Rio

Delegado Mauricio Demetrio, depois de sete meses preso pelo MP, deporá em fevereiro na Corregedoria de Polícia Civil

Além dele, mais quatro policiais de sua equipe serão ouvidos por videoconferência, no mesmo dia que o ex-chefe
O delegado Mauricio Demetrio preso em operação do MP Foto: Fabiano Rocha em30/06/2021 / Agência O Globo
O delegado Mauricio Demetrio preso em operação do MP Foto: Fabiano Rocha em30/06/2021 / Agência O Globo

RIO — Sete meses após ser a prisão pelo Ministério Público do Rio (MPRJ), a Polícia Civil decidiu intimar o delegado Mauricio Demetrio Afonso Alves para apurar a cobrança de propinas de comerciantes da Rua Teresa, em Petrópolis. Segundo a denúncia da promotoria, o delegado é o chefe de uma quadrilha formada por policiais civis que trabalhavam com ele, na época em que foi titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). Ao invés de reprimir crimes de falsificação de roupas, conhecida como pirataria, o delegado e seus agentes exigiam dos comerciantes e donos de confecção da Região Serrana, o pagamento em dinheiro para liberar o comércio de produtos ilegais.

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As convocações do delegado e de quatro policiais civis, que integravam sua equipe acusada de cobrar propina do comércio de Petrópolis, foram publicadas no Boletim Interno (BI) da instituição datada de terça e quarta-feiras. Como está preso na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, Bangu 8, Demetrio será ouvido por videoconferência no próximo dia 22, às 10h.  Os outros agentes intimados são: Celso de Freitas Guimarães Junior, Vinicius Cabral de Oliveira, Luiz Augusto Nascimento Aloise e José Alexandre Duarte, sendo este últmo um perito. Todos prestarão depoimento no mesmo dia do delegado. Dependendo do resultado da Sindicância Administrativa Disciplinar, os agentes podem ser expulsos da corporação.

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Delegados da Corregedoria também vão depor

Os delegados da Corregedoria Interna, que iniciaram a investigação contra Demetrio e sua equipe na época; e que compartillharam cópias do procedimento ao MPRJ, que deu prosseguimento ao caso, também serão ouvidos na sindicância contra o ex-titular da DRCPIM e sua equipe. Os delegados Alexandre Ziehe, Robson da Costa Ferreira da Silva, Fábio da Costa Ferreira e Marcelo Machado Portugal Saisse apuraram as denúncias e, segundo o MPRJ,  chegaram a sofrer represálias por parte da suposta quadrilha de Demetrio.

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As investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, que denunciou os policiais civis, descobriu que Demetrio e sua equipe tentaram "plantar drogas"  no carro de Alexandre Ziehe,  para acusá-lo de traficante. No jargão policial, isso significa colocar algo ilegal com uma pessoa para incriminá-la. O plano foi descoberto após a extração de dados de três dos 12 celulares apreendidos de posse de Demetrio, em seu apartamento num condomínio de luxo na Barra da Tijuca. A investigação nos aparelhos eletrônicos foi feita com autorização judicial do juiz auxiliar da 1ª Vara Criminal Especializada, Bruno Rulière.

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Também será ouvida a ex-titular da 105ª DP (Petrópolis) Juliana Menescal da Silva Ziehe, filha do ex-corregedor Alexandre Ziehe, que chegou a ser pesquisada ilegalmente por policiais civis do grupo de Demetrio. Nos aparelhos do delegado havia detalhes da rotina da delegada, fotos de sua residência em Petrópolis e informações sobre o marido dela. O caso afetou a saúde da delegada, que entrou de licença médica por estar com "sindrome de Burnout", também conhecida como "síndrome do esgotamento profissional", doença mental que se manifesta quando a pessoa passa por sério estresse emocional relativo à profissão.

Demetrio se fingiu de mulher para armar falso flagrante em desafeto

O Gaeco também descobriu a farsa imputada por Demetrio ao delegado Marcelo Portugal, que já o investigava desde 2020. O ex-titular da DRCPIM teria sido o mentor de uma operação falsa com a intenção de obstruir e enfraquecer investigações que já estavam em andamento contra ele e seu grupo. Demetrio, ao descobrir que Portugal era sócio de uma confecção na Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio, armou um falso flagrante contra o desafeto.  Fingindo ser funcionária de uma ONG, de nome Ana, Demetrio fez uma encomenda de camisas na confecção de Portugal, com o objetivo de apreendê-las e incriminá-lo. O perito que atuava na delegacia de Demetrio, teria feito um falso laudo sobre os produtos da confecção. Machado foi solto logo após pagar fiança.

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Demetrio também está respondendo a outro procedimento investigatório, desta vez, por obstrução nas investigações do Caso Marielle. As promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile — enquanto estavam à frente da Força-Tarefa responsável por apurar quem mandou matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista dela, Anderson Gomes — descobriram que ele tirou cópias do inquérito policial que estava em segredo de Justiça. Segundo elas, o delegado teve acesso a informações sigilosas. O vazamento foi considerado "gravíssimo" por Simone Sibilio, à época.

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Como o corregedor-geral  da Polícia Civil Paulo Passos Silva Filho está de férias, os depoimentos serão colhidos pelos  delegados auxiliares Sérgio Eduardo Lomba de Araújo e Gilson Emiliano Soares. Eles respondem pela Corregedoria e Subcorregedoria, respectivamente, na ausência do titular.

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Secretaria de Polícia Civil informou que investiga enriquecimento ilícito de Demetrio

Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria de Polícia Civil se manifestou por nota: "O delegado Mauricio Demetrio responde a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na Corregedoria da Polícia Civil, que investiga o possível enriquecimento ilícito. O PAD foi instaurado imediatamente após a Corregedoria receber a denúncia, em agosto de 2021, e está dentro do cronograma normal, buscando atualmente o compartilhamento de provas por parte da Justiça para que nas oitivas já possam ser abordados todos os pontos fundamentais para o esclarecimento dos fatos investigados. Diversos questionamentos da defesa, respeitando o devido processo legal, foram superados e a data do depoimento em videoconferência já foi liberada no cronograma da Seap".

Demetrio Afonso Alves está preso, desde 30 junho do ano passado, acusado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro ou ocultação de bens e concussão — quando o agente público se utiliza do seu cargo para exigir, para si ou para outra pessoa, algum tipo de vantagem indevida. Ele estava à frente da DRCPIM desde 2018 e, dias antes de ser preso na Operação Carta do Corso do Gaeco, a Secretaria de Polícia Civil o transferiu para a Delegacia do Consumidor (Decon).