Verão 2022

Por Eric Luis Carvalho, g1 BA


Marco da galhofa na música baiana, Samba da Piroca levou ousadia às ruas da BA — Foto: Fundação Gregório de Matos

A história da música brasileira é repleta de canções com referência de duplo sentido e trocadilhos. Na cultura baiana, o deboche típico das canções populares tem nome: a galhofa. E um dos exemplares desse estilo é um samba que em 2021 completa 100 anos: 'Sai, Piroca' (Sae, Piroca), do compositor Astério Menezes.

Na Bahia, a galhofa é praticamente elemento obrigatório. Assis Valente, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo, É O Tchan, Harmonia do Samba e Léo Santana. Em todos eles é possível achar desde pitadas até recheios completos de duplo sentido.

A letra do 'samba da Piroca' fez sucesso no carnaval de 1921 e faz referência direta ao pênis. A canção conta com um diálogo entre dois personagens: “sai piroca, sai piroca. Sai, não faça azar. Piroca, sai. Vou namorar”. Enquanto o verso de resposta dizia: “já começa a me bulir. Você mesmo é bulidor. Por favor, seu Piroca está perto. Não me fale em amor. Seu Piroca não quer isto. Você mesmo é bulidor”.

Marco da galhofa na música baiana, Samba da Piroca levou ousadia às ruas da BA — Foto: Fundação Gregório de Matos

O publicitário e escritor Nelson Cadena escreveu sobre o samba carnavalesco composto por Astério. Segundo o escritor, a canção foi feita para ser cantada pelo cordão “Raparigas em Folia”, uma espécie de bloco, que de acordo com o escritor, provavelmente era um grupo de homens vestidos de mulher.

Ainda segundo Cadena, essa e outras composições do mesmo tipo nunca foram gravadas. Elas foram feitas especificamente para o carnaval. Partituras originais da música estão no acervo da Fundação Gregório de Mattos, da prefeitura de Salvador.

Uma coincidência infeliz entre o centenário de “Sai, piroca” e o seu centenário é o contexto mundial de saúde pública. Na ocasião, em 1921, o Brasil ainda vivia o rescaldo de um mundo pós gripe espanhola. A maior pandemia do século 20 matou, dois anos antes, segundo historiadores, 50 milhões de pessoas pelo mundo. Estima-se que, em poucos meses, cerca de 35 mil vítimas morreram no Brasil.

Deboche nas ruas

“Sai, piroca” não se manteve como um sucesso ao longo da história carnavalesca da Bahia, mas ganhou substitutas que entravam na galhofa com uso do duplo sentido.

Nos fricotes de Luiz Caldas e Paulinho Camafeu, nas seguradas de 'tchan' de Beto Jamaica e Compadre Washington, nas raladas de Zé Paulo e nos rebolados de Xandy e Márcio Victor, o deboche e o duplo sentido típico da Bahia seguiram pedindo licença para colocar o bloco da ousadia nas ruas.

Léo Santana é um dos nomes da música que anima e faz galhofa nas ruas de Salvador — Foto: Henrique Mendes/G1 BA

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