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Por Sandra Cohen

Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'


Cúpula pela Democracia: encontro virtual organizado pelos EUA começa nesta quarta

Cúpula pela Democracia: encontro virtual organizado pelos EUA começa nesta quarta

O presidente Joe Biden convidou um grupo diversificado de 110 países para um encontro de cúpula sobre democracia, que se realiza virtualmente em dois dias, a partir desta quinta-feira (9). Deixou China, Rússia e Arábia Saudita de fora, mas incluiu na lista eclética de participantes nações que pecam por violar os direitos humanos ou por praticar a autocracia.

Paquistão, Filipinas e Ucrânia, por exemplo, acumulam denúncias de assassinatos extrajudiciais por esquadrões da morte ou corrupção endêmica, mas são parceiros importantes dos EUA em frentes como o contraterrorismo ou na tentativa de neutralizar as influências regionais de China e Rússia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sorri no gramado da Casa Branca, no domingo (21) — Foto: Reuters/Joshua Roberts

Os critérios para a inclusão no grupo de alguns países que debaterão a defesa contra o autoritarismo, o combate à corrupção e o respeito pelos direitos são, portanto, obscuros e atendem a interesses estratégicos do governo americano. A lista contém integrantes que, na avaliação da ONG Freedom House, são classificados como “não livres” — República do Congo, Iraque e Angola, entre eles – em sua pontuação de liberdade.

Embora aliados da Otan, Hungria e Turquia foram excluídos por motivos óbvios. Os governos de Viktor Orbán e Recep Tayyip Erdogan vêm patrocinando, nos últimos anos, expurgos e ataques às instituições do Estado.

Único membro da União Europeia a ficar de fora da lista de convidados, a Hungria protestou, bloqueando a participação conjunta do bloco na reunião como 111º participante. Invocou a regra de unanimidade dos tratados da UE sobre política externa.

Já a Polônia, comandada pelo populista Andrzej Duda, estará no fórum, a despeito de ser multada diariamente pela própria UE em 1 milhão de euros por violar regras comunitárias sobre independência judiciária. Mas o governo americano entendeu que deveria solidarizar-se com o país pelas investidas protagonizadas por Belarus, com apoio da Rússia, em suas fronteiras.

Em relação à América Latina, Biden surpreendeu alguns observadores incluindo o Brasil, cujo governo vem ensaiando arroubos pouco democráticos e manteve laços próximos ao ex-presidente Donald Trump. Sob a ótica dos EUA, as exclusões no continente exprimiram coerência: Venezuela, Cuba, Nicarágua, Guatemala, Haiti, Honduras, El Salvador e Bolívia.

Os EUA enfureceram a China, inserindo Taiwan no encontro, numa tentativa de reforçar o compromisso de ajudar o território a se defender de uma possível invasão. Assim que a Casa Branca anunciou o encontro mundial, a China empreendeu uma campanha para desacreditar a democracia americana.

Vale lembrar que o principal desafio de Biden, ao patrocinar o maior encontro de cúpula de seu governo, revela-se dentro de suas próprias fronteiras, onde o conceito de democracia parece extremamente vulnerável. E os EUA precisam, mais do que nunca, capitalizar e restaurar a influência no cenário mundial.

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