Testes aos forcados, lotação reduzida a metade: as novas regras para as touradas

Inspecção-Geral das Actividades Culturais actualiza normas discutidas com DGS. “Finalmente”, há “igualdade na retoma de espectáculos culturais”, diz ProToiro.

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Os forcados vão fazer testes devido à proximidade que mantêm durante a tourada Reuters/RAFAEL MARCHANTE

A temporada taurina retoma com praças com lotação de 50%, uma reivindicação do sector que viu este sábado ser publicada pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) uma actualização às normas discutidas com a Direcção-Geral da Saúde (DGS).

“O que hoje nos deixa satisfeitos é que finalmente – porque foi preciso um mês e meio – há um tratamento de igualdade na retoma de espectáculos culturais”, referiu, à agência Lusa, Hélder Milheiro, secretário-geral da ProToiro - Federação Portuguesa de Tauromaquia.

O responsável reagia à publicação pelo IGAC de uma actualização às normas que permitem a retoma das corridas e espectáculos taurinos.

Anteriormente, as autoridades ligadas à saúde e à cultura apontavam para uma lotação nas praças inferior a 50%, mas a norma 26 foi actualizada este sábado, lendo-se que “deve ser garantida a existência de um lugar de intervalo entre cada lugar ocupado [excepto se coabitantes], cumprindo sempre que possível o distanciamento de um metro entre cada pessoa, na mesma fila”, o que na prática resulta na possibilidade de ocupação das praças em cerca de metade da lotação habitual.

O documento publicado no site do IGAC adverte, no entanto, que “nas praças onde a distância entre filas é inferior a 80 centímetros [referindo-se ao espaço do assento] deve ser garantida uma fila livre [sem ocupação] entre cada fila ocupada”.

Sobre este dado, Hélder Milheiro explicou que esta imposição recai sobre “um número muito limitado de praças”, talvez “uma mão cheia delas e não mais”. “Nas restantes praças, podem ser ocupadas todas as filas, desde que os lugares ocupados estejam desencontrados. As filas e os lugares a ocupar devem estar devidamente sinalizados”, diz.

“As normas anteriores obrigavam a ter uma fila desocupada de separação entre cada fila ocupada, enquanto as outras actividades [culturais] não é assim. Isso inviabilizava o espectáculo em termos financeiros. Já 50% da lotação é muito complicado, um quarto ou um terço é inviável”, referiu Hélder Milheiro.

O responsável frisou que o sector tem “uma enorme preocupação com a segurança e a saúde pública” e “quer aplicar todas as precauções e normas de segurança necessárias”, mas reiterou a exigência de “igualdade de tratamento com todas as áreas culturais”.

Testes aos forcados

Outras das alterações introduzidas no documento, que substitui um anterior publicado em 22 de Junho, refere-se aos testes ao novo coronavírus que serão realizados aos forcados com uma antecedência de 36 horas.

“Os forcados vão fazer testes pela proximidade [que mantêm] entre eles [durante o espectáculo]. Não temos nenhum problema quanto a isso. Antes era obrigatório o teste com 24 horas e agora pode ser com 36 o que é positivo por motivos logísticos”, comentou Hélder Milheiro.

O “novo normal” da tauromaquia inclui ainda, descreveu à Lusa a ProToiro, “uma grande redução de pessoas na trincheira”, algo que “não é visível ao público” que, no entanto, se poderá surpreender com a ausência das tradicionais voltas à arena, algo eliminado “para evitar movimentação de pessoas na bancada”.

Reuniões e algemas

A publicação desta actualização acontece depois de reuniões entre o sector e as autoridades culturais e de saúde, bem como de protestos como o que levou em 1 de Junho cerca de uma centena de artistas de tauromaquia a concentrar-se junto ao Campo Pequeno, numa manifestação contra a não reabertura dos espectáculos tauromáquicos.

Nesse dia, os toureiros António Telles, Luís Rouxinol, Rui Fernandes e José Luís Gomes algemaram-se ao portão do Campo Pequeno, exigindo a retoma das actividades.

Em 6 de Junho, numa visita a Évora, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que os espectáculos tauromáquicos seriam retomados “assim que as regras” para esse reinício “estiverem aprovadas” pela DGS.

Já em 1 de Julho, em Elvas, nas cerimónias de reabertura das fronteiras, que juntaram os chefes de Estado e de Governo de Portugal e Espanha, o presidente da Associação Nacional de Toureiros, Nuno Pardal, explicou a sua presença no evento por ser “importante” estar junto do poder político quando o sector está “parado” e exige “igualdade” para que possam desenvolver a sua actividade.

“Queremos trabalhar”, resumiu no sábado, à Lusa, Hélder Milheiro, lembrando as “grandes dificuldades” do sector devido à sazonalidade e aos custos associados com os animais, estimando a ProToiro que para tratadores, veterinários, e alimentação cada cavaleiro necessite de “pelo menos” 5.000 euros por mês.

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