Por Graziela Azevedo, Bruno Azevedo e Walter Barroso, TV Globo


Pesquisa da USP descobre molécula capaz de diminuir agressividade de tumores em crianças

Pesquisa da USP descobre molécula capaz de diminuir agressividade de tumores em crianças

Pesquisadores brasileiros identificaram pela primeira vez uma molécula que pode reduzir a agressividade de tumores embrionários do sistema nervoso central, responsáveis por uma espécie de câncer mais comum em crianças.

A bióloga da Universidade de São Paulo (USP) Carolini Kaid é uma das responsáveis pela descoberta da molécula chamada microRNA-367, que foi publicada em agosto pela revista europeia "Molecular Oncology".

"O que eu descobri é uma maneira de inibir a agressividade do tumor", disse Kaid. "Quando a gente tratou o inibidor dessa molécula, alguns camundongos não geraram tumor; e os que geraram, foram tumores benigno, pequenos, que poderiam ser tratados com quimio ou radioterapia."

A bióloga explicou que os resultados foram "impressionantes" nas cobaias que receberam células de crianças com câncer. Ela defendeu que este processo pode ser rapidamente aplicado em hospitais para direcionar o tratamento de câncer pediátrico.

Entretanto, antes de começar os estudos clínicos, os pesquisadores explicam que são necessários testes sobre a toxicidade desta molécula em sua versão sintética. Além disso, precisam entender melhor como ela é metabolizada e quanto tempo pode permanecer no organismo.

Célula tumoral de camundongo utilizada em pesquisa que reduz a agressividade de câncer em crianças — Foto: Reprodução/Molecular Oncology

Investimento público

A pesquisadora destacou que a descoberta aconteceu após seis anos de dedicação exclusiva a este projeto, e que só foi possível seguir por conta da oferta de bolsas de mestrado e doutorado, que são o salário dos cientistas.

"Se não tivesse a bolsa eu teria que parar o estudo no meio do caminho, e talvez essa tecnologia nunca chegaria pra favorecer pacientes na clínica", disse Kaid sobre o cenário atual de redução nos investimentos para a ciência.

A pesquisadora Mayana Zatz, da USP — Foto: Caio Kenji/G1/Arquivo

A cientista Mayana Zatz, chefe do centro responsável pela descoberta, defendeu a importância do investimento contínuo na ciência.

"A gente descobriu um tratamento pra câncer brasileiro, isso vai ser acessível aos pacientes num custo infinitamente menor se a gente tiver que importar", disse. "É isso que o governo tem que olhar: investir hoje pra colher daqui a quatro, cinco anos. Mas isso não pode parar."

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Ciência e Tecnologia para perguntar sobre os investimentos em pesquisa no Brasil. Leia o que respondeu a pasta em nota:

"Diante das restrições orçamentárias o Ministério tem dado prioridade ao pagamento das bolsas do Cnpq e atuado junto ao Ministério da Economia e ao Congresso para aumentar os recursos."

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