Crise da água

Por Jéssica Sant'Ana, g1 — Brasília


O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou nesta sexta-feira (22) que não identificou benefícios relevantes em um eventual retorno do horário de verão. O mecanismo de adiantar uma hora nos relógios para aproveitar os dias mais longos foi extinto pelo próprio governo Bolsonaro em 2019.

A conclusão faz parte de um estudo realizado pelo ONS a pedido do Ministério de Minas e Energia (MME). A pasta solicitou a avaliação de "eventuais benefícios da aplicação do horário de verão", diante da "atual conjuntura de escassez hídrica".

Em nota divulgada após o estudo vir a público (íntegra abaixo), o MME informou que não vai retomar o horário de verão.

"Desta forma, considerando análises técnicas devidamente fundamentadas, o MME entende não haver benefício na aplicação do horário de verão e que as medidas tomadas pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG) têm se mostrado suficientes para garantir o fornecimento de energia elétrica ao SIN na transição do período seco para o período úmido", diz o texto.

O estudo do ONS

Segundo o estudo do ONS, o retorno do horário de verão não traria economia de energia, já que a redução do consumo no início da noite acaba sendo anulada pelo aumento do consumo em outros períodos do dia.

"A elevação da temperatura a partir de setembro acarreta o aumento do consumo de energia devido ao uso de aparelhos de refrigeração nas madrugadas até o início da manhã, durante às tardes e nos horários ampliados do comércio", diz o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, em ofício enviado ao MME.

Relembre abaixo o pedido feito pelo ministério ao Operador Nacional do Sistema:

Governo pede estudo sobre o retorno do horário de verão

Governo pede estudo sobre o retorno do horário de verão

Além disso, diz o operador, o retorno do programa não traria benefícios para redução do consumo no período de pico de demanda, que é no período da tarde.

"Portanto, a implantação do Horário de Verão reduz a demanda máxima no horário de ponta noturna, das 18h às 21h, mas não tem efeito sobre a demanda máxima do dia que ocorre tipicamente no período da tarde nos meses de outubro a março", explica Ciocchi.

Segundo o diretor-geral, a vantagem da adoção do horário de verão estaria restrita à redução do uso da reserva operativa de energia no horário noturno em novembro. O uso da reserva de energia é cogitado para novembro, caso não haja oferta adicional de energia.

"Sendo assim, os ganhos em termos de benefícios relevantes para o Sistema Interligado Nacional (SIN) são reduzidos", diz o ONS em nota.

"Porém, caberá ao Governo Federal definir se aplicará ou não a medida, considerando impactos em outros setores da economia, além da energia", pontua.

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Ministro já negou retorno

Apesar de ter solicitado o estudo, o Ministério de Minas e Energia sempre classificou como "limitada" a contribuição do horário de verão.

"Neste sentido, a contribuição do horário de verão é limitada, tendo em vista que, nos últimos anos, houve mudanças no hábito de consumo de energia da população, deslocando o maior consumo diário de energia para o período diurno. Assim, no momento, o MME não identificou que a aplicação do horário de verão traga benefícios para redução da demanda", disse o ministério em nota enviada ao g1 em setembro.

No fim de setembro, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, descartou a volta do horário de verão.

"O horário de verão não foi renovado em 2019 e permanece da forma como está", disse o ministro durante evento no Rio de Janeiro.

O estudo do ONS foi enviado em setembro ao ministério, mas só foi divulgado publicamente nesta sexta-feira.

Íntegra

Leia a íntegra da nota divulgada pelo Ministério de Minas e Energia nesta sexta:

Esclarecimentos sobre o horário de verão

O encerramento do horário de verão, por meio do Decreto nº 9.772/2019, teve por base estudos do Ministério de Minas e Energia (MME), com apoio do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). De forma inédita na instituição, o MME realizou em 2019 a Avaliação de Resultado Regulatório sobre os efeitos do ponto de vista do setor elétrico. Os estudos mostraram que a medida deixou de produzir os resultados esperados, perdendo a razão de ser aplicada.

Especificamente para o enfrentamento da atual conjuntura hidroenergética, o MME solicitou novos estudos sobre o horário de verão ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Segundo o Operador, não foi identificada economia significativa de energia, pois a redução observada no horário de maior consumo, ou seja, das 18h às 21h, é compensada pelo aumento da demanda em outros períodos do dia, especialmente no início da manhã. Além disso, pelas prospecções realizadas pelo ONS, não haveria impacto sobre o atendimento da potência, pois o horário de verão não afeta o consumo no período da tarde, quando se observa a maior demanda do dia.

Assim, o MME concluiu que a aplicação do horário de verão não produz resultados na redução do consumo nem na demanda máxima de energia elétrica ou na mitigação de riscos de déficit de potência.

Além disso, na avaliação mais recente das condições de atendimento eletroenergético do Sistema Interligado Nacional (SIN), realizada pelo ONS para este mês de outubro, verifica-se que o sistema se encontra com recursos energéticos suficientes para o adequado atendimento à potência.

Desta forma, considerando análises técnicas devidamente fundamentadas, o MME entende não haver benefício na aplicação do horário de verão e que as medidas tomadas pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG) têm se mostrado suficientes para garantir o fornecimento de energia elétrica ao SIN na transição do período seco para o período úmido.

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