Começam a valer novos reajustes da gasolina e do diesel determinados pela Petrobras
O aumento no preço do combustível afetou significativamente a vida dos motoristas na cidade de São Paulo. Novo reajuste anunciado pela Petrobras passou a valer nesta terça-feira (26) – veja mais no vídeo acima.
O preço médio da gasolina nos postos do país subiu 0,6% na última semana, chegando a R$ 6,36 o litro, de acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor máximo foi de R$ 7,46. Essa foi a quarta semana consecutiva de alta.
Em setembro, depois de pagar R$ 6 no litro da gasolina, a assistente jurídica, que não quis se identificar, de 24 anos, decidiu vender o carro e comprar uma moto.
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“A ‘comida do carro' [gasolina] está mais cara que a comida de gente. Não tem como sustentar”, pontuou ela.
Além do deslocamento para o trabalho, a jovem utilizava o carro, principalmente, para visitar a família em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. “Eram R$ 108 a cada visita”, contou.
A troca das quatro pelas duas rodas proporcionou uma economia média de R$ 400 mensais. “O que, antes, eram R$ 500, não passam de R$ 100 agora, mas perdi muito em conforto”, ponderou.
Segundo ela, houve "piora na qualidade de vida", aumento das "dificuldades de locomoção" e, sem dúvidas, a clara noção de que não posso mais dar conforto para mim e minha família".
Trânsito intenso na Radial Leste, altura do Metrô Tatuapé, em São Paulo. — Foto: OTHON DIEGO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
O número de motoristas que citam o preço do combustível como motivo para terem diminuído o uso do carro no último ano aumentou de 4% para 35% na cidade de São Paulo.
O dado foi revelado pela pesquisa Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana, da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria).
Morador de Cotia, o comerciante Elio Luna, de 46 anos, reduziu em dois terços o uso do carro em razão do valor do combustível.
Ele utilizava o automóvel todos os dias para ir trabalhar no Centro de Osasco. Hoje, são apenas dois dias na semana. No sábado, porque o expediente começa mais cedo. Na quinta-feira, porque vai “jogar uma bolinha” depois do serviço. “Também sou filho de Deus, né?”, brincou.
Nos outros dias, Luna utiliza o transporte público. São dois trens e dois ônibus. O tempo do percurso - quase uma hora - não mudou muito, segundo ele, mas a comodidade não é a mesma.
A constante exposição ao novo coronavírus também preocupa o comerciante. “É um risco que todos que pegam transporte público correm. Umas pessoas são conscientes, usam máscara; outras, não têm consciência. Fazer o quê? No carro é mais conforto, mas tem que optar pelo mais barato, né?”.
“Semana passada, paguei R$ 5,87 na gasolina. Também coloquei álcool para dar uma misturada, uma equilibrada. Mais álcool que gasolina, se não, o bolso não aguenta”, disse.
O que faz os preços da gasolina e diesel subirem?
O motorista de aplicativo José Júnior sofre diretamente porque é motorista de aplicativo. “A gente colocava R$ 80, R$ 70. Hoje, eu estou colocando R$ 140 para trabalhar”, afirmou.
O frentista Carlos Rodrigues afirmou que já está há um ano e sete meses sem nenhum cliente pedir para encher o tanque no posto em que trabalha. “Desde o começo da pandemia. Porque o mercado está muito alto, o combustível muito alto. Tem que reservar aquele dinheirinho pra cada coisa, né?”.
Preço médio na cidade
Trajetória do preço da gasolina na capital paulista desde o início de 2021 — Foto: Reprodução/TV Globo
Na cidade de São Paulo, o preço médio da gasolina começou o ano custando R$ 4,36 em janeiro e chegou a outubro custando R$ 5,95, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O preço mínimo do combustível encontrado na cidade é de R$ 5,29 e o máximo já está em R$ 6,99, diz a agência.
Etanol também caro
E quem pensa que abastecer com etanol é uma alternativa para economizar, está enganado. O biocombustível rende cerca de 30% menos que a gasolina.
Então, precisa estar 30% mais barato para compensar para o motorista. No entanto, o combustível só ficou nessa faixa nos meses de janeiro, fevereiro e abril deste ano.
Tabela mostra os meses do ano em que abastecer com álcool ou gasolina valeu mais a pena. — Foto: Reprodução/TV Globo
Rafael Schiozer, professor de finanças na Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que o cenário político-econômico no Brasil aponta para mais aumentos.
“A inflação está alta - em parte por conta do aumento dos combustíveis. Os preços internacionais do petróleo são bem imprevisíveis, e a taxa de câmbio também. Quando a gente olha o que está acontecendo, do ponto de vista político e fiscal no Brasil, se o dólar cair, deve cair muito pouco”, explicou ele.
Aumento promovido pela Petrobras
A Petrobras reajustou mais uma vez os preços da gasolina e do diesel para as distribuidoras. Segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira (25) pela petroleira, os novos valores passam a vigorar a partir desta terça (26).
A alta já havia sido antecipada no domingo pelo presidente Jair Bolsonaro. Durante um evento em Brasília, ele afirmou que "infelizmente, pelos números do preço do petróleo lá fora e do dólar aqui dentro nos próximos dias, a partir de amanhã, infelizmente teremos reajuste do combustível".
Veja os novos preços da gasolina e do diesel para as distribuidoras
É o segundo reajuste no preço do combustível este mês. No último dia 9, a gasolina já havia subido 7,2%.
Já o litro do diesel A passará de R$ 3,06 para R$ 3,34 por litro, refletindo reajuste médio de R$ 0,28 por litro (alta de 9,15%). A última alta do combustível havia sido em 28 de setembro, de 8,89%.
Nos postos, o preço médio da gasolina ficou em R$ 6,36 o litro na semana passada, com o valor máximo chegando a R$ 7,46, de acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O óleo diesel, por sua vez, registrou preço médio de R$ 5,04 e máximo de R$ 6,42 o litro.
"Esses ajustes são importantes para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras", diz a estatal em nota.
Petróleo e dólar em patamares mais elevados
A explicação para o aumentos dos preços dos combustíveis está em vários fatores, mas, principalmente, no valor do petróleo e no câmbio.
O dólar e a cotação do petróleo vêm tendo mais influência sobre os preços de combustíveis no Brasil desde 2016, quando a Petrobras passou a praticar o Preço de Paridade Internacional (PPI), que se orienta pelas flutuações do mercado internacional.
Petrobras anuncia novos reajustes dos combustíveis nas refinarias a partir de amanhã (26/10)
Na semana passada, o preço do barril de petróleo Brent – referência internacional – fechou acima em US$ 85,53, perto das máximas desde o final de 2018. No começo do ano, o preço médio estava abaixo de US$ 65.
Já o dólar atingiu R$ 5,6282, acumulando alta de mais de 3% na semana.
Segundo a Petrobras, o alinhamento de preços ao mercado internacional "se mostra especialmente relevante no momento que vivenciamos, com a demanda atípica recebida pela Petrobras para o mês de novembro de 2021".
Parcela da Petrobras
Com os novos valores, a parcela da Petrobras no valor do litro de gasolina pago pelos consumidores nos postos passará a ser de R$ 2,33, em média. Já no caso do diesel, a parcela da estatal será de R$ 3,34.
* Com supervisão de Cíntia Acayaba