Por Fabiano Rodrigues, g1 Triângulo e Alto Paranaíba — Uberlândia


Noiva com deficiência degenerativa se veste na entrada do casamento em Uberlândia

Noiva com deficiência degenerativa se veste na entrada do casamento em Uberlândia

O corpo que dentro da piscina não conhece limite e já conquistou medalhas e quebrou recordes, fora da água sonhava em vencer um grande desafio: conseguir andar a caminho do altar.

Laila Suzigan Abate, atleta de alto rendimento de 21 anos, tem uma deficiência degenerativa rara, a paraparesia espástica hereditária. A cada dia ela perde as forças das pernas e fica mais difícil de andar.

Mas no último sábado (27) ela surpreendeu a todos os convidados do casamento ao realizar o que tanto sonhava, e de uma forma mais desafiadora ainda, caminhando com uma cauda de quase 3 metros do vestido de noiva.

Laila Suzigan Abate — Foto: Arquivo Pessoal

Para isso ser possível, parte do vestido da noiva foi colocado à beira do altar, há poucos metros do noivo (veja vídeo acima). A surpresa foi geral, já que poucos parentes sabiam que Laila ia caminhar até o altar.

“Já era minha coluna, não pretendo fazer isso mais não, porém valeu a pena a dor!”, disse ela na publicação do vídeo em uma rede social.

Para contar essa história inspiradora, o g1 conversou com a paratleta que representa o Praia Clube em competições e também com Maísa Pires, a estilista que teve a ideia e apoiou a noiva até a hora do sim.

Laila e o agora esposo, Luiz Matheus — Foto: Reprodução/Rede Social

O plano de se vestir no altar

Laila contou que o sonho dela sempre foi casar e queria muito ir andando até o encontro do noivo. Mas o esforço apenas para ela caminhar já é grande, imagina então andar sem forças nas pernas e com um vestido pesado?

“Uso a cadeira de rodas desde 2016, porém eu não tinha tanta dependência dela. Hoje eu dependo 100% da cadeira para me locomover longas distâncias, principalmente no dia a dia”, contou.

A preparação do vestido teve início há cerca de 2 anos, segundo Maísa Pires, estilista que desenhou, preparou e acompanhou todo o desenvolvimento do tão sonhado vestido de noiva com cauda, desejado por Laila.

“Quando fiz a primeira prova eu vi que ela não tinha condições de entrar andando do modo tradicional, porque a anágua tem muito tule, é muito pesada. Aí eu comecei a planejar e fiz um vestido curto para ela ficar e montei uma saia de retirada, além de trabalhar com tecidos leves. Fiz para ela uma cauda imensa de 2,70 m com muito movimento, com tule, rendas, e usei uma pedraria mais leves”, disse.

Laila e amigas juntas do vestido feito especialmente para ela, pela estilista Maísa Pires, de Uberlândia — Foto: Arquivo Pessoal

Na segunda prova do vestido, Maísa concluiu que seria impossível para Laila andar com a anágua - que é uma peça usada embaixo do vestido para dar volume e melhor caimento à roupa. Foi então que a ideia de vestir a noiva à beira do altar nasceu.

“Eu disse para ela: Laila, diante do teu sonho só tem um jeito de você entrar andando, eu vou para o seu casamento te vestir no altar".

Maísa ainda contou que Laila a olhou assustada. A estilista então propôs um ensaio com quem a levaria até o noivo.

O ensaio ocorreu na semana do casamento com a presença do padrasto Paulo e do avô Francisco. Por isso, a surpresa na hora do casamento foi de todo o público, além do noivo Luiz Matheus. Fora a dupla que a levou até o altar, apenas a mãe a e avó de Laila sabiam do que estava sendo planejado.

“Eu fiquei muito tranquila [no dia do casamento]! Como a Maísa foi no evento, ela conseguiu me passar uma tranquilidade e eu entreguei demais esse momento nas mãos de Deus. Passei o dia todo tranquila e entrei radiante de tão feliz”, relembrou Laila.

O casamento

Laila realizando o sonho de caminhar até o altar — Foto: Arquivo Pessoal

Para a maioria dos convidados, Laila entraria na cadeira de rodas, com vestido curto e um buquê no colo. Mas a surpresa veio logo no momento em que a cadeira foi posicionada no início do corredor que terminava no altar.

Um lençol branco cobriu a visão dos convidados e, claro, também a do noivo, e foi aí que a ‘mágica’ aconteceu: a saia foi colocada na noiva e a cauda de quase 3 metros estendida. O ritual da vestimenta tão esperada pela noiva tinha sido concluído com sucesso e ela estava pronta para andar até o altar da forma que tinha sonhado.

Laila a caminho do altar sendo levada pelo avô e o padrasto — Foto: Arquivo Pessoal

Maísa Pires explicou que a anágua ficou anexa ao vestido e foi feita sem tule. Além disso, foi colocado um bambolê interno para nada encostar nas pernas de Laila e atrapalhar os movimentos.

Laila chegando ao altar e o noivo Luiz Matheus emocionado — Foto: Arquivo Pessoal

“Ela tremia tanto, que eu pensei que ela não fosse conseguir, eu disse: Vai princesa, agora é o seu momento, e ela foi. Quando chegou lá na frente, eu agachei e entrei debaixo do vestido, coloquei a anágua para baixo, tirei a cauda para fora da cadeira e ela ficou sentada com a cauda exposta. Foi incrível, eu chorei muito”, lembrou.

“Eu evito bastante caminhar, em algumas situações eu fico em pé e dou alguns passos, nada mais do que uns 6, mas caminhar aquela distância exigiu demais de mim, minha deficiência vem progredindo e isso afeta demais no esforço que eu faço para andar e ficar em pé. Porém valeu a pena a dor”, finalizou Laila.

Laila na Paralimpíada de Tóquio, quando conquisto medalha de bronze no revezamento 4x50 livre — Foto: Arquivo Pessoal

Laila foi 7 vezes medalhista no Parapanamericano de Lima, em 2019; em duas competições foi campeã. — Foto: Arquivo Pessoal

VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!