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Ibaneis Rocha vai disputar a reeleição com cofres cheios e oposição nanica

O governador de Brasília é capaz de atravessar todo o espectro político sem ser detectado. No âmbito local, porém, é um fenômeno

Por Rafael Moraes Moura 27 nov 2021, 08h00

No radar nacional, Ibaneis Rocha (MDB), o governador de Brasília, é capaz de atravessar todo o espectro político sem ser detectado. No âmbito local, porém, é um fenômeno. Há quatro anos, quando decidiu se candidatar pela primeira vez a um mandato eleitoral, Ibaneis era um ilustre desconhecido. Ele até teve seus cinco minutos de notoriedade, em 2014, quando, na condição de presidente da OAB-­DF, tentou impedir o pedido de registro profissional de Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal que acabara de se aposentar — num gesto tosco de retaliação contra o magistrado, que não permitiu que o julgamento do mensalão fosse atrapalhado por chicanas de advogados. Quatro anos depois, por ironia, Ibaneis acabou beneficiado justamente pela onda de combate à corrupção que sucedeu ao mensalão. As investigações fulminaram as principais lideranças políticas da capital, o que deixou o caminho aberto para que o emedebista quase anônimo se elegesse sem grandes dificuldades, enredo que, aparentemente, vai se repetir no ano que vem.

De todos os 27 governadores, Ibaneis talvez seja o que começa a caminhada rumo à reeleição em situação mais confortável. As pesquisas mostram que o governo é bem avaliado pela maioria da população, com 52% de aprovação entre os eleitores do DF. Há várias explicações para esses bons índices, mas a principal delas é a velha e infalível combinação de dinheiro em caixa com obras. Longe de qualquer crise, o governo dispõe de um orçamento de 5 bilhões de reais apenas para investimentos em 2022. Parte dessa verba foi arrecadada com a venda da estatal de energia elétrica e com a privatização do Estádio Mané Garrincha, o monumento ao desperdício construído para a Copa do Mundo que custou aos cofres públicos mais de 1,8 bilhão de reais. O plano de Ibaneis é aplicar esses recursos em mais de 2 000 obras visíveis, incluindo viadutos, túneis, calçadas, pavimentação de rodovias, praças, parques e quadras esportivas, solidificando ainda mais seu projeto de reeleição.

BOLSO CHEIO - Mané Garrincha: o símbolo da corrupção foi privatizado -
BOLSO CHEIO – Mané Garrincha: o símbolo da corrupção foi privatizado – (Pedro Vilela/Getty Images)

“O brasiliense valoriza muito o realizador de obras, em analogia à própria construção da cidade. E o governador tem conseguido incorporar bem esse personagem”, diz o consultor político Hélio Doyle. Há um outro fator que faz de Ibaneis um personagem ímpar no pleito do ano que vem: ele pode disputar a reeleição sem ter um adversário real. Os caciques locais foram todos dizimados por escândalos de corrupção (veja no quadro). E as novas lideranças não parecem muito dispostas a enfrentar uma disputa sem muita chance de sucesso. Em Brasília, o PT, por exemplo, sempre teve uma base fiel de eleitores que garantia ao candidato do partido a perspectiva de, no mínimo, alcançar o segundo turno. Mensalão, petrolão e escândalos locais envolvendo petistas fragilizaram a legenda a tal ponto que os pré-candidatos do PT ao governo distrital amargam índices que variam de 0% a 6% das intenções de voto, dependendo do nome escolhido.

Ibaneis também revelou certas habilidades. É interessante a qualquer governador manter relações amistosas com a União. Isso facilita a obtenção de verbas para grandes e pequenas obras. No caso do Distrito Federal, essa convivência pode ser decisiva para o futuro político do mandatário. Eleito por um partido que se anuncia como oposição a Jair Bolsonaro, Ibaneis sempre se disse “um apoiador do governo”. Um de seus aliados define esse comportamento como um “bolsonarismo de conveniência”. A proximidade já permitiu, entre outras gentilezas, que dois aliados do governador fossem nomeados ministros — Flávia Arruda, chefe da Secretaria de Governo, e Anderson Torres, que comanda a pasta da Justiça. O que não existe ainda é a certeza de que essa aliança tática vai se manter até outubro do ano que vem.

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arte DF

Afinal de contas, numa inversão do que acontece na maioria dos estados, não é o presidente que dará as cartas no palanque do Distrito Federal. A dinâmica nesta eleição será, sem dúvida, comandada de baixo para cima. “Eu gosto do presidente Bolsonaro. Gosto do jeito que ele administra. Algumas coisas eu não concordo, como algumas falas mais negacionistas, sobre vacina ou as atitudes dele na pandemia. Mas ele é bom”, disse o governador a VEJA. Pelo menos no discurso, Ibaneis está 100% aberto ao ex-capitão e faz questão de lembrar que, não por coincidência, os partidos que dão sustentação ao governo federal são os mesmos que o apoiam. Com muito dinheiro em caixa e, por enquanto, sem sinais de oposição, ele vai entrar 2022 como o maior favorito à reeleição no Brasil. A não ser, é claro, que, assim como outros próceres de Brasília, seja fulminado por algum escândalo de corrupção.

Publicado em VEJA de 1 de dezembro de 2021, edição nº 2766

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