Passos Coelho reaparece e prefere falar do passado do que do futuro

Antigo primeiro-ministro elogiou coragem de Carlos Moedas mas evitou falar do futuro político do ex-comissário.

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Pedro Passos Coelho liderou a apresentação do livro de Carlos Moedas Nuno Ferreira Santos
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Na primeira fila sentaram-se alguns passistas Nuno Ferreira Santos
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Pinto Luz e Montenegro ficaram lado a lado Nuno Ferreira Santos
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Teresa Morais marcou presença Nuno Ferreira Santos
Marcus Antonius
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Passos surgiu com novo look Nuno Ferreira Santos
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Carlos Moedas é o autor do livro Nuno Ferreira Santos
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Carlos Coelho, Carlos Carreiras, Nuno Crato e Emídio Guerreiro Nuno Ferreira Santos
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Hora dos autógrafos Nuno Ferreira Santos

A apresentação do livro do ex-comissário europeu Carlos Moedas Vento Suão: Portugal e a Europa foi o pretexto para Pedro Passos Coelho revelar episódios de bastidores sobre a escolha, há seis anos, do seu então secretário de Estado-adjunto no Governo para o cargo em Bruxelas. Numa sala a transbordar – onde o passismo estava em peso – o antigo primeiro-ministro deixou apenas uma crítica ao actual Governo por ter escolhido a pasta dos fundos estruturais: “Não percebo porque é que o Governo a quis – somos grandes beneficiários dos fundos a não ser para fazer propaganda no país, não serve para mais nada”.

Foi dos poucos recados directos que deixou ao actual Governo socialista. Mas, numa intervenção pontuada de ironia, Passos Coelho quis repor a sua perspectiva sobre o processo de escolha de Carlos Moedas para comissário europeu.

O antigo líder social-democrata recordou as reacções negativas do então líder do PS, António José Seguro, à indicação do ex-secretário de Estado, mas também a do actual primeiro-ministro António Costa, que acusou Moedas de ser “o mais ortoxodo” dentro do PSD. “Pareceram-me estas palavras um bocadinho exageradas. Não me parecia ser ortodoxo nem ter uma ideia tão tramontana sobre a Europa”, disse, lembrando depois que o actual Governo fez “uma avaliação muito positiva” do mandato do comissário e que até o “chamou para uma bonita cerimónia”. Foi um dos momentos em que se ouviram risos na sala, que esteve sempre em silêncio enquanto o antigo chefe de Governo interveio.

Na assistência estavam alguns dos vice-presidentes de Passos Coelho como Carlos Carreiras, Teresa Morais, Paula Teixeira da Cruz e Sofia Galvão, mas também os ex-ministros Miguel Relvas e Nuno Crato. Na primeira fila sentaram-se lado a lado Luís Montenegro (o ex-líder parlamentar durante o passismo) e Miguel Pinto Luz. Os dois candidatos à liderança do PSD estiveram perto da ex-líder do CDS Assunção Cristas. Mais discreto na lateral da sala ficou o militante número um do PSD, Francisco Pinto Balsemão, ao lado de Luís Marques Mendes, ex-líder social-democrata e comentador televisivo. Não faltaram alguns deputados como Emídio Guerreiro, Pedro Alves e Fernando Negrão. 

Durante os quase 45 minutos de discurso, Passos Coelho revelou que há seis anos “não tinha a certeza” de que Carlos Moedas pudesse ser comissário europeu por estar a encerrar o programa de ajuda externa, embora tivesse sido o candidato em que sempre pensou para o cargo. “Pareceu-me sempre que tinha o perfil indicado. Porquê? Era um homem da Europa, do mundo, tinha estado nos EUA, em França, era o que se chamava um estrangeirado”, disse.

Falando em tom coloquial, o antigo primeiro-ministro divulgou ainda que foi o próprio nomeado que negociou a pasta que acabou por conseguir (Investigação, Ciência e Inovação) e que o aconselhou a escapar à dos Assuntos Sociais, que foi ponderada: “Ó Carlos, você fuja disso homem porque a Comissão Europeia não tem nenhum instrumento relevante para essa matéria – prepare-se para andar a levar pancada durante cinco anos”.

Recusando falar aos jornalistas no final da sessão num espaço comercial em Lisboa, Passos Coelho aproveitou ainda, na sua intervenção, para explicar por que razão a sua ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, não foi a escolhida por si para o cargo europeu, apesar de lhe ter sido sugerida pelo então presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. “Era ministra das Finanças e a situação que estava a viver num dos bancos – o BES - inspirava-me a maior das preocupações”, disse, rebatendo notícias da época que davam conta da irrelevância da pasta conseguida ou de que o nome de Paulo Portas, o seu parceiro de coligação no Governo, era uma hipótese para o cargo.

Elogiando Moedas pela coragem de tomar posições políticas enquanto exerceu o mandato, Passos não falou directamente do futuro político no PSD do agora administrador da Gulbenkian. Mas deixou um conselho: “Não sei o que quer fazer na vida, faça bom uso do que foi recolhendo pelo caminho”. 

Depois de agradecer a Passos Coelho por ter acreditado em si “antes dos outros”, Carlos Moedas também evitou falar do seu futuro político e preferiu recordar alguns episódios do seu mandato como comissário, sobretudo, o seu esforço para que não se perca a identidade portuguesa. Ao olhar para a sala e ver “tantos ex-colegas” do executivo PSD/CDS, Moedas desabafou: “Naquele Governo, cada dia contava três dias, era como estar numa guerra, numa trincheira”.

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