O Governo espanhol pretendia começar a testar as camadas mais amplas da população com testes rápidos ao coronavírus. No entanto, vários laboratórios de microbologia dos grandes hospitais explicam que estes mesmos testes não funcionam bem.
Segundo o jornal El País, que cita uma fonte que participou nos testes, os resultados preliminares das análises feitas com os kits recém-chegados da China não correram como previsto.
Os testes rápidos, fabricados pela empresa chinesa Bioeasy, com sede em Shenzhen, têm uma sensibilidade de 30%, quando deve ser superior a 80%, indicam essas fontes.
Os especialistas concluíram que o melhor seria continuar a usar o teste atual, baseados numa técnica molecular designada PCR (reação em cadeia da polimerase).
No entanto, a Embaixada da China em Espanha garantiu que os kits de teste rápido adquiridos pela Espanha para diagnosticar os casos do Covid-19 mais rapidamente foram comprados a uma empresa sem licença.
O Ministério do Comércio da China ofereceu ao Ministério da Saúde espanhol "uma lista de recomendações de fornecedores classificados". Nessa mesma lista não consta a Bioeasy, segundo informações deixadas na conta oficial da embaixada na rede social Twitter.
A embaixada afirma ainda que a empresa ainda não possui uma "licença oficial da Administração Nacional de Produtos Médicos da China para vender os seus produtos".
Respecto a la información publicada recientemente por algunos medios españoles sobre los test rápidos de #COVID2019 comprados por #España a #China, informamos de lo siguiente
— Embajada de China en España (@ChinaEmbEsp) March 26, 2020
Os testes rápidos funcionam de maneira semelhante aos testes de gravidez: a amostra é retirada da área da zona do nariz, é diluída e depositada num cartucho com uma tira de teste que marca as linhas e indica se é positiva, negativa ou inválida. Os testes detetam a presença de antígeno e o resultado é obtido em 10 ou 15 minutos.
O governo espanhol adquiriu 340.000 exames e pretendia testar os trabalhadores da saúde e os idosos admitidos nas residências para depois depois estendê-la a outra população.
As áreas da Galiza, Andaluzia e Madrid estão a realizar testes rápidos, em que uma amostra é retirada do paciente sem que este saia do carro.
Estes testes comprados à China serviram como triagem, ou seja, quando detetam um positivo, o doente já pode ser diagnosticado e tratado adequadamente.
Se o teste chinês tivesse qualidade suficiente, apenas os resultados negativos ou duvidosos exigiriam uma PCR subsequente para confirmar, refere a mesma publicação junto das fontes indicadas.
Ou seja, devido à baixa sensibilidade do material comprado da Bioeasy, não é possível fazer uma grande triagem e testar parte da população, uma vez que é sempre necessário fazer o trabalho de PCR, ou seja, em muitos casos os pacientes teriam de ser testados novamente em laboratório.
A Sociedade Espanhola de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica (SEIMC) emitiu um comunicado, ao qual o El País teve acesso, informando as autoridades de saúde espanholas de que não é recomendado utilizar estes testes rápidos, e sim continuar com os testes de PCR.
O documento SEIMC garante que um "diagnóstico rápido desses casos no nível hospitalar seja relevante para identificar, isolar e tratar rapidamente" pacientes e facilitar "a descongestionação de emergências". "Para isso, precisamos de testes rápidos com alta sensibilidade", acrescenta.
O Ministério da Saúde confirmou também à publicação espanhola os fracos resultados das análises de sensibilidade e especificidade. Foi posteriormente dada ordem ao fabricante para que substituísse os testes e que os mesmos, quando adquiridos pelo governo espanhol, sejam aprovados para uso na Europa.
O Instituto de Saúde Carlos III publicou um vídeo na sua conta na rede social Twitter a explicar como é que estes testes funcionam.
Espanha está a seguir a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao estender os testes à Covid-19 a mais camadas da população. Em declarações ao El País, o coordenador de Emergências do Ministério da Saúde, Fernando Simón, informou que existem cerca de 9 mil testes defeituosos, validados no Instituto de Saúde Carlos III e em hospitais da Comunidade de Madrid. As autoridades de saúde verificaram que os dados incluídos nos certificados de qualidade "com marcação CE" não eram verdadeiros, o que levou à devolução dos lotes, explicou.Investigadores del Centro Nacional de Microbiología #ISCIII describen paso a paso en este vídeo cómo se utilizan los test rápidos que detectan antígenos de #coronavirus #SARS_CoV_2 para diagnosticar la #COVID_19.#DivulgaciónISCIII @cienciagob @sanidadgob @SaludPublicaEs pic.twitter.com/xcbfOxExfq
— Instituto de Salud Carlos III (ISCIII) (@SaludISCIII) March 24, 2020