Governo anuncia edital para pesquisas sobre efeitos de óleo nas praias e mar de Pernambuco
Diante dos estudos que demonstram a possibilidade da chegada de mais óleo ao litoral pernambucano, o governo de Pernambuco lançou, nesta quarta-feira (23), um edital de R$ 2,5 milhões para 12 projetos de pesquisa sobre os atuais e futuros impactos desse desastre para o meio ambiente e a economia. O anúncio foi feito após uma reunião com pesquisadores e representantes de secretarias estaduais no Palácio do Campo das Princesas, no Centro do Recife (veja vídeo acima).
Convocado pela Academia Brasileira de Ciências, o encontro durou cerca de três horas e teve a presença de instituições como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que, através de estudos do departamento de Oceanografia, constatou a possibilidade de o litoral nordestino receber mais óleo.
Manchas de óleo chegam à Praia do Janga, em Paulista, no Grande Recife, nesta quarta-feira (23) — Foto: Reprodução/TV Globo
"Cerca de 30% a 40% de tudo que a gente está vendo ainda está no oceano. Muito provavelmente não vamos acabar com isso de hoje para amanhã", afirmou o vice-reitor da UFPE, Moacyr Araújo.
"A corrente geral traz da África para a América. Nesse exato momento, com a configuração geofísica de ventos, a corrente passeia pelo Nordeste. Portanto, em determinado momento, a corrente vai empurrar mais para perto do estado em que ela está na frente", disse Araújo.
"O governo tem feito o gerenciamento da crise, mas tem todo um desdobramento porque trata-se de um fato novo. Todos esses impactos precisam ser estudados cientificamente e Pernambuco tem competência para isso", declarou o representante da Academia Brasileira de Ciências.
Edital
Com as 489 toneladas de resíduo retiradas de oito municípios do estado entre o dia 17 de outubro e a terça (22), a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) vai lançar um edital para estudar os impactos do material na vida marinha, na saúde e na economia (veja vídeo abaixo).
Governo anuncia lançamento de edital para 12 projetos de pesquisa sobre óleo no litoral
"São vários projetos em várias áreas para medir a qualidade da água, se está apta ou não para o banho, a questão dos pescados. Isso é para curto, médio e longo prazo. O orçamento está assegurado", afirmou o secretário de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Aluísio Lessa.
A previsão é de que o edital seja lançado até sexta-feira (25). De acordo com a Facepe, qualquer instituto público ou privado pode participar da seleção.
"Nós temos um período relativamente curto. Esse edital foi amplamente discutido e, até o final de outubro, vamos ter o retorno do encaminhamento das propostas", diz o presidente da Facepe, Fernando Jucá.
Mutirão limpa parte do óleo que alcançou a Praia de Barra de Jangada, nesta quarta-feira (23) — Foto: Reprodução/TV Globo
Caminho do óleo no estado
Os primeiros registros de manchas de óleo em praias de Pernambuco ocorreram no final de agosto e no começo de setembro, mas o litoral do estado estava limpo desde o dia 25 de setembro, quando a costa pernambucana voltou a ser atingida pela substância na quinta-feira (17).
A reincidência das manchas de óleo em Pernambuco começou pelo município de São José da Coroa Grande, que teve a situação de emergência reconhecida pelo governo federal. Barreiros, Tamandaré, Rio Formoso, Sirinhaém, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho são outras cidades que registraram o produto desde então.
Praias de Jaboatão dos Guararapes são atingidas por manchas de óleo
Desde a terça-feira (22), o Exército passou a trabalhar também na limpeza do litoral pernambucano, após determinação do vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB). Antes, na noite da terça-feira (22), o produto foi detectado em praias de Jaboatão dos Guararapes, também na Região Metropolitana (veja vídeo acima).
Na manhã desta quarta-feira (23), as manchas de óleo atingiram a praia do Janga, em Paulista, no Grande Recife. Peixes foram encontrados mortos no local, próximos ao produto (veja vídeo abaixo).
Óleo chega à Praia do Janga, no Litoral Norte de Pernambuco
De acordo com especialistas, o impacto do óleo no meio ambiente vai durar décadas, com prejuízo para espécies marinhas, para toda a cadeia alimentar e para os seres humanos. Além do recobrimento de praias, arrecifes, mangues e solos rochosos, que são difíceis de serem limpos, os fragmentos se decompõem e há moléculas nocivas ao ecossistema e à fauna.
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