Por Nicolás Satriano, g1 Rio — Rio de Janeiro


Começa o julgamento dos filhos de Flordelis

Começa o julgamento dos filhos de Flordelis

Roberta dos Santos, filha registrada de Flordelis, foi a quinta pessoa a depor no julgamento de Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza, dois filhos da ex-deputada federal, presos por suspeita de envolvimento na morte do pai, Anderson do Carmo, nesta terça-feira (23). Segundo ela, Flávio, um dos dois filhos julgados nesta terça, é uma "pessoa ruim".

Roberta contou que o "irmão" mais velho castigava os mais novos de forma rígida, às vezes os obrigando a ajoelhar em grãos de milho, virados para a parede.

A filha registrada de Flordelis, mas que fora criada por outros irmãos mais velhos, também contou ter presenciado uma surra dada por Flávio em um irmão surdo-mudo.

Lucas Cézar dos Santos de Souza e Flávio dos Santos Rodrigues, filhos de Anderson, durante o julgamento em que são acusados da morte do pai. — Foto: Nicolás Sartriano

"Ele socava o estômago do Lucas", relatou Roberta.

O Lucas mencionado por ela não é o mesmo que também é julgado nesta terça. A sessão de espancamento, segundo Roberta, foi interrompida por outro irmão, André, que em seguida teria tido uma tesoura cravada nas costas por Flávio.

Além de Roberta, também foram ouvidos Misael, filho de Flordelis que acredita que a mãe é responsável pela morte de Anderson, Luana Rangel, casada com Ismael e mais dois delegados responsáveis pelo caso.

Regiane Ramos, testemunha de defesa e ex-patroa de Lucas César dos Santos, também foi ouvida essa nesta terça-feira.

Filhos de Flordelis pediram que réus deixassem plenário

Roberta dos santos e Mizael pediram à juíza que os irmãos réus saíssem do plenário durante o depoimento, o que foi atendido.

Mizael disse que Flávio dos Santos confessou pra ele ter matado o pastor.

Anderson defendia Flordelis

A nora de Flordelis, Luana Rangel Pimenta, afirmou durante julgamento na tarde desta terça-feira (23) que o pastor Anderson Gomes era o "maior defensor" da ex-deputada e que, por isso, não foi possível avisar ao sogro que ele estava sendo envenenado.

Mas antes do assassinato com arma de fogo, Anderson já tinha passado mal em várias ocasiões, o que era associado por ele a uma crise de gastrite. Entretanto, para a polícia e familiares mais ligados ao pastor, na verdade ele estava sendo envenenado com arsênio – também a mando de Flordelis.

Luana é casada com o pastor e ex-vereador de São Gonçalo Misael, filho de Flordelis. O nome de Misael foi dado por Flordelis. Na verdade, o homem se chama Wagner Andrade Pimenta.

Também ao depor, Luana revelou que ela e o marido tinham medo de Flordelis, principalmente após a morte do pastor Anderson.

A mulher relatou vários episódios em que ouvia de pessoas próximas à ex-parlamentar e até da própria Flordelis queixas sobre Anderson.

Numa das situações, Flordelis teria relatado à nora que não gostaria de se separar do marido porque não poderia "envergonhar a obra de Deus".

Segundo Luana, os atritos entre Flordelis e Anderson pioraram depois que ela foi eleita deputada federal. Não seriam brigas, disse a nora, mas "desgastes".

A mulher também contou ter testemunhado um "desabafo" de uma das filhas de Flordelis logo após a eleição. Luana disse ter ouvido em Brasília que, depois de eleita, uma das filhas teria dito que elas não precisariam mais "dele". Para a nora da ex-deputada, era uma referência ao pastor Anderson.

Nesta terça-feira, até o início da noite, 5 pessoas já haviam sido ouvidas, entre elas dois filhos de Flordelis, Misael e Roberta.

Delegados do caso são ouvidos no primeiro dia de julgamento

A delegada Barbara Lomba foi a primeira a ser ouvida durante o julgamento de Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza, dois filhos da ex-deputada federal Flordelis, presos por suspeita de envolvimento na morte do pai, Anderson do Carmo, nesta terça-feira (23). Lomba afirmou que a ex-deputada federal foi a responsável por elaborar uma carta que responsabilizaria outros filhos pelo assassinato do pastor.

Flávio teria recebido a carta da esposa de outro detento, um ex-PM condenado a mais de 200 anos de prisão por ter participado da chacina da Baixada Fluminense.

O conteúdo da carta, disse a delegada, não esclarecia nada do crime, apenas tentava culpar outras pessoas da família de encomendar a morte do pastor.

A segunda pessoa a depor foi o também delegado e ex-titular da DHNSG Allan Duarte, que assumiu a investigação, e chamou o grupo de pessoas que morava na casa de Flordelis de "organização criminosa familiar".

Segundo ele, Flordelis diferenciava os filhos afetivos dos biológicos, dando preferência e privilégios àqueles que não eram adotados.

O delegado explicou que o pastor Anderson, nesse sentido, era o "fiel da balança", funcionando como um agente que equilibrava essa dinâmica.

Mesmo assim, segundo o policial, Flordelis mantinha uma geladeira dentro do próprio quarto, exclusiva para uso de algumas pessoas. Na geladeira da cozinha, a qual os filhos afetivos tinham acesso, geralmente só tinha água e salsicha.

Disse ele que duas pessoas muito próximas da ex-deputada pesquisaram termos no Google para saber como seria possível matar alguém com arsênio.

O delegado acrescentou que Anderson, antes de ser assassinado a tiros, tinha passado mal várias vezes, provavelmente por ingerir líquidos envenenados. Isso ficou comprovado em duas perícias, segundo Duarte.

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