Internacional

Temperatura na Antártida acima de 20°C liberta icebergue com 170 km para o Atlântico

14 fevereiro 2020 23:15

Jaime Figueiredo

Jaime Figueiredo

Jornalista/Coordenador-Geral de Infografia

polar view

A Antártida registou em 9 de fevereiro um recorde de temperatura de 20,75°C. Na mesma altura, o maior icebergue do mundo libertou-se definitivamente do mar gelado e está prestes a entrar no oceano Atlântico

14 fevereiro 2020 23:15

Jaime Figueiredo

Jaime Figueiredo

Jornalista/Coordenador-Geral de Infografia

O A68 é um icebergue gigante que se libertou da plataforma de gelo Larsen C em julho de 2017 e que durante um ano quase não se moveu. Em 2019, os ventos e correntes começaram a empurrá-lo para norte, ao longo da costa leste da Península Antártica.

No verão, o movimento acelerou rapidamente e em fevereiro deste ano o icebergue chegou ao limite do grande mar de gelo que delimita o continente. Para onde vai agora? Conforme explicam os investigadores da Universidade de Swansea, no Reino Unido, à BBC, o A68 deverá ser empurrado até o oceano Atlântico.

Durante os últimos dois anos e meio, o icebergue perdeu pouco gelo, reduzindo o tamanho de 6000 para 5800 quilómetros quadrados (uma área maior do que o Algarve), mas agora os investigadores acreditam que ele irá partir-se em pequenos blocos. Aliás, é uma surpresa para eles que as ondas do oceano ainda não o tenham tornado em “cubos de gelo”.

A Antártida registou em 9 de fevereiro, na ilha Seymour, um recorde de temperatura de 20,75 graus Celsius, quase um grau superior ao recorde anterior de 19,8 graus Celsius verificado na ilha de Signy em janeiro de 1982.

Os cientistas brasileiros que recolhem dados de 23 estações de monitorização, a cada três dias, descreveram este novo registo como "incrível e anormal", avançou o jornal britânico "The Guardian".

"Estamos a ver a tendência de aquecimento em muitos dos locais que estamos a monitorizar, mas nunca vimos nada assim", referiu o investigador Carlos Schaefer.

Todos estes registos ainda precisam de ser confirmados pela Organização Meteorológica Mundial, mas são consistentes com a tendência que se tem registado na península e nas ilhas mais próximas, que aqueceram quase três graus nos últimos 50 anos. Por esta razão, quase todos os glaciares da região estão a derreter.

O gelo na Antártida funciona como uma rede de rios, com afluentes que correm do interior do continente até formarem colunas de gelo que invadem certas zonas do oceano, a uma velocidade de vários quilómetros por ano.

Entre 1992 e 2019, o fluxo da maior parte dos glaciares, as grandes massas de gelo do Ártico, aumentou entre 20 a 30 centímetros por dia, que corresponde a uma aceleração de 13 por cento na velocidade a que se deslocam.

A aceleração é causada pela temperatura da água em frente aos glaciares, que é relativamente quente e salgada e consegue derreter o gelo na base dos mesmos, o que reduz a fricção e lhes permite moverem-se livremente.

A Antártida armazena cerca de 70% da água doce do mundo na forma de neve e gelo. Se tudo derretesse, o nível do mar aumentaria 57,6 metros.