Política Eleições 2022

Partidos de oposição tentam definir regras de federação, mas enfrentam resistências no PSB e PT

Em reunião, dirigentes propuseram assembleia geral com presidência rotativa. Bloco contaria também com PCdoB e PV
Os presidentes do PSB, Carlos Siqueira, do PT, Gleisi Hoffmann, e do PCdoB, Luciana Santos: esquerda ensaia formar federação, mas ainda há resistências Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo / 15/10/2018
Os presidentes do PSB, Carlos Siqueira, do PT, Gleisi Hoffmann, e do PCdoB, Luciana Santos: esquerda ensaia formar federação, mas ainda há resistências Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo / 15/10/2018

BRASÍLIA — Em meio às resistências para formar a federação, dirigentes do PT, PSB, PCdoB e do PV se reuniram nesta quarta-feira em busca de um consenso para viabilizar o bloco. A fim de fazer frente aos temores de que um partido se sobreponha aos demais caso a federação seja criada, os dirigentes propuseram a criação de uma assembleia geral com presidência rotativa e um quórum mínimo para aprovação de pautas. Porém, pessebistas e petistas continuam refratários.

Leia: Lula descarta Dilma em um futuro governo: 'Tem muita gente nova no pedaço'

Da parte do PSB, há uma forte resistência interna a formar a federação com PT, e um dos motivos para isso é o pleito municipal de 2024. Segundo um interlocutor do partido, foi feita uma consulta interna com os 250 prefeitos pessebistas e 80% se manifestaram contrários ao bloco. Um dos opositores da ideia é o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que polarizou com o PT de sua prima, Marília Arraes, na disputa municipal em 2020, da qual saiu vencedor.

O impasse se dá justamente na falta de clareza de como serão escolhidos os milhares de candidatos a prefeito e vereador nas eleições de 2024 — a federação amarra os partidos e os força a agirem como uma sigla só por pelo menos quatro anos. E as dinâmicas de cada localidade diferem muito da nacional.

Veja também: Lula descarta Dilma em um futuro governo: 'Tem muita gente nova no pedaço'

Ainda que não afirmem publicamente, pessebistas dizem que a federação não irá para frente. Mesmo assim, na reunião de hoje, tentaram achar consenso com as outras siglas.

De acordo com os participantes do encontro, foi decidido que, para evitar que um partido se sobressaia aos demais, a federação será comandada por uma assembleia geral cuja presidência será rotativa. A distribuição das cadeiras do colegiado será de acordo com o desempenho nas urnas de cada partido. Por essa lógica, o PT ficaria com 27 vagas na assembleia, PSB, 15, PCdoB e PV, 5 cada.

Ainda não foi definido qual seria a duração do mandato do presidente da assembleia, nem quando sua composição seria renovada. Essas questões ainda estão em fase de conversa, segundo os participantes da reunião de hoje, e só devem ser definidas caso a federação realmente vá para frente.

Outra regra discutida na reunião de hoje foi o regime para a aprovação de decisões e pautas na assembleia. De acordo com o deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE), a proposta é de que seja necessário um quórum mínimo de acordo com a maioria qualificada, isto é, dois terços do colegiado.

— Vamos tentar superar as questões por consenso. Mas caso isso não aconteça, para aprovar algo será necessário um quórum mínimo — explica Renildo.

Entrevista: 'Além de amortecedor, agora eu sou um para-raio do Posto Ipiranga', diz Ciro Nogueira sobre Paulo Guedes

Apesar da proposta, o PSB continuaria sendo abafado pelo PT dentro da federação, na avaliação de outro dirigente pessebista. Mesmo que seja adotado o regime de maioria qualificada para aprovação de pautas na assembleia, os petistas continuariam se sobressaindo às demais siglas, já que, ocupando 27 cadeiras do colegiado, eles necessitariam do apoio de apenas mais seis membros da executiva para alcançar os dois terços necessários.

Na entrevista coletiva dada pelos dirigentes dos quatro partidos, o próprio presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, admitiu que há entraves internos na legenda que dificultam que a federação seja consolidada.

— Todos nós entendemos que é uma instituição nova, complexa e que tem profundas implicações na vida dos partidos, na vida eleitoral e até mesmo na vida política nacional. Portanto não é uma coisa simples de se realizar — afirmou Siqueira, que completou que as propostas elaboradas na reunião serão apresentadas aos demais dirigentes de cada legenda para, então, decidir a possibilidade de firmar a federação ou não.

Se no PSB as resistências contra a federação só aumentam, no PT o interesse também esfriou. A diferença é que os petistas evitam contrariar as orientações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem defendido abertamente a criação do bloco. Para ele, a federação é fundamental para aumentar a bancada da centro-esquerda e, caso seja eleito, lhe garantir governabilidade.

Leia: Aras rebate relatório e diz que não existe 'alinhamento sistemático' da PGR com Bolsonaro

Nos bastidores, no entanto, dirigentes petistas costumam tratar o assunto como "secundário" e independente da aliança que está sendo forjada para endossar a candidatura de Lula. Eles argumentam que não é preciso uma federação para ter o apoio da esquerda em favor do ex-presidente. E que, no fundo, o novo dispositivo eleitoral só serve aos partidos pequenos para driblar a cláusula de barreira.

PCdoB e PV, por sua vez, veem a federação como uma forma de sobrevivência. Com apenas oito deputados do PCdoB na Câmara e quatro do PV, as duas legendas temem não conseguir atingir a cláusula de barreira nas eleições deste ano e, por consequência, não poder ter acesso aos fundos partidário e eleitoral. PT e PSB, por sua vez, têm 53 e 30 representantes na Casa, respectivamente.