Por Pedro Alves, G1 PE


Atores e diretores de Bacurau falam sobre filme e acompanham pré-estreia no Recife

Atores e diretores de Bacurau falam sobre filme e acompanham pré-estreia no Recife

"Precisamos admitir que existe uma tensão entre Nordeste e o resto do Brasil. 'Bacurau' é sobre existir como brasileiro, sendo do Nordeste, e sobre ser brasileiro em relação ao resto do mundo", afirma o cineasta Kleber Mendonça Filho, que divide com Juliano Dornelles a direção do filme "Bacurau". A declaração foi feita, neste sábado (24), no Recife. (Veja vídeo acima)

O longa, premiado no Festival de Cannes, no Festival de Cinema de Munique e no Festival de Cinema de Lima, na França, Alemanha e Peru, respectivamente, tem pré-estreia neste sábado (24), no Cinema São Luiz, Centro do Recife. Esta é a primeira sessão aberta ao público no cinema de rua mais tradicional da capital pernambucana.

Em coletiva de imprensa realizada em Boa Viagem, na Zona Sul, o elenco de "Bacurau" falou sobre a trama e sobre a circulação do filme internacionalmente. Estiveram presentes, além dos diretores, a produtora Emilie Lesclaux, a atriz Sônia Braga e parte dos atores e corpo técnico responsável.

Elenco de Bacurau participa de pré-estreia no Recife — Foto: Pedro Alves/G1

Segundo Juliano Dornelles, "Bacurau" é um filme que fala sobre história e resistência. O filme conta a história de um povoado no Sertão do Nordeste que misteriosamente some do mapa. Isso desencadeia uma série de acontecimentos praticados contra a população do local.

"É um filme sobre o coletivo, sobre pessoas que se organizam para sobreviver. Fala sobre a nossa história, do Nordeste, que é marcada pela violência. Temos elementos de vida e compaixão associados ao conflito e à tensão que há num filme de ação", diz Dornelles.

Assista ao trailer do filme Bacurau

Assista ao trailer do filme Bacurau

Ainda segundo Juliano Dornelles, a receptividade do público tem animado os diretores. Ele afirma que questões como seca, isolamento e ameaças são postas em cena no filme, numa obra que dialoga, de certa maneira, com os filmes de faroeste, sob uma ótica marcadamente brasileira. (Veja vídeo acima)

"Eu e Kleber somos pernambucanos e temos uma preocupação de fazer um filme que tenha relação com a nossa vida. 'Bacurau' fala sobre muito da nossa história e posiciona questões muito locais de maneira muito universal. O povo nordestino tem longa história de resistência e resiliência em relação de dificuldades impostas a ele", declara Dornelles.

Sobre a expectativa para o Oscar, uma das principais premiações do cinema mundial, os diretores afirmam que 'Bacurau' tem elementos suficientes para ser o representante brasileiro na competição.

"Neste ano, 'Bacurau' é o filme que está carregando o maior prestígio internacional e local para representar o Brasil no Oscar. Mas a decisão é tomada por uma comissão, que é, espero, totalmente autônoma", diz Juliano Dornelles.

Sônia Braga é uma das estrelas de Bacurau — Foto: Pedro Alves/G1

De volta a Bacurau

"Bacurau" foi filmado no povoado de Barra, localizado a 24 quilômetros da cidade de Parelhas, no Rio Grande do Norte. Na quinta-feira (22), ele foi exibido no local, numa sessão ao ar livre. Segundo Sônia Braga, uma das estrelas do filme, a estreia foi emocionante.

"Na entrada da cidade, no filme, tem uma árvore. Sempre adorei essa árvore e me senti como ela, como se nunca tivesse saído de lá e tivesse criado raízes mais profundas. Eu falava com as pessoas locais, perguntava sobre a estrada, sobre as melhorias que pedimos ao governo. Posto de saúde, correio, escola, praça. O filme foi muito democrático da forma como foi feito e como foi oferecido à plateia", diz Sônia Braga.

A atriz aproveitou para fazer um alerta sobre as queimadas na Amazônia. Os incêndios foram inseridos na pauta do G7, cúpula das sete grandes economias mundiais, que vai até segunda-feira (26) em Biarritz, no sudoeste da França.

"Estamos passando por esse momento, que é muito sério. Estamos aqui falando sobre cinema, sobre arte, mas também sobre o nosso futuro", diz Sônia Braga.

Sobre a exibição do filme em Parelhas, a produtora Emilie Lesclaux afirma que a receptividade do público foi grande. Houve caravanas de pessoas que, mesmo não sendo do povoado de Barra, foram prestigiar a exibição no local que, nas telas, tornou-se Bacurau.

"Havia mais de 2 mil pessoas no local, num povoado onde vivem cerca de 80 moradores", afirma.

A figurinista Rita Azevedo foi a responsável pela caracterização dos personagens de "Bacurau". Segundo ela, a ideia principal era retratar moradores do sertão, sem estigmatizá-los.

"Precisávamos colocar em cena o sertão de 2019, diferente do de 1980. Isso inclui a interferência do mercado chinês, das marcas falsificadas e do jeans que vem de Toritama [no Agreste pernambucano] e é distribuído para todo o Nordeste. Temos modelagens diferentes para causar estranhamento, mas com elementos de realismo, porque a população do sertão foi importante para construir os personagens", afirma Rita.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!