajuda? “Pois dá, a química e o estudo, muito estudo. Sou fã da ideia de que para se fazer as coisas simples e com pouca intervenção tem que se saber muito”.

Vai ser interessante acompanhar o trabalho Antonina Barbosa nesta nova vida da Falua, no Tejo e na região dos Verdes.

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