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Por Jornal Nacional


População em situação de rua cresce 31% em 2 anos em SP, mostra censo

População em situação de rua cresce 31% em 2 anos em SP, mostra censo

Um censo da prefeitura de São Paulo deu dimensão numérica a um drama social presente em todo Brasil: o de cidadãos vivendo nas ruas.

As imagens de um colchão, de bancos, espelho e carpete podem lembrar uma casa. Só que estes objetos são de um lar improvisado no meio de uma praça. O único que o vendedor ambulante Fernando Lopes encontrou para viver com a família quando a pandemia chegou, em 2020.

“Ninguém andando na rua, então não teve mais como trabalhar. Aí a gente teve que entregar a casa. Não tem como manter uma casa sem dinheiro”, lembra Fernando Lopes.

Situações como a do Fernando se multiplicaram nas ruas de São Paulo nos últimos dois anos. E cenas que sempre foram mais comuns na região central da cidade, agora se espalham para outros.

“Inicialmente isso foi muito chocante, depois isso começa a fazer parte de uma espécie de paisagem e as pessoas começam a se anestesiar para essa existência e incorporar como isso fosse absolutamente normal”, alerta Raquel Rolnik, urbanista e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

A opinião da professora de Urbanismo da USP também é compartilhada por Fernando Braga, doutor em Psicologia Social.

“Aquilo que se convencionou conhecer como invisibilidade publica, que na verdade nós nos tornamos cegos diante dessa situação. Essas pessoas não são invisíveis. Elas estão ali. Nós é que nos tornamos cegos”, analisa Fernando Braga.

O censo da população, divulgado nesta segunda-feira (24) pela prefeitura de São Paulo, revela dados alarmantes. São quase 32 mil pessoas vivendo nas ruas da cidade. Um aumento de 31% na comparação com o censo de 2019. Isso contando quem dorme em abrigos.

O censo identificou ainda um aumento de 330% no número de barracas, na comparação com o levantamento de dois anos atrás.

Os técnicos da prefeitura não sabem dizer exatamente o motivo, mas acreditam que isso esteja ligado à presença cada vez maior de pessoas que estão vivendo nas há menos de um ano.

Pelo menos 27% dos entrevistados disseram que estão nas ruas há menos de dois anos; 29%, entre 2 e 5 anos; 26%, entre 5 e 10; e quase 18 por cento, há mais de 10 anos. O número de famílias também aumentou. Passou de 20%, em 2019, para 28%.

Segundo Fernando Braga, cuidar das pessoas que foram empurradas para a rua é um dever do Estado e não pode ser visto como esmola pela sociedade.

“É como se a gente tivesse suposição de que uma prática do Estado de cuidar das pessoas fabricasse vagabundos. E isso não é verdade, muito pelo contrário. Quem recebe assistência do governo muitas vezes se sente envergonhado por precisar receber essa ajuda. Ele deseja trabalhar, ele deseja engendrar os próprios recursos materiais para voltar a ter uma vida digna”, ressalta o doutor em Psicologia Social.

A prefeitura já dispõe de abrigos mil vagas em hotéis para quem está na rua. Agora criou um programa de moradia temporária para oferecer habitações de 12 a 19 metros quadrados.

O secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, Carlos Bezerra Junior, diz que o objetivo da prefeitura é mudar o jeito de atender essas pessoas.

“A lógica tradicional das políticas públicas para a população em situação de rua é reconhecimento, abordagem, acolhimento, inserção nos programas, saúde, trabalho e, se possível, habitação como último aspecto. Nós estamos virando a chave. Nós vamos trazer moradia primeiro trazendo uma solução humanizada, priorizando uma abordagem diferenciada”, diz Carlos Bezerra Junior.

O ajudante geral Alex Antônio da Fonseca saiu de casa em 2016. Depois de quatro anos vivendo de doações, ele conseguiu um emprego. E já faz planos de uma vida longe das ruas.

”Esse trabalho para mim abre a expectativa de ter minha casa, poder ter o meu descanso, dormir em paz. Não tem mais o risco de ficar tomando chuva, vai dar mais segurança para a minha vida”, deseja Alex Antônio da Fonseca.

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