Sexualidade

Por Mariana Garcia, g1


Exemplos de dispositivos usados para a prática da chuca, ou enema. Mercado tem modelos descartáveis (mais recomendados) e os reutilizáveis. — Foto: Divulgação

Quando o assunto é sexo anal, a preocupação com a higiene aumenta. É nessa hora que entra em ação a “chuca”, nome popular para a limpeza interna do ânus e do reto. Muitas pessoas adotam essa higienização para não passar por situações constrangedoras durante a relação sexual.

A chuca, também conhecida como "ducha higiênica" ou enema, é a lavagem com a introdução de pequena quantidade de água dentro do reto e do ânus. Um dos objetivos é evitar que fezes saiam durante a relação. Para realizar o procedimento, são usados cerca de 150 ml de água. Entretanto, a prática é vista com ressalvas em determinados aspectos.

(SAÚDE SEXUAL: esta reportagem integra série do g1 Sexualidade sobre o papel do sexo no bem estar e na saúde; leia as já publicadas sobre ejaculação precoce, orgasmo feminino, beijo grego e mais.)

Abaixo, em tópicos, especialistas ouvidos pelo g1 explicam se a chuca é realmente necessária, quais os riscos para a saúde e o que não deve ser feito:

  1. O que é a chuca?
  2. Quais os riscos para a saúde?
  3. Fazer a chuca é realmente necessário?
  4. Existe uma frequência ideal?
  5. Como fazer de maneira segura?

1 - O que é a chuca?

A "chuca" (ou "fazer a chuca") é uma técnica de limpeza do ânus e do reto. Antes do sexo anal, muitas pessoas "fazem a chuca" com o objetivo de evitar que as fezes saiam durante a relação. Essa lavagem (também conhecida como enema) pode ser feita antes de alguns procedimentos proctológicos.

"Fazemos a lavagem para alguns procedimentos, com o material adequado. O grande problema da chuca é que as pessoas usam o que tem na mão e às vezes até compartilham o material, o que não é indicado", explica Luciana Marzan, membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

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2 - Quais os riscos para a saúde?

Como alertado acima, um dos problemas da chuca é o compartilhamento do material, que pode provocar contaminação. Além disso, ela pode atrapalhar o funcionamento do intestino e da flora intestinal, se for feita de maneira inadequada.

"Você pode lesar a mucosa do reto, ter sangramento, passar infecção. Quando você começa a fazer isso [a chuca] muito repetidamente, você pode alterar o equilíbrio que existe da própria flora intestinal e isso vai acarretando outros problemas", orienta Luciana.

Escolher o material certo para a limpeza também é importante. Alguns métodos não são apropriados para a técnica e podem causar lesões.

"Tem gente que usa garrafa pet para fazer a lavagem, gente que usa utensílios pontiagudos que podem lesar a mucosa retal. Pessoas também introduzem a ducha higiênica no ânus, e isso pode causar lesões, sangramentos. Fazer uma lavagem eventualmente não vai ter problema se você tiver feito de forma adequada", alerta a proctologista.

Para evitar desconfortos:

3 - Fazer a chuca é realmente necessário?

A proctologista diz que não é necessário ou obrigatório fazer a chuca antes da prática sexual. Isso acaba sendo muito pessoal. Uma dica para quem quer fazer é conhecer o próprio corpo e os hábitos intestinais.

Existem pessoas que vão ao banheiro uma vez por dia. Outras evacuam até três vezes por dia. Também tem gente que vai a cada três dias, por exemplo. Sabendo como o seu corpo funciona, é possível se programar.

"Se a pessoa foi ao banheiro e fez cocô, a princípio ela não tem nada no reto. Então, ela não precisaria fazer uma lavagem. Ela evacuou e não tem nada ali antes do sexo anal", diz Luciana.

4 - Existe uma frequência ideal?

Não existe uma regra, mas fazer repetidamente pode afetar a flora intestinal, como já explicamos. O ideal é se programar e entender que, após ir ao banheiro, a área está limpa.

"Não é todo dia que fazemos sexo anal, mas caso você faça, não é ideal fazer a chuca antes de cada relação. Você pode alterar a flora, a mucosa, pode ressecar a área e ter muitos problemas", explica Luciana.

A especialista dá uma dica para quem não quer fazer todos os dias: além de conhecer seus hábitos intestinais, faça uma dieta que não estimule seu intestino a funcionar muito no dia da relação.

"Existem alimentos que provocam gases. Então foque numa dieta para regularizar o intestino. E lembre-se: se você fez cocô, você não tem fezes. Existe um tempo para elas chegarem até a parte debaixo".

5 - Como fazer de maneira segura?

A primeira orientação é: não compartilhe equipamentos e sempre tome cuidado para não machucar a mucosa da região anal. Você também não pode usar muita água. "Se você usar um volume grande de água, você não vai lavar só a região do reto, mas às vezes pode mobilizar fezes que estão mais em cima".

Segundo Luciana, para fazer a chuca são necessários 150 ml. Isso é o suficiente para limpar e fazer a evacuação. "Vamos imaginar que o reto tem em torno de 15 centímetros. Você não precisa lavar mais pra cima, você precisa lavar apenas a região. O reto acomoda as fezes. Caso você não evacue, as fezes voltam para cima. Teoricamente, ele está sempre vazio."

Entre os materiais, os mais indicados são as duchas higiênicas, que são vendidas em farmácias. Existem as descartáveis (o ideal) e reutilizáveis (que não devem ser compartilhadas). "Também temos nas farmácias uma solução específica para a lavagem do reto. É o que usamos para fazer exames", diz a especialista.

Se no primeiro jato a água sair limpa, você deve parar. Se não, repita o procedimento no máximo duas ou três vezes.

Nunca use garrafa pet para fazer essa lavagem ou objetos pontiagudos, que podem ferir a região. Também não use laxantes e supositórios de glicerina.

Sobre a ducha do chuveiro, Luciana faz ponderações.

"Você deve usar a ducha para a limpeza externa. Se você introduzir o chuveirinho, você pode se machucar. Além disso, você vai conseguir controlar a pressão da água? Vai controlar a quantidade de água? Talvez você coloque mais líquido do que o indicado e ele vai subir. Essas fezes que estavam no intestino vão descer a situação pode ser pior."

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