Por Carlos Dias, G1 Sorocaba e Jundiaí


Júlio Ergesse foi condenado a mais de 30 anos de prisão por morte de Vitória Gabrielly — Foto: Carlos Dias/G1

Após quase 11 horas de júri, o servente de pedreiro Júlio Cesar Ergesse foi condenado a mais de 30 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato da adolescente Vitória Gabrielly Guimarães Vaz, de 12 anos, em junho de 2018, em Araçariguama (SP).

Segundo a sentença, que foi lida pelo juiz Flávio Roberto de Carvalho, Júlio foi condenado a 18 anos por homicídio, 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver e 3 anos por sequestro.

Com as qualificadoras de motivo torpe, meio cruel, recurso que impossibilitou a defesa e crime cometido para ocultar, a condenação chega a 34 anos no total.

Ainda de acordo com a sentença do júri popular, o histórico do réu mostrou que sempre esteve em crimes graves e “péssima conduta social”.

De acordo com o advogado de defesa do Júlio, Glauber Bez, ele irá entrar com recurso. "Não concordamos com a decisão, porque é contrária com o que tem no processo. Foi provado que ele não estava lá no evento morte", afirmou.

Vitória Gabrielly foi morta em junho de 2018 — Foto: Reprodução/TV TEM

O julgamento foi realizado no Fórum de São Roque (SP) e o G1 acompanhou desde a manhã. Os pais da Vitória, Rosana Guimarães e Luiz Alberto Vaz, estiveram na audiência. Após condenação do réu, a família chorou emocionada.

"Estou muito feliz pela sentença e pelo promotor. Deus está fazendo justiça pela morte da minha filha", afirmou Rosana Guimarães.

Além de Júlio, foi acusado pela morte da garota o casal Bruno Oliveira e Mayara Abrantes. Os dois ainda não tiveram a data do julgamento definida, pois a defesa entrou com recurso na Justiça para tentar impedir a decisão de júri popular. Com isso, o processo foi desmembrado.

Como foi o júri

Começa o julgamento do caso Vitória Gabrielly, morta no ano passado

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Júlio chegou ao Fórum às 8h57, pouco antes do início da audiência, que começou por volta das 9h30. Nove testemunhas foram ouvidas, entre elas, um amigo de Júlio, que relatou que foi procurado por ele três dias após a garota desaparecer.

“O Júlio estava alterado quando me procurou, muito nervoso. Dei água com açúcar e insisti para falar o que tinha acontecido. O Júlio disse que não sabia onde tinham deixado a menina. Me senti na pele dos pais da menina, mesmo considerando o Júlio um irmão”, contou a testemunha durante a audiência.

Testemunha de crime em Araçariguama chegou ao Fórum de São Roque para júri protegida pela polícia. Caso Vitória — Foto: Carlos Dias/G1

Ainda conforme a testemunha, ele e Júlio se falaram no dia 11 de junho de 2018, três dias depois da adolescente Vitória ter desaparecido. Conforme depoimento, a testemunha negou envolvimento dela no caso, disse que conhece o Júlio há 11 anos e que nunca brigaram.

Quem também iria falar sobre o trabalho da polícia seria o ex-chefe da investigação de Araçariguama Marcos Pereira Gomes, conhecido como Marcão.

No entanto, o policial morreu ao sofrer um infarto na academia, em São Roque, em abril deste ano. No lugar dele quem prestou esclarecimentos foi a delegada Bruna Racca.

A delegada disse que, com o uso dos cães farejadores, o Júlio não foi identificado no local onde o corpo foi encontrado.

Advogado da família da Vitória, morta em Araçariguama, atendeu a imprensa antes do início do júri em São Roque: 'Estamos confiantes na condenação' — Foto: Carlos Dias/G1

Ainda segundo Bruna, a maioria dos carros vistoriados nas imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia foi identificada. Nenhum era dos réus.

A delegada disse que foram feitas acareações e que, em nenhum momento, o Júlio se colocou no homicídio, apenas no momento que a garota foi sequestrada.

Já Júlio fez seu depoimento somente na presença dos advogados de defesa e acusação e do júri durante a tarde.

A medida foi estabelecida pelo juiz Flávio Roberto de Carvalho, que pediu a todos que estavam presentes no auditório para se retirarem durante o depoimento de Júlio Cesar Ergesse.

Debates

Começa, em São Roque, o julgamento do caso Vitória Gabrielly

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Após o depoimento de Júlio, houve a fase dos debates. O promotor Washington Luiz Rodrigues Alves afirmou que Júlio admitiu o envolvimento no sequestro e que teria segurado a menina no carro, que ainda não foi identificado.

Segundo o promotor, Júlio teria ficado dentro do veículo enquanto a adolescente foi levada para a mata. Ainda de acordo com promotor, foram encontradas roupas do Júlio dentro do carro e uma peça íntima no meio das peças com esperma do réu.

Já o advogado de defesa Glauber Bez pediu aos jurados a absolvição do Júlio no homicídio. Segundo ele, nada coloca o réu no local do crime. Ele se embasou também nos depoimentos dos treinadores dos cães.

Relembre o caso

Mayara, Bruno e Júlio foram presos acusados de participação direta na morte da menina. Os três estão na penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba (SP). Eles já foram ouvidos pelas polícia e Justiça e negaram os crimes.

Vitória Gabrielly desapareceu na tarde do dia 8 de junho de 2018, quando saiu de casa para andar de patins, em Araçariguama.

Câmeras de segurança flagram garota antes de desaparecer em Araçariguama

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A adolescente foi encontrada morta oito dias depois, em 16 de junho, em uma mata às margens de uma estrada de terra, no bairro Caxambu.

Segundo a polícia, a garota estava com os pés e as mãos atados e o corpo amarrado a uma árvore. Vitória usava a mesma roupa que vestia no dia em que sumiu e os patins foram encontrados perto do corpo.

A morte da menina comoveu a cidade de Araçariguama, que se mobilizou para encontrá-la. Cerca de duas mil pessoas participaram do enterro no cemitério da cidade.

O inquérito que investigou a morte da adolescente contém 1.774 páginas e foi encaminhado à Justiça no ano passado. Dias depois, a Polícia Civil abriu um segundo inquérito para realizar buscas pelo suspeito de integrar a cúpula do tráfico de drogas na região e que estaria envolvido no crime.

Na época do crime, a polícia apurou que Vitória foi raptada por engano para que uma dívida de drogas fosse quitada. A menina teria sido morta depois que os criminosos perceberam que estavam com a pessoa errada.

Muitas pessoas acompanham o júri de Júlio Ergesse, acusado de matar Vitória Gabrielly em Araçariguama — Foto: Carlos Dias/G1

Quarto suspeito

O quarto suspeito de participação no crime foi preso no dia 21 de maio e reconhecido através de fotos por duas testemunhas protegidas. Odilan Alves, de 36 anos, morava em Itapevi (SP) e confessou que comandava o tráfico de drogas na região de Araçariguama.

A identificação dele como suposto mandante do crime foi possível em função de características passadas por uma testemunha protegida em depoimento ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em São Paulo.

No dia 6 de junho, três jovens foram apreendidos no bairro Jardim Brasil, em Araçariguama, suspeitos de trabalharem para o traficante.

Ao fim do inquérito, Odilan pode responder por tráfico de drogas, associação criminosa e também pela morte de menina.

Patins foram encontrados ao lado do corpo da menina Vitória, em um matagal — Foto: Witter Veloso/TV TEM

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